Sucesso de novela turca aumenta pressão sobre a principal herdeira da Record
Supervisora de teledramaturgia, Cristiane Cardoso insiste nas tramas bíblicas que já não repercutem tanto no Ibope
Não é exagero colocar ‘Força de Mulher’ como um dos fenômenos da TV aberta em 2024. A novela da Turquia ocupa frequentemente o 1º lugar entre os programas mais vistos da Record.
Fica na casa dos 8 pontos de média, índice garantidor da vice-liderança no Ibope e mais que o dobro das produções do SBT exibidas no mesmo horário, ‘A Caverna Encantada’ e ‘As Aventuras de Poliana’.
Qual o segredo desse sucesso inesperado? A fórmula é antiga e quase infalível: uma protagonista, Bahar (Özge Özpirinçci), em luta contra tudo e todos para proteger os filhos. Quem resiste a uma mãe sofredora vítima de infindáveis injustiças e desgraças? Novela clássica, como as de antigamente.
Este êxito de um produto importado – como foi também o da série canadense de época ‘Quando Chama o Coração’, em 2021 – ressalta a dificuldade da teledramaturgia original da Record. As tramas baseadas em textos da Bíblia não atraem mais tanto público.
As temporadas de ‘Reis’ (2022 a 2024), por exemplo, não chegaram perto dos números de ‘Os Dez Mandamentos’, de 2015. Ficaram atrás também do desempenho de roteiros não religiosos, como o de ‘Escrava Mãe’ (2016-2017), e a maioria não se igualou ao da problemática ‘Apocalipse’ (2017-2018).
Sem ter produções de ficção que registrem dois dígitos no Ibope, a Record, assim como o SBT, perde a oportunidade de se aproximar da Globo. O canal líder vive crise na faixa das 9 com ‘Mania de Você’, estacionada em 21 pontos, média mais baixa já aferida.
Comprar uma telenovela pronta de outro País, como ‘Força de Mulher’, custa bem menos do que produzir uma inédita no Brasil. Cada vez mais, as redes de TV reveem os orçamentos de seus projetos e optam por escalar atores com salários menores. Um produto de TV precisa dar audiência satisfatória e repercutir nas redes sociais para atrair os grandes anunciantes, cada vez mais inclinados a direcionar verbas milionárias à internet.
A supervisora de teledramaturgia da Record é Cristiane Cardoso, 53 anos, filha mais velha do proprietário do canal, o bispo Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus. Ela comanda o departamento e escreve obras inspiradas nas Escrituras.
Após assumir a função, há quase 10 anos, demitiu os autores veteranos e impôs sua visão sobre o rumo das ficções da emissora. Parte da imprensa a vê com desconfiança – ou preconceito, se o leitor preferir – por ser herdeira do império de comunicação, criar novelas sem experiência anterior na área e aplicar no trabalho as normas da religião evangélica.
Discreta, Cristiane Cardoso não reage às críticas publicamente. No momento, está envolvida na produção da série ‘Paulo, o Apóstolo’. Como apresentadora, faz o ‘The Love School – Escola do Amor’, ao lado do marido, bispo Renato Cardoso. O programa exibido aos sábados orienta solteiros e casados a atingir um relacionamento feliz.
A autora participa ainda da plataforma de streaming Univer Vídeo, focada em conteúdo cristão. Atualmente, é vista na temporada de ‘Meditação da Palavra – Hebreus’. Ela também promove eventos para mulheres da Universal no Templo de Salomão, a sede da igreja na zona leste de São Paulo.