É baixaria que o público quer? Ok, o ‘Power Couple’ entrega
Atração da Record TV chega ao fundo do poço com briga generalizada e suscita reflexão sobre o sadismo do público
Quais as 3 coisas que o telespectador de reality show quer ver?
1.Barraco.
2.Sexo.
3.Mais barraco.
É isso, fim. O resto vira ‘encheção de linguiça’. O público liga a TV na expectativa de acompanhar de camarote, ou melhor, do sofá, brigas com gritaria, xingamentos encobertos pelo ‘piii’, dedo na cara, chiliques vexatórios e ameaças de luta no estilo UFC. “Pau neles!”, diria Datena.
Os mais sádicos – e boa parte o é – esperam empurrões, puxões de cabelo, tapas na cara, mordidas, cusparada e outros impulsos agressivos que rendam expulsão. Para essa plateia, o show fica mais divertido quando a civilidade acaba chutada para bem longe.
Devem ter se divertido bastante com o quebra-pau generalizado na madrugada desta sexta-feira (27), que resultou na desistência do casal Rogério e Baronesa, pais do MC Gui, após confusão com Cartolouco. Perto dessa confusão, a treta de Brenda e Matheus com Nahim e Andréia (estes, eliminados horas antes) pareceu bobagem.
Teve água na cara, janela quebrada e tanta gritaria que não era possível saber quem estava brigando com quem, nem os motivos. A apresentadora Adriane Galisteu ficou sem saber o que dizer e fazer. O povo quer exatamente isso: ‘tiro, porrada e bomba’. Quanto mais, melhor.
A atual edição do ‘Power Couple’ entrega o que promete. Poucas vezes vimos tantas brigas de baixo nível, com direito a homofobia (“bichona”), xingamentos (“bundão” é um dos poucos publicáveis), psicofobia (discriminação de pessoa com transtorno mental), encaradas entre maridos, esposas à beira de um ataque de nervos e berros sem fim.
Um clima tóxico, com potencial de gerar violência entre os participantes. O que poderia ser uma terapia de casal coletiva se tornou uma guerra de egos. O prêmio deixou de ter importância. A meta, para a maioria, é destruir os inimigos. De preferência, que saiam humilhados.
E tudo isso em um canal de propriedade de um bispo e ligado a uma das maiores igrejas evangélicas do País. Uma emissora que exibe novelas bíblicas e tem explícita simpatia pelo presidente Jair Bolsonaro. Uma “TV de família”, como se dizia antigamente.
A responsabilidade por esse deplorável caos não é apenas de quem produz e exibe o programa, nem só dos casais confinados. O telespectador sádico, que se diverte com tal pandemônio, alimenta esse formato de atração. Apesar da repercussão ruidosa, o ‘Power Couple Brasil’ patina na audiência.
Será que nem esse rebuliço anima o brasileiro a ficar acordado para ver TV?