Como todo grande evento, o leilão de hoje de privatização do Banespa não poderia deixar de ter suas gafes e momentos altos. Um dos mais curiosos foi, sem dúvida, a ausência mais esperada da "festa", os representantes do Itaú, que, até o último momento, não deram sinal de se iriam ou não comparecer.Os representantes do Bradesco monitoravam os passos dos principais concorrentes. Fizeram uma rodinha no pregão da Bolsa do Rio e viveram momentos tensos aguardando se o Itaú mandaria algum representante para entregar envelope. Como havia um operador do Itaú no pregão, era possível que, a qualquer momento viesse o sinal verde de que o grupo liderado pela família Setúbal poderia repetir o gesto de outubro, quando acabaram levando o Banestado, pagando um ágio de 303%.
Faltando apenas 15 segundos para as propostas se encerrarem, o operador do Bradesco entregou seu envelope. Novos momentos de angústia e tensão. O primeiro envelope a ser aberto pelo leiloeiro oficial da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, Alexandre Runte, com a ajuda de um estilete, foi o do Santander, com o lance de R$ 7,050 bilhões. A oferta provocou risadas porque, na pressa, o leiloeiro leu como se a cifra fosse em dólares. E repetiu o deslize ao revelar o lance do Unibanco, de R$ 2,100 bilhões, também transformados na moeda norte-americana.
Vitória - Nesse momento, quando foram tornados públicos os lances do Unibanco e do Santander, Sérgio Rodrigues, diretor-executivo de mercado do Bradesco, comemorou como se fosse vitorioso com outros representantes do primeiro colocado no ranking do setor privado. Era a senha dada de que, na verdade o Bradesco fez um grande negócio deixando a oportunidade para os espanhóis do Santander, com o Itaú de fora.
Quem gostou do valor pago foram as autoridades do governo. O presidente do Banco Central, Armínio Fraga e o diretor do BC encarregado dos bancos a serem privatizados, Carlos Eduardo de Freitas, se abraçaram, comemorando o lance de mais de R$ 7 bilhões dos espanhóis. Freitas levantou por duas vezes da entrevista para receber as felicitações do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e depois do ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Para muitos, a vitória do Santander causou surpresa. "Quem ganhou? Os espanhóis?", perguntava, curioso, um segurança do leilão. Para outros, porém, foi hora de comemorar. Teve até quem, aproveitasse para fazer uma "fezinha", apostando pelo possível vitorioso em um bolão.
Na entrevista coletiva, os representantes do Santander tiveram que responder a primeira pergunta dos jornalistas indagando se eles não teriam pago um preço muito alto, já que o segundo colocado, o Unibanco, fez um lance de R$ 2,1 bilhões. O que se ouviu foram risadas tanto do Marciel Portela, diretor do Santander na América Latina, como do presidente do banco no Brasil, Gabriel Jaramillo. "Fizemos um ótimo negócio. O preço foi correto", disse Portela. Para depois admitir que ainda não tinha falado com a matriz, na Espanha, para consultar se tinham realmente acertado na mão.
Na pressa, um dos espanhóis acabou se esquecendo de levar o martelo dado pelo superintendente da Bolsa de Valores do Rio, Sérgio Berardi. O mimo ficou debaixo da mesa das autoridades.
O forte aparato de segurança nem precisou ser utilizado. Ao contrário de alguns leilões de anos anteriores - como o da Usiminas, Companhia Siderúrgica Nacional e da Vale do Rio Doce - houve apenas uma pequena manifestação contrária a venda. E o feriado municipal no Rio - por conta de Zumbi de Palmares - ajudou a dar um clima ainda mais tranqüilo ao leilão. Que, nem por isso, deixou de ser surpreendente e "caliente". No melhor estilo das touradas espanholas.