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Saiba por onde anda ator de 'Glub Glub', sucesso nos anos 90

Carlos Mariano interpretava um dos peixinhos do programa da Cultura

24 set 2014 - 09h21
(atualizado às 09h28)
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Ator comenta importância de 'Glub Glub' em sua carreira:

Dois peixes vendo TV no fundo do mar. Parece algo muito estranho para quem não foi criança especialmente entre os anos 1991 e 1999. Porém, quem assistia ao programa Glub Glub, exibido diariamente pela TV Cultura, podia até acreditar que isso era possível. “Era uma coisa lúdica. Eu acho que a criança se identificava com o peixe como uma criança, como ela. Ela tinha uma reação inicial: ‘o peixe falando?’ Mas depois achava normal. E eu acho que os mesmos conflitos que as crianças tinham naquele período, os peixinhos tinham, que eles falavam de relação familiar, de amor, de escola”, afirma o intérprete do Glub macho, Carlos Mariano.

Ao todo, foram 670 episódios (sendo que a ideia incial era ter 60) e a participação dos animais, que começou com pequenos comentários sobre as animações do mundo inteiro que passavam na televisão submersa, ganhou espaço. O programa também deixou de ir ao ar apenas uma vez ao dia e ganhou três horários na grade da emissora. “À noite dava uma audiência absurda. Normalmente, a gente ficava em terceiro, às vezes, em segundo lugar em audiência naquela época. Dava dez pontos. Hoje, para a Cultura isso não existe a menor possibilidade. Um ponto já é motivo de orgulho, né. A gente dava 9, 10. À tarde era 4, 5, 6. Então, para a Cultura era uma coisa fantástica. E todos os outros programas infantis tinham audiência, todos eram maravilhosos. Emendava um no outro, engrenava um programa no outro. Foi uma fase de ouro”, diz o ator.

O sucesso da atração infantil foi tão grande que até hoje reflete no dia a dia de Carlos Mariano. Ele afirma que, quanto mais passa o tempo, o Glub é mais presente em sua vida e as pessoas o reconhecem mais. “Não tem um dia que eu não saio na rua que alguém não vem conversar comigo: ‘você não é o Glub’? É um negócio muito maluco. Vamos combinar que depois de tantos anos você fazendo um personagem dentro daquela cabeça, maquiado e as pessoas descobrem. É impressionante, fantástico”, comemora.

Em entrevista exclusiva ao Terra, o artista fala ainda quanto pesava a cabeça do Glub, lembra de um fato emocionante de sua trajetória como o simpático peixinho e conta o que fez após a extinção do programa. Confira outros trechos do bate-papo:

Carlos Mariano interpretava o peixinho Glub em programa da Cultura
Carlos Mariano interpretava o peixinho Glub em programa da Cultura
Foto: Mariana Lanza / Terra

Terra - Quanto pesava a cabeça de peixe que usava no programa?

Carlos Mariano - Era muito pesada. Melhorou depois de uns dois, três anos. Isso era uma das coisas que complicavam, era muito cansativo. A minha pesava três quilos, só que ficava toda na nuca, não era um peso distribuído, então, tinha que sustentar tudo no pescoço. Uma coisa é você ficar cinco, dez minutos, outra era gravar o dia inteiro. Era complicado. A gente gravava seis programas por semana, eram três por dia, mas em um processo longo, difícil. Daí o pessoal da equipe de produção conseguiu desenvolver um apoio para o rabo, para eu sentar quando não estivesse gravando e ter esse apoio para melhorar um pouco. A gente tirava a cabeça quando terminava de gravar um episódio. Durante a gravação de um programa inteiro eu não deveria tirar, porque borrava a maquiagem e ela era muito complicada, levava uma hora para fazer, era complexa. Então, todo mundo procurava se ajudar.

Terra - Tem algum fato marcante do período de Glub Glub?

