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Nathalia Dill analisa aprendizados com a maternidade, pressão estética e envelhecimento
A atriz de 38 anos está em cartaz com a peça 'Três Mulheres Altas', no teatro Bravos, em São Paulo
Na tarde quente em que Nathalia Dill conversa com a Velvet, no Rio de Janeiro, ela veste uma camiseta branca, calça confortável, nenhuma maquiagem e os cabelos presos em um coque feito na hora. Bela e natural. O look despojado segue o mesmo tom da conversa: a atriz fala sem rodeios, é sincera quanto às suas inseguranças e não segue script.
Desde o dia 7 de março, Nathalia voltou aos palcos para mais uma temporada da peça “Três Mulheres Altas”, no Teatro Bravos, em São Paulo — clientes Vivo tem 50% de desconto no ingresso. A obra, uma adaptação do clássico norte-americano de Edward Albee, trata de temas duros. Mulheres e a solidão, a maternidade e o envelhecimento. Na trama, há três personagens femininas, chamadas por letras. A, a mais velha, B, de meia idade, e C, uma jovem, interpretada por Dill, de 38 anos.
O público acompanha as questões das três protagonistas ao longo de diferentes fases da vida (com direito a um plot twist daqueles, mas sem spoilers por aqui). Nathalia conta que, desde 2022, quando deu vida à mais jovem das mulheres, pela primeira vez ela mesma se transformou. A mudança, em sua percepção, tem relação direta com o crescimento da filha, Eva, hoje com 4 anos: quando ela era um bebê, Nathalia se sentia mais conectada com a juventude de sua personagem. “Agora, cada vez mais entendo e me aproximo da personagem B, com questões da maturidade”, diz. Perceber a filha crescer lentamente tem feito com que ela questione a relação que quer construir com a pequena no futuro.
Penso muito na educação de Eva, no que eu projeto para a frente. Entender o que é importante plantar para não ter uma surpresa e um dia pensar: ‘O que aconteceu?’ Porque, de repente, o filho se torna um desconhecido.
De fato, a grande questão da personagem B é com o filho dela. Questionamentos de quem ele se tornou, como ela o criou, o que que ela fez no passado que culminou naquele presente são comuns àqueles que educam seres humanos. “É justamente o que estou vivendo agora. A gente [ela e o marido Pedro Curvello] busca estar sempre atento! Gostamos de conversar com ela, explicar as coisas. Não dá para ter preguiça da educação. Eu me interesso pelas coisas dela e valorizo as questões que surgem a cada discussão para entender melhor o que ela sente”, diz.
Eva facilita esse processo, surpreendendo com suas tiradas engraçadas. Nathalia conta que a garota acha que é mais velha e trata as crianças mais novas como bebês e usa vocabulário adulto, cheia de eloquência.
Ver o tempo passar
O envelhecimento é um tema central de “Três Mulheres Altas” e Nathalia Dill vem se deparando com a reflexão sobre a imensa pressão estética vivida pelas mulheres. Ela cita a atriz Claudia Raia como um exemplo de mulher que quebra inúmeros paradigmas em relação ao assunto.
“Só pelo fato de Claudia existir, pela forma como ela fala, já é muito importante. Muitas outras mulheres também têm colocado essa questão, porque realmente é uma cobrança muito mais feminina do que masculina”, ela reflete, ao lembrar que, recentemente, em um jantar com alguns amigos, escutou que um deles, seis anos mais novo que ela, estava orgulhoso de seus fios grisalhos porque, nas reuniões, sentia que tinha mais credibilidade. A fala do amigo ecoou em Nathalia. “É impressionante como a mesma coisa que para um homem traz credibilidade e é até um sex appeal, um charme, para a mulher é sinônimo de descuido. A mulher grisalha é uma desleixada, aquela raiz branca da mulher é tipo um horror”, reflete.
Esse jogo, porém, pode estar se transformando, apesar do longo caminho necessário para alterar esse cenário. Nathalia cita as indicações de atrizes como Fernanda Torres, de 59 anos, e Demi Moore, de 62, ao Oscar como exemplos positivos, mas, mesmo sendo bem mais nova, tem sentido que a energia não é igual ou que a pele não é mais a mesma de uns anos atrás. “É complexo, claro. Ninguém quer envelhecer”, diz ela.
Estética x saúde
E como lidar com isso? Buscando saúde, acima de tudo. Ela procura fazer exercícios, ter tônus muscular. “Acho que precisamos falar sobre essa pressão e quanto mais isso estiver ilustrado, mais avançamos”, ela diz. A peça, aliás, fala exatamente sobre o envelhecimento. “O que essa mulher teve que viver, fazer, suportar”, argumenta. É uma das razões pelo qual o texto de Albee, escrito há 35 anos, segue tão atual.
A personagem A, que está na terceira idade e alcançou uma vida bastante confortável, convive diariamente com a solidão. “Vi um vídeo que mexeu comigo. Uma mulher estava contando que trabalha em uma clínica de repouso e que há pessoas que não recebem visitas regulares. Segundo ela, no vídeo, os canalhas também envelhecem. A pessoa que nunca deu carinho, atenção, um olhar para o outro, não vai ter cuidado na velhice”, ela compara com a personagem idosa do espetáculo. “É muito difícil, porque a pessoa erra sem saber que está errando”.
Para a atriz, o bom envelhecimento é uma soma de fatores. Uma estrutura que a permita viver confortavelmente, o cultivo de boas relações com a filha, com o companheiro e o com mundo, e um corpo que seja capaz de garantir-lhe autonomia. “Penso muito na saúde, em nunca extrapolar puramente por estética. Então, fico sempre nesse limite do que eu tô fazendo pra minha saúde, do que eu tô fazendo por estética, procurando que as duas coisas caminhem juntas”, finaliza.
É como se os atores não tivessem mais papeis ao envelhecer. Como não tem personagem? São as histórias mais ricas. Quanto mais as pessoas vivem, mais interessantes são, mais vida elas têm para dividir.
"MULHERES ALTAS"
Teatro Bravos
Rua Coropé, 88, São Paulo
de R$ 19,90 a R$ 160 (cliente Vivo tem 50% de desconto)
Temporada:
até 11 de maio
Às quintas, sextas e sábados, às 20h
Aos domingos, às 17h