Script = https://s1.trrsf.com/update-1731945833/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

SBT 40 anos: veja como surgiu a emissora de Silvio Santos

Processo de concessão do canal ocorreu durante a ditadura militar, graças ao fim da TV Tupi, e causou controvérsia

19 ago 2021 - 10h11
(atualizado às 10h55)
Compartilhar
Exibir comentários
Apresentador Silvio Santos
Apresentador Silvio Santos
Foto: Divulgação/SBT

40 anos, o SBT foi ao ar pela primeira vez como emissora de TV aberta no Brasil. Foi na noite de uma quarta-feira, 19 de agosto de 1981, que o canal fez sua estreia e concretizou um antigo sonho de seu fundador, Silvio Santos. Durante a cerimônia de lançamento, que foi transmitida ao vivo, o apresentador vibrou: "Quando eu cheguei aqui o pessoal me cumprimentou e disse: 'Terminou a novela!'. E, realmente, foi uma novela. Uma novela com happy ending [final feliz]".

Contexto da criação do SBT

Para entender como surgiu o SBT (que significa Sistema Brasileiro de Televisão), voltamos algumas décadas para explicar o contexto que permitiu ao empresário, que já possuía a TVS e era dono de parte da TV Record, ter novas concessões aprovadas pelo governo federal no início dos anos 1980, ainda durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), ampliando seus canais para uma rede nacional.

À época, Silvio Santos já era um conhecido apresentador de televisão e tinha seu programa exibido na maioria dos Estados brasileiros. Sua estreia ocorreu em 1961, no Vamos Brincar de Forca, da TV Paulista (emissora que seria adquirida pela Globo cinco anos depois). No ano seguinte, alugou um horário aos domingos, até então pouco explorado pelos canais brasileiros, e estreou o Programa Silvio Santos, que foi ganhando mais espaço na grade.

Em 1971, quando estava prestes a não ter seu contrato renovado com a Globo, reviveu seu antigo sonho de ter uma emissora própria quando teve oportunidade de comprar 50% das ações da TV Record. À época, sem novas concessões abertas pelo governo, era o mais próximo que conseguiria para atingir seu objetivo. O negócio, porém, não deu certo. Sem saber do fiasco, Roberto Marinho contatou o apresentador e pediu para que seu contrato fosse renovado, desde que não adquirisse ações da concorrente. Silvio Santos aceitou.

Seis meses depois, porém, os mesmos 50% das ações da Record foram colocados novamente à venda. O dono do baú não poderia comprá-los por conta de seu vínculo à Globo, e contou com a ajuda de Joaquim Cintra Gordinho, colocando o nome do amigo nos documentos oficiais. Silvio manteve sua parte da Record até 1989, quando a emissora foi comprada por Edir Macedo.

A primeira emissora do apresentador foi a TVS (sigla para TV Studios Silvio Santos Ltda.), concedida pelo governo federal em 22 de outubro de 1975, com oficialização do contrato em 22 de dezembro daquele ano. O canal foi ao ar pela primeira vez em 14 de maio de 1976, pela torre da antiga TV Continental. A aquisição de mais emissoras e o lançamento efetivo do SBT ocorreria apenas alguns anos depois.

Silvio Santos e as negociações pela concessão do SBT

Em 18 de julho de 1980, foi ao ar pela última vez a histórica TV Tupi, primeiro canal da televisão brasileira, surgido em 1950. Entre as justificativas do governo para pôr fim à emisora estavam atrasos no pagamento de funcionários, dívidas em impostos federais e contribuições sociais, débitos das empresas da rede e "incapacidade" em "assegurar a continuidade dos serviços de radiodifusão".

O encerramento das atividades da Rede Tupi, porém, significava que novas concessões seriam abertas pelo governo federal.

Em 30 de setembro de 1980, o Ministério das Comunicações do governo de João Figueiredo, último presidente da ditadura militar, recebeu documentação a respeito da demonstração de recursos técnicos, financeiros e programação preparada por nove empresas interessadas na concorrência. Eram elas: Sistema Brasileiro de Televisão, Sistema Brasileiro de Comunicação, Rede Piratininga, Rádio e Televisão Universitária Metropolitana, Rede Rondon de Comunicações, TV Manchete, Visão Rádio e TV Sociedade Civil, Rádio Jornal do Brasil.

