Último ato de Mamberti foi reverenciar o companheiro morto
Ator se assumiu bissexual e falou abertamente da relação de quase 40 anos com Ed Torquato
Lamentável Sérgio Mamberti ter saído de cena longe dos palcos, do cinema e da televisão. Ator de imenso talento, ele morreu aos 82 anos de falência múltipla de órgãos, em São Paulo. Estava afastado de sua arte por conta das restrições impostas pela pandemia de covid-19.
O artista será sempre lembrado por três papéis interpretados com vigor na TV. O cinéfilo mordomo Eugênio de ‘Vale Tudo’ (1988-1989), o genial Dr. Victor do ‘Castelo Rá-Tim-Bum’ (1994-1997) e o vilão nazista Dionísio/Klaus de ‘Flor do Caribe’ (2013).
Mamberti emprestava a seus personagens o jeito bonachão, a dicção perfeita, o humor fino. Destacava-se tanto no drama quanto na comédia. Nos bastidores dos estúdios, sua presença carismática era celebrada por colegas e técnicos.
Politizado, o ator foi defensor aguerrido de melhores condições de trabalho para os profissionais da classe artística e voz poderosa pela liberdade de expressão. Ocupou diferentes cargos no Ministério da Cultura no governo de Lula.
Um dos últimos atos públicos de Sérgio Mamberti foi lançar a biografia ‘Senhor do Tempo’ (Edições SESC), em abril. Pela primeira vez, falou abertamente da bissexualidade e dos dois grandes amores de sua vida.
Foi casado de 1964 a 1980 com a atriz Vivian Mahr. Tiveram três filhos: Duda, Carlos e Fabrízio. Ela morreu aos 37 anos. Dois anos depois, o ator conheceu o pesquisador cultural Ednardo Torquato. A amizade se transformou em romance. Adotaram uma filha, Daniele.
O relacionamento de 37 anos terminou com a morte de Ed, aos 62 anos, em 2019. No livro, Mamberti fez uma bela homenagem a seus parceiros. “Sei que nunca vou me recuperar dessas duas perdas, mas a vida exige coragem e esperança para seguir em frente”, refletiu.
Ainda bem que, antes de partir, o ator teve tempo de revisitar a própria história e homenagear a quem tanto amou.