Privilégio ou narcisismo? Excesso de autoconfiança de Gabriel chama a atenção no 'BBB23'
Escolhido pelo público para entrar no programa, ele logo disse que já viveu affairs com as cantoras Anitta e Luísa Sonza
A presença do modelo Gabriel Tavares no Big Brother Brasil 23 começou barulhenta. O brother disputou uma vaga para o elenco do reality na Casa de Vidro, antes mesmo de o programa estrear, e já no aquário mostrou um lado que viria a se tornar marcante: enaltecer seus feitos.
Escolhido pelo próprio público para entrar no programa que começou no dia 16, ele logo disse que já viveu affairs com as cantoras Anitta e Luísa Sonza, e mais de uma vez mostrou que tem uma autoestima para lá de elevada. Como no caso em que garantiu que a funkeira, atração da primeira festa do reality, evitou olhar para ele durante a apresentação. Do lado de fora da casa, Anitta chegou a declarar que conhece Gabriel "muito menos" do que o público imagina.
Em outro momento do confinamento, ele disse que tem "uma galera" famosa que o segura dentro da casa com mutirões -- o que ainda não foi visto. No último domingo, 22, Gabriel ainda declarou que era o responsável pela vitória de Aline e Bruno na Prova do Anjo, já que teria sido uma dica dele que levou à vitória da dupla no dia anterior.
Especialistas ouvidos pelo Terra asseguram que não há nenhum problema em uma pessoa com autoestima, inclusive, é saudável ter consciência dos seus pontos fortes. O problema, apontam, é pensar que tudo diz respeito a si ou que é o centro dos acontecimentos.
Embora seja traço do indivíduo, independentemente do gênero, os homens têm tendência maior a achar que tudo gira em torno de si. A explicação para isso pode estar no machismo, expressão nítida de uma sociedade patriarcal.
"A masculinidade que predomina no imaginário social corresponde a um conjunto de padrões comportamentais que o homem deve seguir", destaca o psicólogo Jorge Miklos. "De acordo com esse padrão, o homem deve se comportar de forma autoconfiante, viril, dominante e heteronormativa, além de ter um alto poder aquisitivo e sucesso profissional".
Para o especialista, essa idealização do que é um homem é uma herança do patriarcado que sofre influência do recorte social: ser homem branco e heterossexuais. Na visão de Miklos, é como se existisse um pacto social que coloca nesse homem uma expectativa para que ele desempenhe essa masculinidade.
Todo esse conjunto de símbolos e valores pode contribuir para que homens tenham atitudes voltadas para si mesmo, e sempre se coloquem no centro das narrativas.
"Duvido que um homem tenha crescido sem ter ouvido algum tipo de ofensa que colocava em descrença a sua masculinidade ou orientação sexual, ou cobrado com frases do tipo 'homem que é homem não chora'", provoca.
Traços de narcisismo
Mas essa pode não ser a única explicação para as atitudes como as de Gabriel Tavares. Embora esse seja o tipo de diagnóstico que só pode ser feito mediante acompanhamento, a psicóloga Jéssica Bonfim observa traços do transtorno de personalidade narcisista nesse comportamento.
Essa condição é caracterizada pela visão de si muito mais maximizada do que de fato é. Nesses casos, é comum que o indivíduo se veja como o centro das atenções, subestime a importância do outro e acredite que tudo depende dele.
"Esse tipo de pessoa pode ter dificuldade de ter empatia, onde os outros sempre são mais fracos e menos providos de inteligência", exemplifica. "O caso do Gabriel pode ser maior que apenas a confiança que tem um homem hétero; pode estar ligada ao caso de ser uma pessoa narcisista".
A psicóloga ainda explica que esse comportamento pode surgir justamente como um mecanismo de defesa fruto de uma baixa autoestima. A necessidade de esconder uma fragilidade o faz criar uma versão elevada de si mesmos.
O transtorno de personalidade narcisista não se limita ao gênero, raça e sexualidade, de acordo com Jéssica Bonfim.
"Pode acontecer mais em homens, já que esse tipo de comportamento é muito mais reprimido em mulheres. O homem já tem uma liberdade de ser e fazer, o que deixaria o autoritarismo e autoconfiança mais livres", explica. "Racialmente, o homem branco tem muito mais privilégio, tem muito mais lugar de ascensão. Para ele, é mais fácil ter esse tipo de atitude sem ser reprimido".
Bonfim reforça que isso é apenas uma hipótese, já que seria necessária uma avaliação mais profunda. O contexto pode influenciar o indivíduo de diferentes formas.
"Algumas situações são mais comuns, como em crianças que têm autoestima baixa e são incentivadas pelos pais a acreditarem que são mais especiais como forma de contornar a situação", exemplifica.