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Ousado, autor contraria o público com ‘vilanização’ de Rosa

Garota de programa deixou de ser heroína e passou a mentir e enganar motivada pela ambição

13 ago 2018 - 11h38
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“Rosa murcha” é a maneira depreciativa com que a víbora Karola (Deborah Secco) se refere à inimiga interpretada por Letícia Colin. Para o telespectador de ‘Segundo Sol’, a Rosa honesta, ética e carismática realmente definhou. No lugar surgiu uma Rosa gananciosa, dissimulada e golpista. O autor João Emanuel Carneiro parece querer lembrar aos noveleiros que toda rosa tem espinhos capazes de ferir.

A personagem se corrompeu pelos 300 mil reais depositados sem sua conta por Karola. Seduzida pelo dinheiro, ela deixou de contar ao então namorado, Valentim (Danilo Mesquita), que ele foi roubado de sua verdadeira mãe, Luzia (Giovanna Antonelli). Preferiu romper o namoro para viver no luxo, ao invés de ser sincera com o rapaz.

Rosa foi de mocinha da novela a aprendiz de vilã
Rosa foi de mocinha da novela a aprendiz de vilã
Foto: João Miguel Jr. / TV Globo

Rosa foi além em seu surto de ambição: aceitou ser sócia de sua então algoz, Laureta (Adriana Esteves), e se tornou cúmplice do malandro Remy (Vladimir Brichta). A garota bem intencionada, que detestava mentira, se tornou uma mulher pautada pelo dinheiro e com sede de poder.

Logo mais, vai aplicar um corte definitivo em sua imagem de boa moça: grávida de Ícaro (Chay Suede), após uma noite de recaída, a jovem cafetina dirá que o filho é de Valentim, o herdeiro de Beto Falcão (Emílio Dantas). O velho golpe da barriga. E assim Rosa se consolida como personagem ambígua: a heroína às avessas, campeã de carisma na trama, virou uma aprendiz de vilã e perdeu o poder de encantamento.

O autor de ‘Segundo Sol’, João Emanuel Carneiro gosta desse tipo de transição de personalidade. Em ‘A Favorita’ (2008-2009), a sonsa Flora (Patrícia Pillar) se revelou uma assassina debochada. O protagonista de ‘A Regra do Jogo’ (2015-2016), Romero Rômulo (Alexandre Nero), também oscilava entre o bem e o mal.

O novelista mostrou-se corajoso ao ignorar a torcida gigantesca do público por Rosa e realizar a mudança prevista na sinopse. A nova versão da personagem desagrada boa parte dos telespectadores que a viam como a verdadeira mocinha do folhetim. A intenção de Carneiro é explícita: suscitar discussão a respeito de caráter, ética e corrupção. Rosa representa as pessoas que, diante da chance de ascender socialmente, descartam suas convicções morais. Resta saber se, no final da novela, ela vai se redimir – e se o público irá compreendê-la e perdoá-la.

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