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'Pantanal', o fenômeno que fez história na TV Manchete em 1990

Novela de Benedito Ruy Barbosa na extinta emissora ganha remake na Globo a partir desta segunda-feira, 28

28 mar 2022 - 12h10
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Em 17 de abril de 1990, a TV Manchete liderou os índices de audiência da TV brasileira, superando a Globo, que parecia imbatível nas noites de dia de semana, e outras concorrentes como SBT, Record e Bandeirantes. Tratava-se, também, da maior audiência da história do canal, que tinha menos de sete anos de existência, até então. A razão para o feito tinha nome: Pantanal.

A novela de Benedito Ruy Barbosa estreou em 27 de março daquele ano, e chegou ao fim 216 capítulos depois, em 11 de dezembro. Agora, é a vez de a Globo apostar na trama que lhe causou dores de cabeça há 32 anos, com a estreia do remake nesta segunda-feira, 28 ( para ler mais).

Um trecho da reportagem "A estrela selvagem que 'bate' na Globo', publicada em 21 de abril de 1990, no Estadão, resumia bem os motivos para o sucesso:

"A popularidade de Pantanal se apoia em um texto seguro, que resgata o gênero épico que a própria Globo explorou por muito tempo e abandonou, preferindo os tons suaves da comédia.

Todas as emoções típicas das telenovelas são tratadas de forma solene: amores difíceis, vingança, solidariedade e injustiça. Por outro lado, a saga pantaneira encontra uma direção requintada, cheia de planos abertos, estilo que a Manchete vem tentando há algum tempo e nas mãos do diretor Jayme Monjardim parece ter amadurecido.

Esses dois ingredientes se somam ao fato de Benedito Ruy Barbosa ter conseguido desenhar personagens com uma empatia fabulosa dentro de um universo pouco explorado na televisão, o ambiente rural".

Naquela ocasião, com menos de um mês de exibição, Pantanal já havia superado a Globo, que muito raramente perdia a liderança, em três dias diferentes. Nos outros, apresentava resultados bastante superiores ao do SBT.

"A audiência nos espantou. Achávamos que 15% já estava muito bom. O importante é que agora as pessoas sabem que existe uma boa novela também em outro canal. Não nos interessa concorrer diretamente com a Globo. Queremos ultrapassar o SBT, por enquanto", dizia o então diretor da Manchete, Jayme Monjardim, mostrando que a emissora buscava manter os pés no chão.

Cláudio Marzo e Jayme Monjardim nas gravações da novela 'Pantanal', em 1990
Cláudio Marzo e Jayme Monjardim nas gravações da novela 'Pantanal', em 1990
Foto: Globo/Divulgação / Estadão

E não era para menos. Cerca de uma década antes, durante a breve passagem de Benedito Ruy Barbosa pela Band, entre 1980 e 1981, o autor já havia conseguido 30 pontos de audiência em um capítulo da novela Imigrantes, porém, a trama não teve fôlego e acabou se perdendo pelo caminho.

Porém, a história seria diferente. O último capítulo de Pantanal foi simbólico: 41 pontos, diante de 21 da Globo no mesmo horário, praticamente o dobro.

Às vésperas do desfecho, Barbosa avaliava o resultado do sucesso com base nos personagens contraditórios, mas sem maniqueísmo: "Procurei fugir dos clichês e de todas aquelas variações sobre ascensão social. Pantanal é uma novela realista onde só se faz riqueza trabalhando duro."

Segundo a reportagem "Pantanal acaba e enche os cofres da Manchete", do Estadão, a novela teria rendido um lucro de cerca de 15 milhões de dólares à emissora, à época. Além do bom dinheiro, a produção também rendeu uma posição importante na história da teledramaturgia à emissora.

Por pouco, porém, a novela não ficou eternamente 'na gaveta'. Considerada de custos muito altos pela Globo, onde Benedito a criou pensando no horário das 6, Amor Pantaneiro (seu título provisório) foi descartada pela emissora carioca, mas tornou-se uma meta para seu autor.

Na Manchete, a base do elenco era formada por atores pouco conhecidos do público, salvo relevantes exceções, como Marcos Caruso, Jussara Freire, Cláudio Marzo e Antônio Petrin. "Todos se sujeitaram a trabalhar em condições sem qualquer conforto. Ficavam 10 atores no mesmo quarto, porque não tinha como dar uma suíte para cada um", relembrava Monjardim em entrevista ao livro Biografia da Televisão Brasileira - Volume 2.

Estadão
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