Carlos Mariano - Eu lembro uma vez em que um ator amigo meu que trabalhava no teatro foi me apresentar para a Débora Bloch e eu era fã dela. Na hora que ele me apresentou, ela disse: “a minha filha te adora”. Eu fico arrepiado de lembrar. E ela (Julia) era bebê, coisa de um aninho. A Débora falou que ela ficava hipnotizada com os peixinhos, era uma coisa que acalmava.

Terra - E o episódio que mais gostou?

Carlos Mariano -

Tem um que a garotada lembra muito. Como o

Castelo Rá-Tim-Bum

fazia muito sucesso, teve um que misturou os dois programas. O Castelo foi para o fundo do mar e teve o encontro dos personagens. Foi interessante, porque até hoje o pessoal lembra, mas para mim teve um fato que foi emblemático. Em uma historinha, eu fazia um carteiro, então,

Foto: Divulgação

colocaram um chapeuzinho, a bolsa e eu ia entregar cartas no fundo do mar para outros peixinhos. Daí no final do programa, nós e a direção resolvemos fazer uma brincadeira e falar para as crianças que elas podiam mandar uma carta para a gente no fundo do mar. Só que não tínhamos pensado no que poderia acontecer com isso. Foi só uma brincadeira, mesmo porque, que criança que está em casa assistindo vai anotar um cep na hora para mandar uma cartinha para o fundo do mar? E foi uma loucura. A gente começou a receber um monte de carta que eles não davam conta. A Cultura não estava preparada para isso, não tinha um departamento para receber, abrir e ler cartas. Às vezes, eles passavam para a gente algumas coisas. Era emocionante receber correspondências do Brasil todo e teve uma que eu fiquei muito tocado, porque os pais trabalhavam numa fazenda, eram muito simples, e a mãe escreveu como se fosse o filho. Em nome dos dois filhos pequenos, disse que o pai trabalhava na roça e eles ficavam esperando ele vir no final da tarde. Daí tomavam banho e assistiam ao programa à noite todos juntos, e que o maior sonho era conversar um dia com a gente. Era aquela carta bonitinha, simples, que tocava. Eu resolvi ligar e atendeu a mãe. Quando falei quem era, ela quase teve um treco. Foi uma emoção louca. Ela gritava e chamava os filhos, eles não acreditavam, daí eu falei com as crianças e foi uma loucura. Foi emocionante, de chorar mesmo. Muito tocante. Por isso que na profissão da gente tem que tomar cuidado e ter muito respeito por quem está do outro lado, porque às vezes você não sabe e uma coisa vira algo imenso. Nesse dia eu tive uma noção.

Terra - Você sente saudade daquela época?

Carlos Mariano -

Muita. O Glub continua sendo para mim um carro-chefe. Eu continuo trabalhando muito, faço muitas outras coisas em função do Glub. Ele me deu um respeito muito grande, uma credibilidade grande. É evidente que fiz um punhado de coisas legais, mas ele é o mais importante. Não tenho a menor dúvida.

Terra – O que fez de mais importante em sua carreira após o fim do Glub Glub?

Carlos Mariano - Eu fiz um programa muito interessante na Bandeirantes, em 2000, chamava Tagarelas. Era um programa que ficou pouco tempo, foi numa época de transição da emissora e eu apresentava com crianças de 4 a 10 anos. Eram vários quadros de entrevistas, bate-papo. Em um deles, tinha uma mesinha estilo “prezinho” em que discutia assuntos não infantis. Eu conseguia ganhar a confiança da criança, a gente começava a conversar e virava um belo programa de humor para adulto. Era um programa terceirizado, que fazia sucesso na Argentina e eles resolveram fazer aqui. Ficou pouco tempo no ar e teve que sair. Foi muito prazeroso, entrava às 22h do sábado, um horário cruel, porque eu brigava com a Zorra (Total), que tinha acabado de entrar, era aquele momento bom que tinha todos os atores no mesmo programa, a Praça estava no melhor momento também e eu sozinho apresentando um programa com crianças que não eram preparadas, eram absolutamente normais. Foi muito prazeroso, me deu um exercício de ator muito gostoso. Hoje faço alguns projetos de teatro que são maravilhosos. Estou no elenco de Trair e Coçar é Só Começar há 13 anos, a peça está em cartaz há 28, recorde no Brasil e em todas as Américas. E continua sendo prazeroso, divertido, você viaja pelo Brasil, volta pra São Paulo. É sucesso sempre.

