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Triste ver o legado de Gugu ser ofuscado por um telebarraco

Apresentador tem memória sacrificada em interminável processo com superexposição da intimidade

28 set 2020 - 13h13
(atualizado às 13h28)
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Uma das maiores qualidades de Gugu Liberato — tanto o artista quanto o homem por trás da fama — era a discrição. Ele manteve a família preservada da invasão de privacidade tão comum no mundo das celebridades. Pessoalmente, o apresentador tinha motivo especial para se blindar: não queria sua sexualidade explicitada na mídia.

Gugu mudou a TV na década de 1990, mas o espólio artístico perdeu espaço para a guerra por sua riqueza material
Gugu mudou a TV na década de 1990, mas o espólio artístico perdeu espaço para a guerra por sua riqueza material
Foto: Divulgação

O cuidado com a vida íntima morreu junto com ele, em novembro de 2019. Desde então, o que se vê é um deprimente espetáculo de superexposição promovido pelas partes envolvidas na guerra pela herança bilionária. O que poderia (e deveria) ser resolvido discretamente, longe da imprensa e da curiosidade alheia, virou uma máquina de manchetes que resvalam no sensacionalismo.

O Fantástico, da Globo, cobre o caso desde o início do ano. As trocas de acusações entre advogados de Rose Miriam Di Matteo e da família Liberato (representante legal dos três filhos de Gugu com a médica) lembram aqueles tensos filmes de tribunal. Às vezes, o caso se assemelha também a uma novela com trama principal em torno de poder e dinheiro, com o afeto sendo mero coadjuvante. 

Em alguns momentos há similitude com os barracos do Casos do Família, do SBT. Aquilo que Gugu tanto evitou mostrar e ver sob julgamento público — suas relações afetivo-sexuais — se tornaram parte indissociável da competição pela fortuna. A suposta bissexualidade ou homossexualidade do artista caiu no boca a boca: todas as matérias de TV citam ou insinuam tal condição.

E assim, tristemente, sua carreira gloriosa, com a renovação do gênero programa de auditório, fica ensombrada. A última atração comandada por ele, o Canta Comigo, da RecordTV, foi indicada ao Emmy Internacional, porém, na mídia e nas redes sociais, pouco se falou sobre como aquele formato fez bem à carreira do apresentador e o deixou feliz nos bastidores.

A relevância artística de Gugu precisa ser protegida e propagandeada. Ele não merece ser lembrado somente pelo dinheiro em disputa e em razão da curiosidade a respeito do que fazia entre quatro paredes.

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