Vitória da Beija-Flor é um recado à TV: mostre a realidade
Telejornalismo precisa fazer autocrítica a partir do enredo sobre o caos na vida brasileira
Menos Trump, mais Temer. Menos notícias gringas, mais manchetes sobre o Brasil real.
O telejornalismo, às vezes, dedica tempo excessivo a notícias que, na prática, não afetam o cidadão comum.
Exemplo: as repetitivas reportagens a respeito da investigação contra o presidente americano Donald Trump.
O ‘Jornal Nacional’ chega a colocar o assunto como chamada para o próximo bloco mais de uma vez na mesma semana.
Supervalorização de tema pouco relevante ao Brasil profundo. Em casa, diante da TV, milhões de telespectadores devem pensar: o que isso tem a ver com a minha vida?
O cotidiano do País, ou seja, o caos generalizado – na segurança pública, na educação, na saúde, na política – ganha espaço menor do que merece.
A vitória da Beija-Flor no desfile do grupo especial do Carnaval do Rio, com o enredo ‘Monstro É Aquele Que Não Sabe Amar (Os Filhos Abandonados da Pátria Que os Pariu), transmite um recado à imprensa e, especialmente, ao telejornalismo.
Precisamos de mais notícias locais e regionais para enxergar nossa realidade na tela da TV.
Não se trata de alienação sobre o resto do planeta. É que, neste momento crítico, o microcosmo ganha maior importância.
O principal papel do telejornalismo é justamente dar cara e voz às dores e angústias do brasileiro anônimo.
A vida real registrada pelas câmeras das emissoras serve de denúncia e, ao mesmo tempo, estimula as necessárias mudanças no País.
A força imensurável da televisão pode colaborar para a transformação social – não apenas ao noticiar, mas principalmente ao suscitar reflexão e a discussão das soluções possíveis.
Jornalistas que definem as pautas dos telejornais precisam repetir uma mesma pergunta várias vezes ao dia: essa notícia interessa realmente à maioria dos brasileiros?
A Beija-Flor soube aproveitar a desordem geral para fazer pertinente crítica social embalada em arte. Não é exagero afirmar que seu desfile foi jornalístico.
Cabe aos telejornais focar na realidade urgente que está diante dos nossos olhos – ainda que isso nos afaste temporariamente de outros mundos.
Veja também