Quem foi o geógrafo e ícone negro citado na novela ‘Terra e Paixão’
Cena com Cauã Reymond fez referência a Milton Santos, importante intelectual que merece ser mais lembrado pela mídia
No capítulo de sábado (7) de ‘Terra e Paixão’, Caio (Cauã Reymond) foi tomar a lição escolar de João (Matheus Assis). “Qual o geógrafo que mudou o conceito de território?”, perguntou o agroboy. “Milton Santos”, respondeu o garoto.
Às vezes, novela é também fonte de conhecimento. A citação lembrou um dos mais importantes professores e pensadores do Brasil. Ele se dedicou a discutir as mudanças impostas pela urbanização e a globalização nos espaços geográficos e na vida da população dos países do Terceiro Mundo.
Nascido no interior da Bahia, Santos se graduou em Direito e fez Doutorado na França. Especializou-se em Geografia Humana. Na ditadura militar, foi perseguido e preso. Precisou se exilar no exterior por 13 anos. Ao longo da carreira, deu aulas em várias universidades, como USP, Sorbonne (Paris) e Toronto (Canadá).
Foi entrevistado por importantes programas de TV. Em 1997, esteve no centro da arena do ‘Roda Viva’, da TV Cultura. Uma de suas recorrentes críticas era sobre a falta de um projeto de futuro para o Brasil. “Os presidentes se tornaram caixeiros viajantes de empresas”, disse.
Referência de intelectual negro, Milton Santos apontava como um dos maiores problemas do país a obsessão pelo consumo que faz o cidadão ter mais interesse em comprar compulsivamente do que pensar e agir para melhorar a própria vida. “O que estamos vivendo hoje é que o homem deixou de ser o centro do mundo. O centro do mundo agora é o dinheiro."
Uma reflexão feita pelo professor décadas atrás a respeito da coletividade está mais atual do que nunca. “Jamais houve na história um período em que o medo fosse tão generalizado e alcançasse todas as áreas da nossa vida: medo do desemprego, medo da fome, medo da violência, medo do outro.”
Em relação à discriminação racial no país, Milton Santos apontava uma contradição. “No Brasil existe um tipo de apartheid: não é feio ser racista, é feio dizer que você é racista.”
O intelectual morreu aos 75 anos em junho de 2001, por complicações de um câncer de próstata. Deixou mais de 50 livros publicados.