Voz censurada da direita, Rachel Sheherazade renova com SBT
Âncora polemista continua na emissora apesar da mordaça imposta por Silvio Santos.
“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”, escreveu Voltaire, filósofo francês ativista dos direitos civis.
A liberdade de expressão é a base do jornalismo. Mas nem sempre os jornalistas estão realmente livres para se manifestar.
Rachel Sheherazade deixou de fazer comentários contundentes após a repercussão ruidosa de alguns deles.
Quem não se lembra a defesa que a apresentadora fez dos cidadãos que amarraram em um poste um suspeito de roubo?
O próprio Silvio Santos, que financia o telejornalismo de seu canal por mera obrigação e prefere não desagradar governantes, determinou o fim das opiniões no ‘SBT Brasil’.
O jornalismo da emissora, conhecido pelo estilo burocrático, perdeu muito com a censura imposta a Sheherazade. Era a única voz que repercutia.
Boatos surgidos nas últimas semanas geraram dúvida a respeito da renovação do contrato da jornalista, no ar em rede nacional desde 2011 – antes, circularam rumores de possível transferência dela para a Band ou Record.
Na tarde de quinta-feira (15), a assessoria de imprensa do SBT enviou comunicado à imprensa: Rachel Sheherazade continuará na bancada do principal telejornal da casa.
Tudo indica que, apesar da renovação do vínculo, as condições diante das câmeras serão as mesmas: a proibição de realizar o jornalismo opinativo que movimenta as principais redes de TV do planeta.
Evangélica e simpática aos conceitos da direita, Sheherazade representa milhões de brasileiros conservadores.
Seria importante que, em nome da tão defendida liberdade de expressão, ela pudesse voltar aos comentários e suscitar debate a respeito de temas relevantes.
Como defendeu Voltaire, o direito de se exprimir é universal. Os possíveis exageros – insultos, preconceitos, ataques aos direitos individuais – devem ser punidos no âmbito da Justiça, e não com censura prévia.
A maioria dos jornalistas, inclusive em redações de TV, milita pela esquerda. Rachel é uma exceção malvista por boa parte dos colegas de profissão.
Mas essa exceção não pode ser calada à força. O embate de ideias está entre as maiores riquezas da prática jornalística. Quando apenas uma opinião tem peso e espaço, o jornalismo vira mera propagação.
Ainda bem que existem as redes sociais. Nelas, Sheherazade se expõe, recebe apoio e críticas; exerce o direito democrático de opinar, divergir, interagir.
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