Voltamos a torcer por um casal após romances chatos na TV
Relação fascinante de Jove e Juma fisga o público e faz ‘Pantanal’ aumentar a audiência da Globo em 35%
A essência da telenovela é o amor entre um mocinho e uma mocinha. Do primeiro ao último capítulo, eles enfrentam vilões, mentiras, tragédias, separações temporárias e outros obstáculos. Terminam juntos pela força inesgotável da paixão – e seguem felizes para sempre.
Essa fórmula baseada na dramaturgia criada pelo filósofo grego Aristóteles, 300 anos antes de Cristo, foi desprezada nas últimas décadas na TV brasileira. Muitos autores tentaram reinventar o formato.
A maioria fracassou. Os telespectadores querem mesmo a repetição da dinâmica shakespeariana de Romeu e Julieta com alguma contemporaneidade.
Prova disso é o sucesso da trama de Jove (Jesuíta Barbosa) e Juma (Alanis Guillen) em ‘Pantanal’. Os números não mentem: o folhetim rural tem marcado médias de 30 pontos, 8 a mais do que a antecessora ‘Um Lugar ao Sol’.
O rapaz urbano com profunda carência afetiva encontra uma jovem de espírito selvagem na imensidão do Pantanal. Pessoas tão diferentes e, ao mesmo tempo, com tanto em comum. Como não se fascinar com essa união exótica?
Funcionou em 1990, na versão exibida na extinta TV Manchete, e funciona agora no remake da Globo, mesmo com as profundas mudanças sociais, comportamentais, tecnológicas e nas relações pessoais nesses últimos 32 anos. Amor é amor: ontem, hoje e sempre.
Sim, é necessário ter um pouco de benevolência com Juma. No mundo atual, difícil existir uma pessoa tão chucra e isolada das modernidades. Mas é novela, gente, precisamos dar um desconto. Os puristas que exigem total verossimilhança devem buscar outro tipo de entretenimento.
A menina-onça e o rapaz com síndrome de Peter Pan formam o casal mais interessante da teledramaturgia nos últimos anos. Não víamos uma dupla romântica com tanta química e tão popular desde a policial Jeiza (Paolla Oliveira) e o caminhoneiro Zeca (Marco Pigossi) de ‘A Força do Querer’, de 2017.
Para melhorar, falta apenas um bocadinho de humor brejeiro. O Jove original, interpretado por Marcos Winter, era mais debochado na relação com sua amada indomável vivida por Cristiana Oliveira. Não se trata de comparar os atores e as atuações, apenas destacar que mais pitadas de comédia fariam bem ao roteiro. Afinal, rir é afrodisíaco.
O sentimento real surgido entre Jesuíta e Alanis nas gravações de ‘Pantanal’ dá ainda mais tempero à ficção. Os dois foram ‘traídos’ pelo beijo técnico e acabaram enamorados de verdade. Parece coisa de novela... Ops!