Sou discriminada por ser de direita, diz atriz Maria Vieira
Artista portuguesa reclama do cancelamento ideológico, ataca o “lixo televisivo” e comenta sua relação com a Globo
Após décadas de aplausos e elogios por seu talento, Maria Vieira se tornou alvo de críticas e xingamentos ao se declarar conservadora e de direita. Em Portugal, assim como no Brasil, a maior parte dos profissionais de televisão e da imprensa é de esquerda. Quem está do outro lado no espectro político consegue pouco espaço para expor livremente seu pensamento.
Ex-militante do Partido Comunista na juventude, a atriz hoje é um nome forte do Chega, legenda de direita em ascensão. Destemida, ela não se intimida com a onda de hostilidade e o risco à carreira. Responde aos ataques com firmeza e, às vezes, ironia. Paga um preço alto pela defesa de suas convicções.
Vencedora de vários prêmios, a artista afirma ser boicotada pelas emissoras de TV nas quais teve grandes atuações. Antigos colegas se afastaram. Outros vão à mídia para contestá-la. Em redes sociais, Maria manifestou admiração pelo presidente Jair Bolsonaro e desprezo pela esquerda brasileira.
Em entrevista ao Terra, ela comenta seu afastamento forçado da teledramaturgia, revela se planeja uma candidatura à Presidência de Portugal, analisa as passagens pela Globo – fez as novelas ‘Negócio da China’ e ‘Aquele Beijo’, e o seriado ‘Brasil a Bordo’ – e diz o que assiste da nossa televisão.
A senhora afirma que não a chamam mais para trabalhar após ter se declarado conservadora e de direita. Sente-se discriminada?
É óbvio que me sinto discriminada e acho que essa discriminação é por demais evidente tendo em conta que após me ter assumido publicamente como uma mulher e uma atriz conservadora e de direita, eu pura e simplesmente deixei de trabalhar e passei a ser ostracizada, perseguida e alvo de constantes mentiras e deturpações levadas a cabo pelos ‘media’ e por colegas de profissão que se sucedem já desde o final de 2016! E isto acontece após uma carreira ininterrupta de 40 anos como atriz, comediante, humorista e autora de sucesso nacional e internacional amplamente reconhecido. De resto, o mesmo aconteceu com a Regina Duarte, no Brasil, e com o James Woods e o Mel Gibson, nos Estados Unidos, o que só demonstra o viés antidemocrático e marxista/cultural que caracteriza a maioria da comunicação social e da classe artística.
Um jornalista de seu País, Luís Osório, fez uma análise a seu respeito e escreveu que a senhora “é muito mais perigosa do que a larga maioria das pessoas pensa”. Que perigo é este que a senhora representaria?
Não conheço esse tal Luís Osório e tenho a certeza que 99,9% da população portuguesa também não faz a mínima ideia de quem ele seja, por isso não vou dar importância àquilo que não tem importância nenhuma. O meu passado e o meu presente como atriz, como pessoa pública e como ser humano fala por si só e está registado um pouco por todo o lado e, de resto, ter uma determinada opinião política ou ideológica por si só jamais poderá representar qualquer tipo de perigo numa sociedade livre e democrática, pelo que as considerações desse sujeito só fazem sentido junto de mentes doentes e retorcidas que cultivam a censura e o cancelamento ideológico e cultural.
Em um post, meses atrás, a senhora disse que a Globo critica o presidente Jair Bolsonaro em razão do corte de verbas publicitárias federais. O que acha da emissora?
Considero a minha passagem pela TV Globo como um dos melhores e mais prestigiantes pedaços da minha carreira. A TV Globo foi, mais do que é atualmente, a terceira maior estação de televisão do mundo e não está ao alcance de qualquer um, sobretudo sendo estrangeiro, fazer parte dos seus quadros artísticos. Eu fui das poucas atrizes portuguesas que teve o privilégio e a honra de fazer ficção na TV Globo e continuo a ter muito carinho pela emissora, mas não posso, em nome da verdade, concordar com aquilo que por lá se vem passando nos últimos anos, sobretudo no que diz respeito à informação e à ficção que de há muito tempo a esta parte vêm perdendo a isenção, a classe e a distinção que as caracterizaram num passado mais ou menos recente. Nos tempos que correm, a informação da emissora brasileira é absolutamente inenarrável e se caracteriza por ser falsa, deturpadora, pró-globalista e enviesada à esquerda e por isso a credibilidade jornalística da emissora é praticamente nula junto dos telespectadores mais informados, mais cultos e mais responsáveis. E o mesmo se passa com a ficção que vem perdendo a qualidade que a caracterizava, que está focada na promoção da maldita ‘ideologia de gênero’, em guerrilhas ideológicas e raciais completamente absurdas e numa censura social e ideológica como nunca antes se tinha visto. E para mais, o afastamento em massa de autores e atores tão importantes, talentosos e prestigiados, como por exemplo o Miguel Falabella, veio empobrecer imenso a antes rica ficção da TV Globo, que hoje mais não é do que uma máquina de triturar lixo televisivo do mais básico e perverso que há.
Aceitaria novo convite para atuar no canal?
É claro que eu gostaria de voltar a trabalhar na TV Globo, mas sinceramente não acredito que isso se venha a concretizar por várias razões: a emissora já não dispõe das capacidades financeiras do passado, a atual direção não está definitivamente interessada em contratar atores politicamente engajados e conservadores como eu e, da minha parte, confesso que a qualidade das produções globais deixa muito a desejar. Nesta altura, preferia muito mais fazer uma novela ou um seriado na Record TV do que uma novela ou um seriado na Rede Globo.
Sua atuação política cresce a cada dia. Já pensou em ser candidata à Presidência de Portugal?
Atualmente eu sou Deputada Municipal em Cascais, Mandatária para o Círculo Eleitoral Fora da Europa (que inclui obviamente o Brasil) e sou a 9ª candidata a Deputada para a Assembleia da República, numa lista de 53 candidatos pelo Chega. A minha atividade política é muito intensa (nesta altura estamos em plena campanha eleitoral para as próximas eleições legislativas), mas não está no meu horizonte algum dia me candidatar a um cargo tão importante como a Presidência da República porque esse cargo se destina a alguém com um perfil que eu para já julgo não possuir. O meu maior desejo é ver, a breve trecho, o Dr. André Ventura como 1º Ministro e o Dr. Passos Coelho como Presidente da República. Tenho a certeza que quando tal acontecer Portugal se transformará na Suíça do sul da Europa.
O que a senhora assiste na TV? Consome alguma programação brasileira?
Assisto ao Jornal da Record todas as noites e gosto de assistir ao ‘The Noite’ do Danilo Gentili, no SBT. Costumo seguir as séries de qualidade da FOX e da AXN e não perco os documentários sobre viagens e mergulho que passam nos canais Travel e Odisseia. Não vejo televisão portuguesa porque considero que em Portugal se produz atualmente uma das piores televisões do mundo!