Em sua edição de 1º de outubro de 1980, o Estadão destacava a artimanha adotada por Silvio Santos para participar da disputa:

"Entre as propostas, a que mais despertou curiosidade foi a do grupo SBT - Sistema Brasileiro de Televisão S/C Ltda., ligado ao empresário Silvio Santos. Como a comissão que analisará as propostas não pode aceitar a participação, em qualquer grupo concorrente, de pessoa física detentora de concessões de mais de cinco canais de TV, não se sabia ainda como o empresário Silvio Santos - que tem a concessão de três canais - resolveria o problema. Ontem ficou esclarecido que a SBT Televisão será integrada por um grupo de cinco empresários, entre eles uma parente de Silvio Santos - Carmen Torres Abravanel - além de Carlos Marcelino Machado de Carvalho, Luciano Calegari, Elieser Patrício da Silva e João Abrão."

No dia 9 de novembro, o apresentador adquiriu um espaço publicitário de destaque no jornal para "prestar esclarecimentos" sobre seu envolvimento nas negociações, que causavam repercussão e suspeitas por parte do público à época. Nele, destacava que, mesmo com o Programa Silvio Santos sendo exibido em 18 Estados, "o Grupo Silvio Santos tem, apenas, uma e meia estações. Uma estação no Rio de Janeiro, TVS - Canal 11, e 50% da TV Record - Canal 7, de São Paulo". para ler a íntegra.

Em 19 de março de 1981, o ministro das Comunicações, Haroldo Corrêa de Mattos, divulgou o resultado da concorrência. O SBT recebeu a concessão da Rádio Difusora e canal 4 em São Paulo, da Rádio Marajoara e canal 2 em Belém, da Rádio Difusora Piratini e canal 5 em Porto Alegre e do novo canal 9 no Rio de Janeiro. Já a Manchete, do Grupo Bloch, ficou com a Rádio Guarani e canal 4 de Belo Horizonte, a Rádio Tupi e canal 6 do Rio de Janeiro, a Rádio Clube Pernambuco e canal 6 de Recife, a Ceará Rádio Clube e canal 2 de Fortaleza e um novo canal em São Paulo.

Entre as condições dispostas nos editais, constavam o compromisso de os novos concessionários assumirem a dívida de salários e engargos sociais de todos os antigos empregados da Tupi, que vinham sendo pagos pela Caixa Econômica Federal, assim como aproveitamento dos funcionários e condição de colocar os canais no ar dentro de um determinado prazo.

 

 

'Critérios políticos'

O Estadão destacava, em 20 de março de 1981:

"Os critérios adotados pelo governo foram basicamente políticos, conforme admitiu, certa vez, o ministro Haroldo Mattos, pois condições técnicas e financeiras dispunham também o Jornal do Brasil, a Visão e a Editora Abril, todos desclassificados pela concorrência. No início de dezembro, o então porta-voz Said Farhat anunciava que a intenção do presidente Figueiredo era resolver o problema com a maior rapidez possível, 'talvez até antes do Natal'. Mas essa nova decisão, pelas suas condicionantes políticas e as divergências no grupo decisório do governo, acabou se arrastando por quase quatro meses."

"Os dois [Silvio Santos e Paulo Machado de Carvalho] participam da SBT através de representantes, já que são concessionários de canais no Rio e São Paulo e por lei não teriam direito a um segundo canal em uma só localidade. Conforme explicou ontem Paulo Machado de Carvalho, o seu interesse era ganhar um canal no Rio de Janeiro, e o de Silvio Santos, o canal em São Paulo. 'Isso já estava previsto quando entramos na licitação. Ele ficou ocm o osso [canal endividado e funcionários antigos] e eu com um canal novinho e sem problemas no Rio de Janeiro'."

Carlo Átila, porta-voz do Palácio do Planalto, na ocasião, negou o uso de critérios políticos e classificou o questionamento de repórteres sobre o fato como uma "atitude antipopular e elitista". Já o ministro Haroldo afirmou que o governo levou em consideração o "cumprimento das condições especiais dos editais" e a "experiência dos proponentes" na exploração do sistema de rádiodifusão.

