No dia em que o Banco Central divulgou o pior resultado do déficit de transações correntes (que inclui a balança comercial e de serviços ao exterior) desde a desvalorização do real em janeiro de 1999, a equipe econômica comemorou a possibilidade da entrada de cerca de US$ 3 bilhões no País com a privatização do Banespa. O chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes, explicou que o dinheiro a ser pago pelo espanhol Santander poderá dar maior folga no financiamento das contas externas este ano, mesmo não sendo mais necessário para cobrir este déficit.Segundo Lopes, os investimentos diretos previstos para entrar no País deverão financiar totalmente este rombo, que pode chegar a US$ 26 bilhões até dezembro. Ele explicou que os dólares da venda do Banespa poderão fazer com que a meta de ingresso de recursos externos seja ultrapassada, além de equilibrar o mercado de câmbio e melhorar a imagem do País no exterior.
Até hoje, já haviam ingressado no País US$ 23,8 bilhões de investimentos diretos estrangeiros e a expectativa era que chegassem em dezembro a US$ 26 bilhões. Nos primeiros 10 meses, os ingressos de recursos externos já ultrapassavam em US$ 3,6 bilhões o déficit de transações correntes.
Como este rombo já está coberto, os recursos da venda do Banespa servirão, segundo Lopes, para "engordar os investimentos diretos" no País. Qualquer sobra, porém, não poderá financiar as contas externas no próximo ano e se limita ao resultado das contas de 2000. O chefe do Depec explicou que, diferentemente das captações públicas externas (dinheiro que o governo toma emprestado lá fora), os investimentos diretos não se somam às reservas internacionais, usadas para quitar a dívida no exterior.
Lopes ressaltou que o Santander poderá usar recursos que já tem no Brasil para quitar parte do pagamento pelo Banespa, o que poderá diminuir o impacto da entrada de dólares no País. Ainda assim, o ingresso de dólares no País contribuirá para "o equilíbrio do mercado de câmbio". Em outras palavras, a maior oferta de moeda americana poderá diminuir a pressão para elevação da cotação do dólar frente ao real.
Déficit - O fraco resultado da balança comercial em outubro fez com que o País apresentasse no mês passado o maior déficit de transações correntes desde a desvalorização cambial em janeiro de 1999.
De acordo com os números divulgados hoje pelo Banco Central, o saldo das operações externas do País ficou negativo em US$ 3,480 bilhões ou seja, 41% a mais que o déficit do mesmo mês do ano passado (US$ 2,467 bilhões). Entre janeiro e outubro, o balanço de pagamento já acumula um rombo de US$ 19,413 bilhões.
Segundo o chefe do Depec, este resultado era esperado e não assusta, pois mantém a previsão de déficit de até US$ 26 bilhões no balanço de pagamentos para este ano. Para superar esta meta seria preciso um resultado negativo médio de US$ 3,2 bilhões em novembro e em dezembro, o que não é esperado. Segundo Lopes, o saldo de novembro deve ficar negativo em torno de US$ 2 7 bilhões, o que compensará a tradicional saída de recursos para pagamento de juros privados em dezembro.
No mês passado, o principal responsável pelo déficit nas transações correntes foi a concentração de pagamentos de juros da dívida externa, principalmente o dos bradies, que somaram US$ 1,575 bilhões. Em abril também há aumento do pagamento dos juros sendo que neste ano o rombo do balanço chegou a US$ 3,049 bilhões. "Naquele mês, porém, o resultado comercial não foi tão ruim quanto o de outubro", disse Lopes.
O saldo da balança comercial ficou negativo em US$ 523 milhões, contra um resultado também no vermelho de US$ 155 milhões em outubro de 1999. Contribuíram ainda para o resultado negativo o envio de lucros e dividendos de bancos para o exterior. "No ano passado houve ingresso de recursos por parte dos bancos e este ano eles remeteram dinheiro", disse Lopes. Os números do Banco Central mostram um resultado negativo de US$ 126 milhões neste item contra um saldo positivo de US$ 335 milhões em outubro de 1999.
Os gastos com viagens internacionais também aumentaram 63% em outubro, se comparados ao mesmo mês do ano passado. Foram desembolsados US$ 354 milhões contra US$ 253 milhões. Nos 10 primeiros meses do ano somou-se US$ 1,7 bilhão de gastos com as viagens internacionais, contra US$ 1,167 entre janeiro e outubro do ano passado. Estes valores são muito inferiores aos US$ 4,146 bilhões gastos em 1998. "Isso mostra que estamos voltando à normalidade", disse Lopes. Ele comemorou o fato de, apesar deste incremento de gastos entre janeiro e outubro, as compras com cartão de crédito internacional terem diminuído de US$ 875 milhões para US$ 626 milhões.
Antes mesmo da privatização do Banespa, os espanhóis já lideravam o ranking de investimentos diretos no País, somando US$ 4,834 bilhões, ou 23,6% do total. Os Estados Unidos, investidores históricos no País, respondiam por US$ 4,493 bilhões dos recursos que deram entrada, ou 22%. Para Lopes, a presença dos espanhóis é positiva, pois comprova que "há uma difusão muito grande" dos investimentos estrangeiros no País.