Quem é a mulher com a missão de salvar a imagem da Jovem Pan
Canal preferido do público de direita enfrenta crise de identidade e fuga de anunciantes apesar do crescimento de audiência
Ano novo, problemas velhos. A Jovem Pan entra em 2023 sob pressão. Pesa o rótulo de canal bolsonarista e da extrema-direita.
Vários anunciantes pularam fora por temer a associação com uma emissora que deu voz a falas golpistas.
O canal do empresário Tutinha de Carvalho precisa administrar a crise de imagem e reconquistar credibilidade no mercado publicitário.
No fim de dezembro, o grupo Jovem Pan contratou Patrícia Vidal para o cargo de diretora de marketing. Ela é especialista em estratégia e posicionamento de marca. Atuou no Grupo Bandeirantes e Estadão.
Chega com o desafio de vencer o paredão de notícias negativas sobre a Jovem Pan para reabilitar a credibilidade do tradicional grupo.
Terá ainda de fortalecer a relação com as agências de publicidade que direcionam as verbas milionárias de clientes aos intervalos da televisão.
O movimento Sleeping Giants Brasil (Gigantes Adormecidos Brasil) comunicou no Twitter que 12 empresas já suspenderam anúncios na Jovem Pan.
O boicote às plataformas do grupo acontece sob a acusação de disseminação de fake news e promoção de discursos antidemocráticos.
Entre as marcas que aderiram ao #DesmonetizaJovemPan, de acordo com o Sleeping Giants Brasil, estão Amazon, Natura, Burger King, Subway, Sprite, Oi e Lojas Renner.
Em novembro, os canais da JP no YouTube foram desmonetizados por violar a política contra a desinformação da plataforma pertencente ao Google. O grupo ficou sem importante fonte de renda.
Paralelamente ao revés no departamento comercial acontece uma visível crise de identidade na linha editorial.
Em recente texto lido na TV pelo âncora Adalberto Piotto, a Jovem Pan afirma que “nunca vai apoiar qualquer manifestação que caminhe na direção do enfraquecimento ou da destruição de nossas instituições”.
Em outro trecho, afirma que “não faz coro e não endossa qualquer lampejo golpista, ato de violência ou o uso retórico irresponsável de instrumentos constitucionais como o artigo 142 da Constituição”.
No entanto, ainda dá visibilidade a comentaristas com discurso radical. Alguns deles chegaram a defender intervenção militar e até guerra civil para impedir a posse de Lula.
Esse ‘morde e assopra’ produz confusão entre pluralidade de opiniões — imprescindível a qualquer veículo de comunicação — e a permissão para declarações extremistas.
Controvérsias à parte, a Jovem Pan News continua a ter bom desempenho no Ibope. Em novembro, ficou no 14º lugar no ranking geral da TV paga, à frente da CNN Brasil e apenas 5 posições atrás da GloboNews.
A saída, após a vitória de Lula, de profissionais intimamente ligados à imagem da emissora, a exemplo de Augusto Nunes e Caio Coppolla, não afastou o público.
Na segunda-feira (2), William Travassos se demitiu. O âncora era bem-avaliado por sua posição moderada em contraponto aos excessos ideológicos de alguns colegas de emissora.