Público tolera galãs gays enrustidos e despreza os assumidos
Leonardo Vieira provoca discussão sobre o assunto após assumir homossexualidade
Na TV, um ator pode ser gay. Desde que ‘em segredo’. Ele finge não ser, o público finge não saber.
Essa cumplicidade dissimulada lembra a antiga política ‘don´t ask, don´t tell’ (‘Não pergunte, não conte’) de restrição a homossexuais e bissexuais no exército americano.
A questão ressurgiu com Leonardo Vieira. Um site postou uma foto do ator beijando outro homem na saída de uma festa. A repercussão foi estrondosa. Para o bem e para o mal.
Em carta aberta, o galã confirmou a homossexualidade e fez crítica contundente da intolerância – ele se tornou alvo de ofensas nas redes sociais e procurou a polícia para denunciar a caso.
“Não gostaria de me colocar no papel de vítima, mas sou e não posso deixar de querer meus direitos como cidadão de bem e exigir justiça”, escreveu. “Homofobia precisa ser tratada com serieda de pela justiça e pela sociedade.”
A maioria absoluta dos galãs gays prefere se manter trancada no armário. A falsa heterossexualidade serve como uma espécie de blindagem e garante personagens ‘pegadores’, numeroso fã-clube feminino e bons contratos publicitários.
Leonardo Vieira viveu um dilema quando se tornou, da noite para o dia, um dos homens mais desejados do país ao protagonizar a primeira fase da novela Renascer (1993), na qual interpretou o jovem Zé Inocêncio.
“Como eu poderia ser um símbolo sexual para tantas meninas e mulheres quando a minha sexualidade na ‘vida real’ apontava em outra direção? Como lidar com isso? O que fazer? Declaro minha sexualidade?”, relatou no comunicado à imprensa.
O ator optou não revelar a identidade sexual – ainda que fosse conhecida no meio artístico e entre jornalistas que cobrem TV – até que o recente flagra o fez se posicionar.
E agora, como fica a carreira do galã? Continuará a ser escalado para papéis héteros? Os noveleiros vão aceitá-lo como par romântico de belas mulheres nas novelas?
Em mais de vinte trabalhos na TV, Leonardo Vieira interpretou heterossexuais sem ser contestado. O talento se sobressaiu em relação à vida íntima.
Resta saber se o fato de se assumir gay aos 48 anos vai ou não suscitar os temidos efeitos colaterais: rarear convites de trabalho e mudar a relação (sempre delicada) entre público e artista.
O temor pela rejeição dos telespectadores e o consequente prejuízo à carreira faz tantos gays famosos se calarem em relação à própria sexualidade ou até forjarem um relacionamento de fachada.
Antes o público confundia ator e personagem, agora separa com mais facilidade ficção e realidade, mas continua igualmente conservador ao julgar o comportamento sexual das celebridades.