Trans Buba ganha status de protagonista no meio de personagens sem carisma
Personagem interpretada pela estreante Gabriela Medeiros consegue se desvencilhar do preconceito de gênero
A segunda fase de ‘Renascer’ não tem a poesia dos capítulos iniciais. A maioria dos personagens perdeu simpatia. O termômetro das redes sociais mostra uma reação fria do público. No Ibope, a audiência está satisfatória, mas não chega a impressionar.
Uma surpresa positiva desta etapa da novela das 21h da Globo é o apoio popular a Buba, a jovem transexual da trama. Foi um grande acerto a escalação da atriz Gabriela Medeiros, uma novata na teledramaturgia.
Ela possui carisma natural (algo que nenhuma escola de interpretação ensina) e conduz o papel com extrema habilidade. Oferece a dose certa de drama nas cenas densas com o namorado Zé Venâncio (Rodrigo Simas). Aliás, os dois têm a melhor química do elenco.
Ao mesmo tempo em que sente a necessidade de gritar ao mundo o direito de existir como mulher trans, Buba se recolhe em gestos delicados, voz baixa e expressividade facial contida.
Uma interpretação quase minimalista, comum no cinema, e que neste caso funciona bem na TV. Buba virou a heroína de ‘Renascer’. A soma da boa construção do papel e do talento de sua intérprete desmonta os transfóbicos de plantão.
Na versão de 1993 da saga novelesca, a personagem era intersexo (hermafrodita, na definição daquela época) e vivida por uma atriz cis, Maria Luiza Mendonça, que também conquistou a torcida dos telespectadores.
As mudanças no papel, ainda que tenham gerado protestos compreensíveis de pessoas intersexuais que buscam maior visibilidade e compreensão, foram feitas com sensibilidade pelo autor-adaptador Bruno Luperi.