Quem venceu o primeiro ‘Big Brother’ da história, em 1999
Reality show fez o campeão sofrer crises nervosas, criticar a televisão por ainda explorar o formato e amaldiçoar a própria fama
Começou a contagem regressiva. O ‘BBB22’ estreia em 17 de janeiro. O reality show terá dois desafios. De cara, conseguir a aceitação pública de seu novo apresentador, Tadeu Schmidt, e ao longo das semanas, superar o fenômeno de audiência, espaço midiático e engajamento do ‘Big 21’, vencido por Juliette Freire.
O aquecimento para o programa mais amado e odiado da televisão brasileira desperta uma curiosidade: quem foi a primeira pessoa a vencer o ‘Big Brother’ em todos os tempos? A atração nasceu em 1997 na cabeça do produtor de TV holandês John de Mol Jr., hoje com 66 anos. A ideia original era confinar seis pessoas em uma mansão por 1 ano. Recebeu o título ‘A Gaiola Dourada’.
John e sua equipe de criativos beberam em algumas fontes de inspiração. A começar pelo projeto Biosphere 2 (Biosfera 2), no estado americano do Arizona, onde um grupo de cientistas viveu isolado em uma estrutura que imitava o ecossistema da Terra.
Outra referência foi o livro ‘1984’, do britânico George Orwell, sobre o ‘Big Brother’ (Grande Irmão), um líder tirânico que tudo vê e de tudo sabe em uma sociedade distópica sob guerra constante. A obra antecipou o conceito de vigilância invasiva para controlar a população e a perda de privacidade nos tempos contemporâneos.
Os produtores do ‘Big Brother’ original também reproduziram elementos do ‘The Real World’ (O mundo real), da MTV americana. A atração mostrava os altos e baixos da convivência de alguns jovens em uma casa. É considerado o embrião do formato reality show.
A primeira edição do primeiro ‘Big Brother’ na história aconteceu nos Países Baixos, também conhecidos como Holanda. Uma casa foi construída na área de uma fábrica na cidade de Almere, a 25 quilômetros de Amsterdam.
O programa começou no dia 16 de setembro de 1999, transmitido por um canal de TV chamado Veronica, sob o comando do apresentador Rolf Wouters e da modelo Daphne Deckers. Eram 9 participantes, com idades entre 22 e 44 anos.
O sucesso de audiência foi imediato. Teve um pouco de tudo nessa temporada inicial: sexo sob o edredom, desistência de participante no nono dia, um brother ‘acusar’ outro de ser gay, visitas de artistas, brigas aos gritos e períodos de profundo tédio.
Após 106 dias de confinamento, em 30 de dezembro o público elegeu como vencedor Bart Spring in‘t Veld, um estudante de jornalismo de 23 anos na época. Ele foi o competidor que teve a sexualidade contestada por um rival apesar de ter protagonizado uma nada discreta sequência de intimidade com a colega Sabine Wendel.
Assim que deixou a casa, Bart protagonizou um momento inusitado ao vivo: deu um beijo na boca do amigo Rudd, o competidor mais velho daquela edição e que havia sido o favorito a vencer. O primeiro campeão de ‘Big Brother’ comprou uma casa com o prêmio recebido.
A fama instantânea fez mal ao jovem. Ele sofreu cinco colapsos nervosos em consequência da perda de privacidade. Passou a fugir da imprensa, dos fãs e curiosos. Nas raras declarações públicas, condenou a “cultura da celebridade”.
“Não estou orgulhoso de ter ajudado a criar aquele monstro estúpido chamado ‘Big Brother’. O reality show fez as tevês trocarem programas inspiradores por conversas estúpidas”, disse ao ‘The Times’, anos depois. “Se eu soubesse como aquilo mudaria minha vida, jamais teria participado.”
Apesar do discurso raivoso, Bart tentou a carreira de ator e apresentador, sem êxito. Hoje com 45 anos, ele mora na pequena cidade de Roelofarendsveen. Na última vez que ficou diante de uma câmera de TV, em 2017, revelou ter sido assediado sexualmente por um professor numa aula de teatro logo após triunfar no ‘Big Brother’.
Em tempo: no Brasil, o ‘Big Brother’ chegou em janeiro de 2002, na Globo, apresentado por Pedro Bial e Marisa Orth. Vencida pelo dançarino Kleber Bambam, a primeira temporada teve média de 59 pontos de audiência na final. Tal índice jamais foi atingido novamente nas 20 edições seguintes. A emissora carioca tem contrato com a produtora Endemol Shine para produzir edições do reality até 2025. Mais de 60 países já fizeram versões locais do programa.