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Por que 'Pantanal' se tornou antibolsonarista após agradar aos conservadores

Novela dispara contra garimpeiros, madeireiros, invasores de áreas indígenas e pecuária sem sustentabilidade enquanto defende os LGBTQIAP+

18 jul 2022 - 09h33
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Bolsonaro cercado por personagens progressistas: ‘Pantanal’ foi da direita à esquerda
Bolsonaro cercado por personagens progressistas: ‘Pantanal’ foi da direita à esquerda
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV

No capítulo 96, exibido no sábado, 16, Pantanal ganhou mais uma voz contra pautas defendidas por Jair Bolsonaro e uma parcela numerosa de seus apoiadores ligados à agropecuária.

A repórter Érica (Marcela Fetter) já chegou na fazenda de Zé Leôncio (Marcos Palmeira) discursando contra as queimadas feitas por fazendeiros e a exploração em terras indígenas.

Criticou ainda a contaminação de onças e peixes pelo mercúrio usado pelos garimpeiros, os benefícios fiscais aos garimpos e o envenenamento de animais e populações na região.

Sua defesa dos recursos naturais e dos povos nativos está em sintonia com as falas de outros personagens com preocupação socioambiental, como Jove (Jesuíta Barbosa) e Velho do Rio (Osmar Prado).

No dia 28 de junho, Pantanal exibiu uma sequência de 1 minuto com cenas reais de pastos em chamas, terras em cinzas, bichos carbonizados, outros animais em agonia e céu tomado por fumaça.

Inegavelmente, foi uma crítica à política ambiental do governo de Jair Bolsonaro e às pessoas que se sentem autorizadas por ele a desmatar, queimar, invadir, ‘grilar’ e garimpar, infringindo as leis. O capítulo gerou forte repercussão na imprensa e nas redes sociais.

O ativismo político de Pantanal aconteceu somente após a consolidação da audiência, quando já havia atraído público 30% maior do que a produção anterior das 21h, Um Lugar ao Sol.

Vista inicialmente como “novela sem lacração”, aumentou em 34% a presença de homens sintonizados em sua faixa horária. Muitos bolsonaristas que gritam “Globo lixo” passaram a assistir ao folhetim rural, ainda que sigilosamente.

Agora que o adaptador Bruno Luperi escancarou o posicionamento pró-sustentabilidade, há ruidosas reclamações nas redes sociais de quem vê a emissora usando Pantanal para atacar o ‘vale tudo’ defendido por Bolsonaro em relação à exploração comercial do meio ambiente.

Outro aspecto irrita os bolsonaristas e conservadores em geral: a defesa enfática dos LGBTQIAP+ na trama. A partir de comportamento homofóbico de peões em relação ao mordomo gay Zaqueu (Silvero Pereira), a novela hasteou a bandeira pró-diversidade.

A personagem Mariana (Selma Egrei) virou porta-voz da causa. Por meio de conversas com o ex-genro, Zé Leôncio, ela destaca o valor da tolerância e empatia, e a necessidade de combater a discriminação. Uma manifestação em choque contra o que o presidente pensa e diz sobre gays, lésbicas e demais membros da comunidade do arco-íris.

Esses dois merchandisings sociais – a defesa do bioma regional e da diversidade sexual – aproximam Pantanal da linha editorial do jornalismo da Globo, que diariamente apresenta matérias contestadoras da gestão do governo federal e da retórica polêmica de Jair Bolsonaro.

Em ano eleitoral, com o presidente empenhado em sua tentativa de reeleição, a poderosa influência da novela das 9, assim como a dos telejornais, pode estimular telespectadores a rever seu voto. De ‘novela da família de direita’, Pantanal virou a queridinha dos progressistas à esquerda.

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