Por que duas jornalistas da Globo foram citadas em discurso da presidente do STF
Deferência de Rosa Weber repercutiu entre colegas de TV de Miriam Leitão e Eliane Cantanhêde
Na sessão de abertura do Ano Judiciário, a presidente do STF, ministra Rosa Weber, surpreendeu ao incluir entre os agradecimentos às autoridades presentes uma citação a Miriam Leitão e Eliane Cantanhêde.
Entre as dezenas de profissionais de imprensa no plenário, elas foram as únicas jornalistas a merecer atenção especial. Há diferentes motivos para a homenagem.
Veteranas do jornalismo político, Miriam e Eliane conquistaram a confiança de alguns ministros. Conseguem informações exclusivas diretamente de gabinetes da mais alta Corte do País.
Na TV, ambas fizeram a defesa enfática do STF nos momentos de maior hostilidade contra o Judiciário, inclusive na cobertura dos ataques promovidos por extremistas em 8 de janeiro.
Sabe-se que Miriam Leitão suscitou a solidariedade de Rosa Weber por ter sido um alvo frequente da verborragia desrespeitosa de Jair Bolsonaro e seus aliados da extrema-direita nos últimos quatro anos.
Recentemente, a jornalista – torturada na ditadura quando estava grávida – foi ofendida também pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.
“Essa senhora parece que tem um fetiche comigo, talvez porque eu não tenha atendido às matérias seletivas para ela e à família dela. Essa senhora foi cortada da seletividade que tinha na Operação Lava Jato. E, provavelmente, o jornal dela ganhou mais dinheiro do que com a novela das 8”, disse o chefe do Ministério Público Federal em entrevista ao site BNews.
Ao citar “família dela”, Aras se referiu aos filhos de Miriam, o repórter da TV Globo em Brasília Vladimir Netto e o colunista de ‘Veja’ Matheus Leitão. O jornal mencionado é ‘O Globo’, o principal veículo impresso da família Marinho.
A insinuação de ‘fetichismo’ feita pelo procurador-geral para atingir Miriam Leitão foi duramente criticada por âncoras e comentaristas de TV, não apenas da Globo e GloboNews, como de outros canais.
Horas após a sessão de segunda-feira (1) no STF, colegas da jornalista foram cortantes ao analisar a participação de Augusto Aras no plenário. “Ele recebeu aplausos desmilinguidos”, afirmou Eliane Cantanhêde no ‘Jornal das Dez’. “Houve um movimento coletivo de desprezo”, opinou Gerson Camarotti.
Mais tarde, na ‘Central GloboNews’, a turma comandada por Natuza Nery debochou de trecho do pronunciamento do procurador-geral, quando ele disse em tom poético: “... democracia, eu te amo, eu te amo, eu te amo”. Pelo que relataram no programa, houve deboche e constrangimento até entre ministros da Corte.
Terceira mulher a presidir o Supremo Tribunal Federal desde sua inauguração, em 1808, Rosa Weber parece ter usado a presença de Miriam Leitão e Eliane Cantanhêde no plenário reconstruído para defender a dignidade às mulheres e o respeito à imprensa.