Com a debandada de vários concorrentes estrangeiros, os analistas em Wall Street estão refazendo suas projeções para o leilão de privatização do Banespa, marcado para segunda-feira. "Projeto 40% de probabilidade para o Bradesco como vencedor do leilão; 30%, para o Itaú; 20%, para o Unibanco; e 10%, para o HSBC", afirmou Brent Erensel, analista do Deutsche Bank. Antes, Erensel apostava na vitória de um banco estrangeiro, mais especificamente o BBVA, que anunciou sua desistência do processo de privatização esta semana. O analista baseava a aposta no fato de que a participação mais agressiva dos candidatos estrangeiros no leilão poderia elevar muito o ágio sobre o preço mínimo fixado pelo governo para o Banespa, o que provocaria uma diluição de capital indesejada para o banco brasileiro que viesse a vencer e também retirassem as ações de minoritários do mercado.
"Com um número menor de candidatos, acho muito difícil haver ágio. Com isso, aumentam as chances de um banco local ganhar", afirma Erensel. "O que reforça a probabilidade de não haver ágio no leilão são as razões para terem sobrado poucos candidatos", ele disse. Segundo Erensel, essas razões são: o potencial de passivos a ser descoberto pelo comprador; a complexidade financeira; e a deterioração dos ativos do Banespa com todo o atraso para a realização da venda.
O analista do banco de investimentos Lehman Brothers, Robert Lacoursiere, também acredita que o Bradesco é o candidato mais forte. Há duas semanas, Lacoursiere também apostava no BBVA como provável vencedor. Ele ainda acredita que um banco estrangeiro, especialmente o Santander, será um forte candidato. "Mesmo com a saída de outros candidatos estrangeiros, como o BankBoston, o Citibank e o BBVA, acho que poderá haver um ágio de até 25% sobre o preço mínimo", afirmou.
O analista do banco Bear Sterns, Jason Mollin, considera os bancos brasileiros mais capacitados para comprar e absorver o Banespa às suas estruturas. "Além disso, as oportunidades de redução de custos são maiores para os bancos brasileiros do que para um estrangeiro que comprar o Banespa devido à maior semelhança do perfil da rede de agências do Bradesco, do Itaú e do Unibanco com a do Banespa", afirmou.
Segundo ele, mesmo que vários desses bancos estrangeiros estejam no Brasil há muitos anos, não seria fácil explicar para os seus acionistas ou para a diretoria na sede toda a complexidade do processo de privatização. "É díficil explicar para os acionistas em seus países de origem toda essa rede de liminares ou a oposição dos sindicatos", afirmou. Apesar de considerar o Bradesco um forte candidato, Mollin não descarta o Itaú como um dos principais concorrentes. "A compra do Banestado não afetou a capacidade do Itaú de comprar o Banespa", disse Mollin.
O mercado brasileiro ainda não descarta a possibilidade de o espanhol Santander continuar no leilão. "O Santander quer crescer no varejo e o Banespa pode ser a última grande oportunidade na privatização", comentou um profissional. Comenta-se que o Santander já teria se pré-qualificado e sua decisão só seria conhecida hoje, quando será feito o depósito de garantias.
O interesse de crescer no varejo também foi o motivo que levou o Citibank a se increver para o leilão, o que levou os analistas financeiros a se surpreenderem com a desistência do banco americano anunciada nesta semana.
No mercado, porém, o Citi ainda não é dado como carta fora do baralho. O banco já anunciou que não participará do leilão, mas vários profissoniais de mercado consultados pela Agência Estado não descartam a hipótese de o banco fazer um pré-acordo com um dos bancos que vão participar do leilão.
Os boatos de mercado envolvem, insistemente, os dois bancos nacionais "menores" pré-indentificados para a disputa, o Safra e o Unibanco. No caso do Safra, comenta-se que o banco não tem interesse em crescer no varejo e, por isto, não lhe interessaria assumir sozinho o Banespa. Numa composição com um estrangeiro, que poderia ser o Citi ou mesmo outro banco, o Safra ficaria com a área de fundos, deixando ao estrangeiro as agências. Seria um arranjo semelhante ao feito entre o ABN-Amro e o Real, em que o ABN assumiu o varejo do banco e o antigo controlador do Real ficou com os fundos, com os quais criou o banco Alpha.
No caso do Unibanco, o arranjo imaginado é mais ousado. O banco compraria sozinho o Banespa e, depois, se associaria ao estrangeiro, ou seria incorporado por ele, formando um gigante bancário tanto para o varejo quanto para o atacado.
O diretor da consultoria Austin Asis, Erivelto Rodrigues, acha que o ágio a ser pago no leilão ficará em 150%. "O interesse de Bradesco e Itaú é muito grande", justificou. Para ele, essas instituições financeiras nacionais são as mais cotadas para comprar a fatia de 30% do Banespa. "Eu não acreditava na permanência dos estrangeiros. Esses bancos teriam de fazer investimentos muito altos, com retornos demorados."
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