O ator mostra foto da atriz Gisela Arantes, que fazia par com ele em Glub Glub
O ator mostra foto da atriz Gisela Arantes, que fazia par com ele em Glub Glub
Foto: Mariana Lanza / Terra

Terra - Você também interpreta Dedinho na novela Carrossel, do SBT. Prefere trabalhar para o público infantil?

Carlos Mariano -

Me dou bem com humor e criança, me identifico muito. Consigo entender o idioma deles com mais facilidade. Acho muito fácil lidar e as pessoas têm um pouco de dificuldade. Já teve um comercial em que eu fui chamado não para fazer como ator, mas para segurar, trocar ideia com a criançada enquanto filmavam para pegarem alguns

takes

.

Terra – Em 2006, interpretou Cabreira no seriado global Minha Nada Mole Vida, do Luiz Fernando Guimarães. Teve outros trabalhos na TV que considera marcantes?

Carlos Mariano - No SBT teve outro projeto muito interessante que eu fiz, que chama Câmera Café. Era praticamente como o Porta dos Fundos, com vídeos de três minutos. A gente fazia isso há oito anos, mas era com elenco e situações fixas. Éramos em 13 atores, todos na linha de humor, mas todos bem vestidos, em um escritório. Esse programa é francês e o SBT na época comprou os direitos. Tudo acontecia num corredor desse escritório. O cenário era um corredor e a maquina de café, então, a câmera fica dentro da máquina. A historinha de dois, três minutos entrava entre as programações, sempre com os comerciais normais. Era brilhante, um humor chique, fino, mas talvez na época não encaixasse no tipo de programação. Acho que era mais para a TV a cabo já naquela época. Eu fazia um chefe mal-humorado, acho que foi em 2008, 2009. 

Terra - A Cultura completou 45 anos. Acredita que o auge da emissora foi nos anos 1990?

Carlos Mariano - Eu acho. Pelo menos converso com os mais velhos e acho que foi o melhor momento da Cultura. Teve um momento lá atrás, dos teleteatros, dos anos 60 e 70, que foram brilhantes também. Mas a Cultura está fazendo 45 anos e eu acho que esse período dos anos 90 com O Mundo de Beakman, Mundo da Lua, Confissões de Adolescente, Anos Incríveis marcante. O (Antonio) Fagundes fazia protagonista na Globo, em O Dono do Mundo na época, e gravava lá em Mundo da Lua, era um prazer. Tinha o Guarnieri trabalhando. Todo mundo gostava. Nenhuma outra emissora tinha qualquer restrição com a Cultura. Na segunda fase que eu fiz do Glub (em 2006), que foi para a TV Rá-Tim-Bum, fui para a Globo fazer Minha Nada Mole Vida, do Luiz Fernando Guimarães. Eles não fizeram nenhuma restrição, e normalmente fazem. Você está em uma emissora, não pode estar na outra. Existe um carinho, um respeito diferente pela Cultura. Foi realmente um período brilhante. 

Serviço:

Trair e Coçar É Só Começar

Teatro Santo Agostinho (Rua Apeninos, 118 - próximo ao Metrô Vergueiro - São Paulo)

Sextas: 21h30

Sábados: 20h

Domingos: 18h

Classificação: 12 anos

Foto: Adriana Elias / Divulgação

Carlos Mariano e Gisela Arantes (Foto: Adriana Elias/Divulgação)

Fonte: Terra
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