O que teria levado o Banco Santander Central Hispano a oferecer pelo Banespa quase quatro vezes o preço mínimo, mesmo depois que os demais bancos estrangeiros inscritos para o leilão desta segunda-feira terem desistido da compra? Estratégia para crescer no mercado brasileiro, erro de cálculo ou avaliação correta do potencial do maior banco do Estado mais rico do país?
Muitas perguntas e poucas conclusões. Depois de terem errado todas as previsões sobre o possível desfecho do leilão mais esperado do ano, os analistas agora tentam também entender o que teria levado o Santander a pagar ágio de 281 por cento para arrematar o controle do banco paulista.
"Economicamente falando é difícil justificar, só se assumir um cenário muito otimista, com expansão da operação, o que me parece é que pagaram um valor estratégico", disse Tomás Awad, analista do Chase Manhattan.
E um valor muito alto, na avaliação de Awad, que dificilmente terá retorno. "A primeira impressão é de que o Santander errou na conta, porque o que motivou ele não motivou mais ninguém?", disse, referindo-se a possíveis ganhos fiscais ou de crédito no futuro.
Mas se a conta for a mesma da analista do Banco BBA Icatu, Julia Maltzan, o ágio pago pelo banco espanhol no leilão do Banespa não é tão exorbitante, se for considerado o tamanho da carteira de clientes do banco paulista.
"Se você olha o preço por cliente, eles pagaram cerca de 2,2 mil reais por cliente... No leilão do Banestado, por exemplo, esse valor foi de 3 mil reais por cliente", disse ela.
No leilão do Banestado, em outubro, o ágio pago pelo Itaú foi de 303%, acima do pago pelo Santander nesta segunda-feira pelo Banespa.
Com oferta bem acima dos outros dois concorrentes, Bradesco e Unibanco, o Santander venceu com tranquilidade o leilão do banco estatal paulista com proposta de 7,050 bilhões de reais, contra o preço mínimo de 1,850 bilhão de reais.
Para o gerente financeiro da Booz Allen, Joaquim Alencar, empresa que avaliou o Banespa junto com o Banco Fator, a única justificativa para o ágio seria a determinação do Banco Santander de não perder a "última oportunidade de aumentar a participação no mercado brasileiro".
Mesmo assim, Alencar opina que o ágio ficou muito acima de qualquer expectativa e só pode ser justificado pelo fato de o banco não admitir perder o leilão.
"O Santander deve ter feito uma análise sobre por qual preço ele não perderia de jeito nenhum, mesmo assim, ainda está fora de qualquer previsão", disse.
Outros analistas fizeram críticas mais severas. "Jogar 5 bilhões (de reais) fora deve ter alguma explicação, com muito menos ele ganhava", disse o analista da Sirotsky & Associados, Carlos Antonio Magalhães, que, como muitos, apostava na disputa entre Bradesco e Itaú.
Ele disse que podem haver "motivos ocultos" para o lance inesperado do Santander, que podem passar por créditos tributários e multas a serem discutidos posteriormente com o governo.
"O governo estava preocupado com a desistência dos estrangeiros e pode ter mostrado ao Santander que ele teria maneiras de recuperar o que ia gastar no leilão", especula.
O analista avalia que, para o governo, a vitória do Santander foi vantajosa porque reduz o risco de desemprego. O banco espanhol possui poucas agências no país, ao contrário dos outros bancos brasileiros que disputavam o leilão, o que pode diminuir o número de demissões. "O mercado não entendeu e ainda vai levar tempo para o Santander explicar esse ágio", conclui Magalhães.