Três ações de Bolsonaro afetaram em cheio o bolso da Globo
Presidente cumpre a promessa de campanha de ser terrivelmente rigoroso com a emissora que sempre criticou
“Acabou a mamata”, anunciou Jair Bolsonaro. Ele se referia à TV Globo. Ao longo da corrida presidencial de 2018, o baluarte da direita prometeu cortar ao máximo a propaganda federal para a emissora.
Cumpriu a palavra. Na verdade, fez mais, bem mais. Sob seu governo, o canal líder em audiência – assumidamente crítico ao estilo de ser e gerir do ex-capitão – viveu momentos tensos.
Mudança nos contratos
A Receita fez uma devassa nas relações de trabalho da Globo com artistas e jornalistas. Para combater a ‘pejotização’ (quando há recolhimento menor de tributos ao governo), aplicou multas milionárias e cobrou de vários famosos impostos maiores com base nas alíquotas de Pessoa Física.
Essa operação fez a emissora voltar a registrar seus principais contratados do departamento artístico e do jornalismo por carteira assinada, seguindo as regras da CLT.
O revés nas relações trabalhistas gerou aumento substancial de custos. Para amenizar o impacto financeiro, o canal produziu uma onda de demissões de veteranos. Boa parte dos que ficaram aceitaram redução salarial na transição de Pessoa Jurídica para funcionário celetista.
Em entrevista ao podcast ‘Inteligência Ltda’, o ex-repórter especial Marcos Uchôa disse que Bolsonaro “foi em cima” da Globo logo no primeiro ano do mandato.
Redução de verbas
Entre 2003 e 2014, ao longo dos 2 mandatos de Lula e do 1º de Dilma Rousseff, o Grupo Globo recebeu em média R$ 560 milhões de verbas publicitárias do governo federal.
Com Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, a quantia despencou. Entre 2019 e 2021, a TV Globo teve do orçamento específico da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) R$ 47,2 milhões por espaços nos intervalos. Não está nessa conta o investimento das estatais.
Profissionais do mercado publicitário estimam que nesses 3 anos de bolsonarismo no poder, a emissora carioca tenha deixado de receber cerca de R$ 700 milhões de Brasília.
A propaganda federal nunca representou mais do que 5% das receitas totais da empresa da família Marinho. Com Bolsonaro, caiu para menos de 1%. Esse dinheiro fez falta? Obviamente.
De 2019 a 2020, a Globo registrou queda no faturamento: de R$ 14 bilhões para R$ 12,5 bilhões. No ano passado, conseguiu aumentar as receitas para R$ 14,4 bilhões, porém, por conta dos custos elevados de suas operações, teve prejuízo de R$ 174 milhões.
Aumento de dívidas pela política cambial
Uma ação indireta de Jair Bolsonaro também prejudicou a ‘inimiga’ Globo. As maiores dívidas da companhia são atreladas ao dólar. Desde que o presidente assumiu, a moeda norte-americana teve valorização expressiva.
A cotação em relação ao real chegou a subir 50% em 2021. Com isso, o endividamento da Globo aumentou. Em dezembro do ano passado, o grupo tinha dívidas de R$ 5,8 bilhões – R$ 300 milhões a mais do que no final de 2020.
Apesar desse crescimento do débito, a situação é confortável. Em janeiro deste ano, a empresa emitiu bônus, captou 400 milhões de dólares e antecipou a negociação dos vencimentos de 2025 e 2027. Agora, tem que se preocupar somente com as dívidas que vencem em 2030 e 2032.