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Nasce um novo MASP: prédio anexo com 14 andares é inaugurado na Av. Paulista
Heitor Martins, diretor-presidente do MASP desde 2014, e o arquiteto Martin Corullon falam sobre a ampliação do museu em prédio vizinho
Em 7 de novembro de 1968, a rainha Elizabeth e seu marido, o príncipe Philip, participaram do evento mais importante da primeira e única viagem de um monarca britânico ao território brasileiro até hoje. O casal real inaugurou o recémconstruído prédio do Museu de Arte de São Paulo, o MASP. A partir daquele dia, a instituição fundada em 1947 pelo jornalista e mecenas Assis Chateaubriand mudava-se oficialmente da Rua 7 de Abril, no centro da capital paulista, para a Avenida Paulista, novo polo financeiro da pujante metrópole que se firmava como a mais poderosa cidade do país. A inconfundível estrutura de concreto guardada por pilares vermelhos logo se tornaria um dos cartões-postais mais conhecidos do Brasil e o ponto turístico mais visitado de São Paulo.
Pois agora, 56 anos depois, o maior museu brasileiro vai crescer. Após um complexo projeto de expansão em curso há uma década, o MASP ganhará, a partir desta sexta-feira, 28 de março de 2025, um novo espaço que aumentará sua área em quase sete mil metros quadrados. O ícone modernista projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi ganhou um novo edifício de quatorze andares, conectado por um túnel [que deverá ser inaugurado no segundo semestre de 2025]. O local abrigará um laboratório especializado em técnicas de restauro, salas de aula, café, restaurante e áreas para eventos.
O impacto de Tarsila
Entre tantas novidades, o maior atrativo da iniciativa é a possibilidade de ampliar exibições das obras de arte da coleção do museu. Atualmente, pouco mais de 1% delas podem ser vistas pelo público. Com cinco novas galerias, o novo complexo aumentará a capacidade expositiva do MASP em 66%, fazendo com que sua área total ultrapasse os 17 mil metros quadrados.
Apesar de soar como ironia, é possível dizer que o MASP cresceu tanto que ficou pequeno para o seu público. A exposição de Tarsila do Amaral em 2019, que exibiu 92 trabalhos da artista e foi a maior já realizada até hoje no país, recebeu mais de 400 mil pessoas em apenas três meses. A concretização da expansão atende o desejo do museu de acolher ainda mais público.
O novo projeto é uma imensa realização pessoal. A emoção é enorme, porque tem uma longevidade muito grande e reafirma a ideia da Avenida Paulista como um grande eixo cultural de São Paulo, reflete Martins.
Propriedade de Van Gogh
O MASP realiza atualmente entre oito e dez exposições temporárias por ano, eventos que ocupam cerca de 60% da sua área. Esse número poderá ser ampliado, juntamente com um aumento substancial das peças exibidas. Basta imaginar que, das cerca de 12 mil obras de propriedade da instituição, apenas 160 ficam expostas de maneira permanente. A ideia é ampliar a exibição de um acervo que é absolutamente único.
Exemplos não faltam. Dos cinco quadros do holandês Vincent Van Gogh em propriedade de museus na América Latina, quatro deles estão no MASP.
“Há muita expectativa em torno desse projeto porque ele representará o nascimento de um novo MASP”, comemora Heitor Martins, diretor-presidente do MASP desde 2014. “Criado há mais de meio século, o prédio original não foi desenhado para as necessidades e exigências dos dias de hoje. Não possui bilheterias, não tem docas ou áreas de acolhimento. Ao incorporar um novo edifício, construído dentro dos melhores padrões museológicos contemporâneos, será possível inaugurar uma nova fase do museu.”
Heitor é o grande responsável pelo projeto de ampliação do MASP. Esse legado histórico à cultura brasileira é o coroamento de uma bem-sucedida carreira dedicada à arte, que ganhou destaque quando o consultor de empresas de 56 anos, nascido em Marília, interior de São Paulo, tornou-se presidente da Fundação Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Foi ainda vice-presidente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp, e integrou diversos conselhos nas áreas de cultura e educação. Além do novo prédio, e do importante projeto de preservação e restauro do edifício original e da revitalização financeira do museu, sua gestão fica marcada pela escolha do curador Adriano Pedrosa como diretor artístico, nome brasileiro que vem conquistando cada vez mais destaque no concorrido mercado global.
Ele também ressalta a importância do amadurecimento da sociedade brasileira no financiamento do projeto. Em sua gestão, foram criados programas de doação de pessoas físicas e empresas, como o Amigo MASP e a Empresa Amiga MASP. O novo prédio foi criado a partir da estrutura que já existia. O Edifício Dumont-Adams, construído nos anos 1950 para uso residencial, foi comprado pela Vivo em 2005 e doado ao MASP no ano seguinte.
Projeto complementar
Quando era presidente da Bienal, Heitor conheceu o trabalho do escritório METRO Arquitetos Associados, dos sócios Martin Corullon e Gustavo Cedroni. Foram os responsáveis pela expografia da 30ª Bienal de Arte de São Paulo, em 2012, projeto pelo qual foram premiados pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Segundo Martin, é essencial ter em mente que um prédio não vai competir com o outro.
O histórico prédio de vigas vermelhas passa a ser oficialmente conhecido como Edifício Lina Bo Bardi. Já o novo será batizado de Edifício Pietro Maria Bardi, marido de Lina e primeiro diretor artístico do MASP. Martin fez escolhas arquitetônicas para que a fachada do Pietro preservasse o destaque icônico do Lina. Como o nome completo do MASP é “Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand”, o trio responsável pela idealização e criação desse monumento artístico brasileiro (o casal Bo Bardi e Chatô) está reunido para mais uma inauguração na Avenida Paulista.