Rafael Infante critica o ódio digital e pede mais empatia
Ator se destaca no papel de galã gay que finge ser heterossexual em Bom Sucesso
Aos 33 anos, Rafael Infante tem uma carreira consolidada como humorista da nova geração.
Já fez sucesso com trabalhos no teatro, na TV, no cinema e no YouTube (integrou o canal Porta dos Fundos). Agora encara o desafio de interpretar o primeiro personagem fixo em novela.
Ele vive o ator Pablo Sanches em Bom Sucesso, a bem-sucedida produção das 19h30 da Globo.
“Como artista, quero trabalhar em todas as vertentes e as novelas são um universo novo”, explica. “Tem sido um aprendizado e uma troca muito boa.”
Por temer que a homofobia atrapalhe a carreira de galã na TV, Pablo esconde do público e da imprensa o namoro com William (Diego Montez).
Esse comportamento de autopreservação é comum entre atores gays temerosos do julgamento implacável da sociedade conservadora.
A seguir, Rafael Infante comenta sobre a intolerância generalizada e em relação a outros temas.
Foi convidado para Bom Sucesso ou correu atrás da oportunidade?
Aconteceu um convite e adorei o personagem, então foi um casamento legal. O ritmo de gravações é frenético, mas curto muito, então já entrei nessa loucura deliciosa.
Há metalinguagem nesse trabalho: você é um ator que interpreta um ator que interpreta uma versão heterossexual dele. Como foi a construção do personagem?
Quando recebi a sinopse com o perfil do Pablo, somente pensei: “Vamos contar a história desse cara”. Não fiquei preso pensando: “Vou ter que criar um cara assim ou assado”. Ele é um ser humano que tem medos, receios, que erra e acerta. O Pablo é esse cara, essa personalidade única.
Há selinhos no ator Diego Montez. Como é gravar tais cenas?
Trabalhar com o Diego é maravilhoso, ele é um ator entregue e super parceiro em cena. Acho que nós concordamos que o casal precisava acontecer de forma natural, por isso o público curtiu. Não criamos uma expectativa ou “uma sinopse” de como eles seriam juntos, pois na vida real as coisas simplesmente acontecem, ou melhor, o amor simplesmente acontece, e é tão bom. Então eles são esses dois caras que se amam.
Acha importante discutir a homofobia e o ‘armário’ onde muitos atores gays ainda estão escondidos?
Infelizmente é uma verdade inconveniente. Muitos se escondem porque vivemos em uma sociedade machista que não aceita o ser humano, não tem empatia e carinho pelo próximo. Julgamos e colocamos o dedo, então é importante sim mostrar que todos merecem amor e respeito sempre.
Você e Ingrid Guimarães encabeçam um núcleo cômico. Como tem sido trabalhar com ela?
A Ingrid é uma atriz maravilhosa, admiro demais o trabalho dela. A troca que temos fica nítida em cena, e isso é muito bom.
Como é o Rafael Infante no papel de pai?
Acredito que eu esteja me saindo bem, assim espero. Acho que a Lara e a Tatiana poderiam responder melhor, mas nunca tive reclamações. Recebo bons elogios, então acho que até o momento sou um pai legal (risos).
(O ator é casado com a atriz e escritora Tatiana Novais; eles são pais de Lara, de 3 anos.)
Ser pai de menina mudou de alguma maneira sua visão de mundo e em relação às mulheres?
Acho que nós passamos a observar melhor como é importante criar um ser humano para o mundo. Ser pai de menina é maravilhoso, eu tento curtir ao máximo cada momento com ela. Quando surgem dúvidas e algum questionamento, tento explicar e aprender com ela também, pois todos somos seres humanos em constante construção.
Vivemos a era da vida digital, das relações superficiais e da radicalização. Como você encara tudo isso?
Eu acho que vivemos em um momento de ódio digital que é extremamente perigoso, as pessoas se escondem atrás de máscaras na internet. Falam e têm ações maléficas, sem pensar se vão prejudicar o outro. Eu tento não viver tão dentro desse mundo. O que me importa é o que vivo com meus familiares e amigos. Curto dividir com meus fãs, e aqueles que não estão próximos todos os dias, um pouco da minha rotina nas redes, mas tenho o cuidado de não deixar que comentários e atitudes mesquinhas atinjam pessoas que gosto e a minha própria vida.
Ser filho de uma psicóloga e um psiquiatra fez você enfrentar facilmente as questões existenciais e emocionais?
Acho que tive uma boa base familiar, que bom, e isso fez com que eu tivesse essas questões mais bem resolvidas. É claro que todos temos inseguranças e medos, e eu também os tenho, porém não deixo que me afetem de forma que eu fique paralisado. Quando construo um personagem, penso que ele é um ser humano, então, claro que construo uma mentalidade para ele com tudo que o tem direito.