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Rixa entre Míriam Leitão e Bolsonaro começou ao vivo em 2018

Episódio na última campanha gerou o início dos ataques do clã presidencial contra a jornalista da Globo

4 abr 2022 - 12h24
(atualizado às 12h24)
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Míriam Leitão é alvo constante dos Bolsonaros
Míriam Leitão é alvo constante dos Bolsonaros
Foto: Reproduções

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem sido duramente criticado por uma postagem no Twitter. Ele debochou da tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão na ditadura militar.

Em 1972, a então militante do PCdoB, com 19 anos e grávida, ficou presa por um mês e foi ameaçada com uma serpente. Agentes do governo a deixaram em uma sala escura com o animal.

“Ainda com pena da cobra”, postou Eduardo, o filho Zero Três, ao rebater um tweet no qual a comentarista de política e economia classificou Jair Bolsonaro de “inimigo confesso da democracia”.

O filho que a jovem ativista gestava é Vladimir Netto, repórter da TV Globo em Brasília e autor do livro ‘Lava Jato: o juiz Sergio Moro e os Bastidores da Operação que Abalou o Brasil’.

A animosidade dos Bolsonaros contra Míriam Leitão começou em agosto de 2018, quando ele participou da série de entrevistas com presidenciáveis na Central das Eleições na GloboNews.

A jornalista mediou a sabatina que contou com outros oito jornalistas do Grupo Globo. Ao ser questionado a respeito da reiterada negação da ditadura, o candidato reagiu.

“Quero aqui elogiar, saudar a memória do senhor Roberto Marinho. Editorial de capa do jornal ‘O Globo’, de 7 de outubro de 1984. Abre aspas. Participamos da revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica; distúrbios sociais, greves e corrupção generalizada. Fecha aspas. O senhor Roberto Marinho foi um democrata ou um ditador?”

Minutos mais tarde, na volta de um intervalo, Míriam Leitão repetiu o que alguém dizia a ela pelo ponto eletrônico. “Em relação às declarações do candidato Jair Bolsonaro sobre ‘O Globo’ em 1964, o Grupo Globo emitiu a seguinte nota.”

Surpreendido, Bolsonaro ficou sério. “Abre aspas. O candidato Jair Bolsonaro disse há pouco que Roberto Marinho, em editorial de 1984, afirmou que participava do que chamava de revolução de 64, identificado com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas.”

E a jornalista prosseguiu. “É fato. Como todos os grandes jornais da época, com exceção da ‘Última Hora’, ‘O Globo’ apoiou editorialmente o golpe, com o objetivo reiterado por Roberto Marinho, 20 anos depois. O candidato Bolsonaro esqueceu-se, porém, de dizer que em 30 de agosto de 2013, ‘O Globo’ publicou um editorial em que reconheceu que o apoio ao golpe de 64 foi um erro.”

Míriam continuou a dizer o que ‘sopravam’ a ela: “Nele, o jornal disse não ter dúvidas de que o apoio pareceu, aos que dirigiam o jornal na época e viveram aquele momento, a atitude certa visando o bem do País. E finaliza com essas palavras, o editorial: ‘À luz da história, contudo, não há por que não reconhecer hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais no período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto e... corre risco... e só pode ser salva por si mesma’. Fecha aspas.”

(A frase final do editorial, que a jornalista teve dificuldade de ouvir no ponto eletrônico, é a seguinte: “E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.”)

Imediatamente após o fim do comunicado ditado, a jornalista desejou “boa noite, bom fim de semana” e encerrou o programa sem oferecer a réplica a Bolsonaro. A imagem aberta do estúdio mostrou que todos ficaram em silêncio, com aparente tensão no ar.

Daquele dia em diante, Míriam Leitão se tornou um alvo frequente de críticas e ironias de Jair Bolsonaro, seus filhos, aliados políticos e eleitores. A Globo se manifestou em algumas ocasiões.

Em julho de 2019, o presidente disse que a jornalista teria mentido sobre a tortura por militares na ditadura. Em resposta enérgica, o ‘Jornal Nacional’ contra-atacou. A âncora Renata Vasconcellos leu nota ao longo de 3 minutos.

“Essas afirmações do presidente causam profunda indignação e merecem absoluto repúdio. Em defesa da verdade histórica e da honra da jornalista Míriam Leitão, é preciso dizer com todas as letras que não é a jornalista quem mente.”

Agora, após o ataque de Eduardo Bolsonaro, vários colegas de Míriam na Globo e GloboNews se manifestaram em solidariedade à jornalista e criticaram o parlamentar.

Entre eles, o correspondente em Nova York Guga Chacra. Em um tweet, o especialista em política internacional chamou o filho do presidente de “covarde defensor da tortura”.

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