Pró-LGBT+, Globo tem gays nas 3 novelas inéditas no ar
Canal líder em audiência reforça imagem progressista apesar de deslizes eventuais como um beijo gay cortado de reality
Neste junho, Mês da Diversidade, a Globo apresenta personagens homossexuais em seus três principais horários de teledramaturgia. Todos abordam questões relevantes na luta contra a homofobia.
Na novela de época das 18h, ‘Além da Ilusão’, o gerente de rádio Leopoldo (Michel Blois) esconde de todos que é gay. Teme a reação da família e da sociedade conservadora da década de 1940.
Sua vida pacata muda com a chegada do galã de radionovela Plínio (Nikolas Antunes). A troca de olhares cúmplices faz nascer uma paixão. O romance que vai explodir nos próximos capítulos será mantido em sigilo.
Os dois personagens representam o drama dos homens que não podem viver livremente sua orientação sexual por conta dos prováveis prejuízos às relações familiares e à carreira.
Oito décadas depois do período retratado em ‘Além da Ilusão’, parte relevante dos gays ainda se mantém ‘no armário’ por temer as consequências de se declarar ao mundo.
Muitos deles são casados com mulher e têm filhos. São aparentemente felizes. Na verdade, vivem sufocados pela sexualidade reprimida ou se arriscam a ter vida dupla – se relacionam com outros homens em segredo.
Na trama das 19h, ‘Cara e Coragem’, a comunidade LGBTQIAP+ está presente com o personagem Hugo Sá (Rafael Theophilo), um ator que atiça suas admiradoras.
Para conservar a imagem de ‘pegador’ e o fã-clube que sustenta sua carreira, ele esconde ser gay. Uma situação que acontece dentro da própria Globo, onde vários atores homossexuais e bissexuais com fama de galã se protegem atrás de hipotética heterossexualidade.
O folhetim das 21h, ‘Pantanal’, traz o mordomo Zaqueu (Silvero Pereira). Ele personifica o gay assumido e que também é 'poc' – na linguagem do meio, aquele que não disfarça seus trejeitos justamente por ter orgulho de ser quem é.
Ao se mudar do Rio para as entranhas do Mato Grosso do Sul, vai se tornar um peão de luxo. Sua presença irá mexer com a ‘macheza’ dos boiadeiros das fazendas.
Em cena da primeira versão de ‘Pantanal’, Zaqueu confessou paixão por Alcides, vivido agora por Juliano Cazarré, porém, o sentimento não era correspondido e continuaram como bons amigos.
Existe representatividade também em ‘A Favorita’, produção de 2008 reprisada no ‘Vale a Pena Ver de Novo’. Orlandinho (Iran Malfitano) é um gay que se esconde por um tempo e até arruma uma namorada ‘fake’. Depois se apaixona pelo hétero Halley (Cauã Reymond).
A Globo sempre ofereceu em sua teledramaturgia ampla visibilidade à questão da orientação sexual. Entre erros e acertos, o canal é o mais pró-diversidade.
Nos últimos anos, muitos atores, atrizes e jornalistas de vídeo da emissora se sentiram confortáveis e confiantes para declarar em público a homossexualidade ou bissexualidade.
Outros ainda preferem não dar a cara a tapa, mas há liberdade e apoio a quem quiser falar a respeito e, assim, não viver mais preocupado em forjar uma identidade hétero de fachada.
Apesar do acolhimento à diversidade de gênero e sexual, a Globo comete equívocos. O mais recente foi a omissão do beijo na boca entre os participantes Matheus e Lucas de ‘No Limite’.
Não exibir o gesto de afeto na TV gerou repercussão negativa. Sob pressão, o canal liberou a cena em seu portal de notícias. Um remendo insuficiente.
Fez lembrar um episódio lamentável: a censura ao beijo entre os personagens Júnior (Bruno Gagliasso) e Zeca (Erom Cordeiro) no capítulo final de ‘América’, em 2005. A frustração foi geral.
De acordo com dados divulgados em maio pelo IBGE, 2,9 milhões de brasileiros se identificaram como gays ou bissexuais na pesquisa realizada em 2019.
Como o preconceito ainda é gritante e produz medo, conclui-se que o número seja bem maior. Boa parte dos não-heterossexuais ainda prefere não se expor.