O espanhol Banco Santander Central Hispano (BSCH) adquiriu esta segunda-feira por R$ 7,050 bilhões (US$ 3,7 bilhões) o controle acionário do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), o que o transforma na terceira entidade bancária privada do Brasil.O grupo financeiro espanhol ofereceu uma quantia recorde deste leilão público realizado na bolsa do Rio de Janeiro, muito acima do preço mínimo (US$ 973 milhões) e das ofertas dos outros dois participantes, os brasileiros Bradesco e Unibanco.
Com isso, o Banco Santander passa a deter 30% do capital social da empresa, ou seja, 11,232 bilhões de ações, o equivalente a 60% do títulos com direito a voto. O Bradesco, primeiro banco privado do Brasil e favorito neste leilão, ofereceu US$ 980 milhões, e o Unibanco US$ 1,1 bilhão.
"O BSCH mostrou sua confiança no futuro e na estabilidade do sistema financeiro brasileiro. Esta compra confirma nossa liderança na América Latina (...) A partir de hoje, a experiência do Banespa se unirá à solidez do grupo Santander", declarou Marciel Portela, responsável do BSCH na América Latina.
O Banco Santander, presente em 12 países da América Latina onde tem um total de 22 milhões de clientes, tem ativos no Brasil de US$ 14,470 bilhões (sem contar o Banespa), mais de 500 agências e 5.000 funcionários.
Em dez minutos de leilão, acabou-se a batalha legal para impedir a privatização do Banespa, que começou em 1994.
Desde que no último 5 de janeiro, quando foram tornados públicos os requisitivos para a venda de 33% de suas ações, o processo de privatização do sexto banco brasileiro sofreu recursos judiciais impostos em sua maioria pelo Sindicato dos Bancários de São paulo, que conseguiram adiar sua venda em diversas ocasiões. O último obstáculo legal foi eliminado no sábado passado.
O preço do total das ações do Banespa, fixado em R$ 5,843 bilhões (US$ 3,075 bilhões de dólares) também provocou polêmica já que segundo estudos privados deveria ser o dobro, 6,3 bilhões de ações.
Por tudo isso, esta segunda-feira, uma centena de manifestantes desse sindicato, membros da Central Única de Trabalhadores da entidade manifastaram na entrada da Bolsa de Valores do Rio. Como declararam, ainda acreditam que o leilão seja invalidado por um recurso legal que apresentarão esta semana. Um total de 1.200 policiais do batalhão antichoque cercaram o prédio para evitar qualquer problema de alteração da ordem.
Para a diretoria do Banco Central, a venda foi um sucesso já que o valor oferecido pelo Banco Santander registrou um ágio (diferença entre o preço mínimo e o de aquisição) de 281,02%. A bolsa de São Paulo reagiu positivamente e abriu em alta (+0,39%), enquanto que o dólar registrava uma queda de cerca de 2% frente ao real, em relação a sexta-feira, na abertura do mercado cambiário.
"Privatizar o Banespa era a única forma de garantir um futuro brilhante para o banco, a economia paulista e a de todo o Brasil. A sociedade sairá ganhando", assegurou depois da venda Armínio Fraga, presidente do Banco Central. No entanto, uma pesquisa de opinião demonstrou que 63% da população de São Paulo eram contra a privatização.
Os compradores, os únicos estrangeiros presentes a esse leilão, asseguraram que pagaram um preço que consideravam justo, que será entregue em reais no próximo 27 de novembro. Os representantes do BSCH esclareceram que o Banco Central espanhol não lhes aconselhou ser prudentes na hora de aumentar sua presença no Brasil nem agir modestamente no leilão de hoje.
Também asseguraram que a "marca Banespa continuará existindo como tal" e os funcionários, que estiveram em greve na semana passada, não precisam temer pelo desemprego.
"É um banco com uma tradição importantíssima no Brasil, o nome Banespa não vai desaparecer, será apenas uma entidade mais forte, com menores serviços. Não gastamos esse dinheiro para fechar agências, ao contrário, o BSCH quer crescer com o Banespa", declarou o presidente do Banco Santander no Brasil, Gabriel Jaramillo.
Fundado em 1909, o Banespa tem R$ 28,680 bilhões em ativos totais (US$ 15 bilhões), mais de 1.300 agências, 21.000 funcionários e 2,8 milhões de clientes.
Segundo Fraga, esta foi a última oportunidade para os bancos que queriam ficar entre os seis maiores do Brasil. Neste país, os bancos estrangeiros detém 10% do setor, os públicos 54% e os privados nacionais 36%.
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