Nos meses seguintes, porém, as dívidas trabalhistas da TV Tupi que seriam herdadas pelos novos concessionários geraram um impasse, o que atrasou o andamento da criação das novas emissoras. Um contrato coletivo de trabalho foi assinado em 17 de julho de 1981 por presidentes de sindicatos de São Paulo, Pará e Rio Grande do Sul, englobando cerca de mil funcionários. "A ausência do acordo ora firmado era o maior entrave ao início da operação do SBT que, em princípio, pensa agora em entrar no ar já em agosto", explicava o Estadão na ocasião.

A estreia do SBT

De fato, a estreia do SBT aconteceu em 19 de agosto de 1981. Em anúncio publicado no jornal, a nova emissora dizia: "Hoje às 9h30 - hora de Brasília - sintonize a TVS-Canal 4 e assista a cerimônia de concessão, pelo Governo Federal, das novas emissoras do Sistema Brasileiro de Televisão. [...] Este momento marcará também a concretização do SBT em dimensões nacionais."

Na cerimônia de inauguração estavam presentes Haroldo de Mattos (ministro das Comunicações), Murilo Macedo (ministro do Trabalho), Ernane Galvêas (ministro da Fazenda) e Jair Soares (ministro da Previdência Social), além de Humberto Mesquita, representante dos ex-funcionários da TV Tupi e o próprio Silvio Santos, entre outros. É possível assistir a alguns trechos da estreia do SBT no YouTube.

Quanto à questão dos ex-funcionários da Tupi, havia uma cláusula no contrato de concessão em que constava: "A nova relação de emprego não se vinculará, para efeitos de Legislação Trabalhista, Civil ou de outra natureza, a qualquer relação de emprego havida entre os ex-empregados a serem aproveitados e as concessionárias anteriores".

Em análise publicada no Estadão de 23 de agosto de 1981, o jornalista Paulo Roberto Leandro criticava a programação inicial da emissora:

"A receita da TV Silvio Santos é óbvia: muito enlatado infantil para preencher a carga horária extensa e programas que buscam diariamente o que a própria direção da rede chama de popular - amarguras do povo e velhos esquemas que já deram certo no passado. Amarrando tudo isso, a fórmula de auditório que sempre garantiu o êxito do próprio Silvio Santos. [...] A nova rede investiu pesado no apelo fácil."

 

 

Como é a programação do SBT hoje

Passados 40 anos, o SBT continua apostando em segmentos mais populares ou até mesmo sensacionalistas, como em Casos de Família ou no requentado Notícias Impressionantes. A programação infantil continua com espaço garantido no Bom Dia e Cia e o Sábado Animado, além de novelas como Chiquititas, em reprise, e As Aventuras de Poliana, que deve ganhar uma continuação em breve. As novelas mexicanas, outro clássico trunfo do canal, atualmente são representadas por Coração Indomável e Amores Verdadeiros. Já os tradicionais Chaves e Chapolin deixaram de ser exibidos em 2020, por uma questão de direitos autorais.

O Programa Silvio Santos continua ocupando espaço nobre na programação semanal, ainda que sua presença tenha diminuído ao longo do tempo e, por conta da pandemia, atualmente conte apenas com reprises. Destacam-se também entre os atuais apresentadores da emissora Eliana, Celso Portiolli, Ratinho, Raul Gil, Danilo Gentili, Otávio Mesquita e Carlos Alberto de Nóbrega, que continua à frente de A Praça É Nossa. Nos últimos anos, três das filhas de Silvio também passaram a ocupar boa parte da programação: Rebeca, Silvia e Patricia Abravanel.

Desde 2019, o SBT investiu na transmissão de futebol, campo em que já teve outras experiências no passado, inclusive quando o canal chegou a transmitir jogos pela metade nos anos 1990 para priorizar o Programa do Ratinho. Entre as competições adquiridas pela emissora, constam a Libertadores, Liga dos Campeões da Europa e a Copa América de 2020, além da Copa do Nordeste.

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Seu Terra












Publicidade