Sophia é vilã criada sem a preocupação de agradar ao público
Aos 71 anos, Marieta Severo se torna popular na web com a serial killer da tesoura
Má, assumidamente má. Ela sente prazer sádico – e também mórbido – em prejudicar todos ao seu redor.
Em ‘O Outro Lado do Paraíso’, Sophia é uma mistura de madrasta da Cinderela, antagonista de dramalhão mexicano e mulher fatal de filme B.
A exploradora de diamantes despreza a filha de criação Lívia (Grazi Massafera), manipula o filho problemático Gael (Sérgio Guizé), corrompe e chantageia os figurões de Palmas, explora os garimpeiros e mantém sob pressão o brucutu por quem se sente atraída, Mariano (Juliano Cazarré).
Ah, faltou um detalhe: ela mata sem dó quem ousa confrontá-la. Virou uma assassina em série. Bobeou, a fazendeira apunhala no coração ou pelas costas. Já têm três cadáveres na conta.
Sua arma é um tesourão de costura. O uso do objeto gerou memes que comparam Sophia a Edward Mãos de Tesoura, interpretado por Johnny Depp no filme homônimo dirigido por Tim Burton em 1990.
A inofensiva criatura do cinema não tinha mãos humanas, já a monstruosa socialite do Tocantins parece não possuir um coração.
É uma personagem construída com todos os clichês de vilania: arrogância, frieza, crueldade, ambição desmedida.
Uma psicopata capaz de humilhar publicamente a filha anã, Estela (Juliana Caldas), e forjar provas para lesar a boa moça Clara (Bianca Bin) a fim de ter o controle da mina de pedras preciosas.
Não há respiro cômico semelhante ao visto em ‘malvadas favoritas’ como Carminha (Adriana Esteves), de Avenida Brasil (2012), e Nazaré Tedesco (Renata Sorrah), de Senhora do Destino (2004). Sophia é perversa o tempo todo.
Em alguns momentos, ela lembra Fanny, a agenciadora de book rosa vivida por Marieta Severo em Verdades Secretas (2015), do mesmo autor Walcyr Carrasco.
Ambas fazem qualquer coisa por dinheiro, não sentem remorso em prejudicar quem quer que seja e gostam de homens mais jovens – e submissos.
Há também elementos que remetem a outras maquiavélicas interpretadas pela atriz: a esnobe Loretta Pellegrini, de Pátria Minha (1994), e a amarga Elvira Bismark, de Deus Nos Acuda (1992).
Mas Sophia consegue ser pior do que todas as vilãs já defendidas sempre com inspiração e vigor por Marieta Severo.
Aos 71 anos, a artista oxigenou sua bem-sucedida carreira com a atuação enérgica apresentada em ‘O Outro Lado do Paraíso’.
Ainda que as tramoias de Sophia sejam um tanto inverossímeis, Marieta sempre empresta credibilidade à personagem e produz ótimos momentos no folhetim.
De tesourada em tesourada, a atriz garante lugar para sua criação na galeria de grandes vilãs da teledramaturgia brasileira.