A maioria dos analistas estrangeiros considerou a compra do Banespa pelo Santander um claro sinal de confiança no Brasil, num momento em que a crise argentina perturba o cenário econômico. Mas alguns deles acharam que o banco espanhol pagou caro pelo controle da instituição, embora deva conquistar um espaço importante no país, a partir de agora.Janine Dow, diretora para instituições financeiras da agência de classificação de riscos Fitch IBCA, disse que o leilão "foi muito bom para o Brasil. Inclusive, o governo poderá recuperar parte do dinheiro que colocou nesse banco nos últimos anos". Ela disse que o preço pago "foi alto", mas a aquisição é muito importante para a estratégia global do Banco Santander Central Hispanico (BSCH). "Nenhum banco estrangeiro tinha conseguido, até agora, uma fatia significativa do mercado brasileiro. O BBVA tem menos de 1%, o HSBC menos de 3%, e o ABN Amro também tem participação pequena", disse. "Os bancos brasileiros são os mais rentáveis da América Latina, com margem financeira de 10%. Na Alemanha, por exemplo, a margem é de 1%. Todo mundo tem interesse de estar nesse mercado, e o Santander apenas confirma a estratégia dos bancos espanhóis de crescerem na América Latina".
A versão online do Financial Times noticiou que o preço pago pelo Banespa "surpreendeu o mercado, depois que quatro bancos estrangeiros se retiraram do leilão dizendo que os retornos projetados eram insuficientes, diante dos investimentos necessários". O jornal inglês lembrou que a América Latina é responsável por 25% do patrimônio do banco espanhol, por 30% dos depósitos e quase a metade de seus funcionários.
O analista Pedro de Souza Regina, do banco de investimentos BlueStone Capital, disse à Agência Estado, em Londres, que o Santander pagou caro pelo Banespa porque "essa era a última oportunidade para um banco estrangeiro construir massa crítica no País. O banco espanhol não quis arriscar, de maneira alguma, perder o leilão".
Em Nova York, Lisa Schineller, diretora-associada de ratings soberanos da agência Standard & Poor's para o Brasil, considerou positiva para o País a realização do leilão, "especialmente considerando que o governo enfrentou liminares até a semana passada". Para ela, o sucesso do leilão "é um reflexo da gestão sólida da política econômica brasileira". A analista comentou que a venda do banco não deverá aliviar totalmente a pressão sobre o real, observada nas últimas semanas.
Rafael de la Fuente, economista-chefe para a América Latina do banco de investimentos Paribas, disse que o leilão foi um importante sinal de que mesmo em momentos de turbulência, o Brasil é capaz de manter a continuidade do fluxo de investimentos diretos estrangeiros. "É especialmente importante para o Brasil atrair investimentos estrangeiros, e ainda neste nível de prêmio pago pelo Santander, num momento de instabilidade por causa dos problemas argentinos. Mas a oferta pelo Banespa foi um pouco elevada, na minha opinião", afirmou.
Beltran Estrada, analista de bancos do JP Morgan, acha que dentro de seis meses, aproximadamente, o banco espanhol deverá retirar do mercado as ações do Banespa. Estrada acredita que o BSCH levará pelo menos um ano para competir em pé de igualdade com o Bradesco, Itaú e Unibanco.
Jason Mollin, analista de bancos do Bear Stearns, considerou o preço pago muito alto, pois corresponde a US$ 4.285 por cliente.
Em São Paulo, o analista Tomás Awad, do Chase Manhattan, disse que o Santander comprou participação no mercado. "Acho difícil que o banco obtenha um retorno econômico razoável do preço pago", afirmou. Ele disse ter feito as projeções para as instituições financeiras locais envolvidas no leilão, e observou que "é difícil obter um valor presente de R$ 7,050 bilhões nos cálculos. Não se sabe as contas que o Santander realizou para oferecer esse ágio". Awad destacou que ao pagar o ágio de 281%, o valor projetado para o Banespa passa a ser de R$ 21 bilhões. O analista do Chase Manhattan disse que a recuperação das ações do Bradesco e do Unibanco mostra que o investidor entendeu a importância de eles não terem vencido a disputa. Awad afirmou que nos últimos tempos, as ações do Bradesco estiveram em queda porque o mercado temia que este banco viesse a pagar um preço excessivo pelo Banespa.
O secretário geral da Câmara de Comércio da Espanha no Brasil, Andre Navarro, disse que a aquisição do Banespa está em sintonia com a estratégia daquele país na América Latina, e especificamente no Brasil. Ele lembrou que os investimentos espanhóis no Brasil passaram de US$ 250 milhões em 1995 para US$ 18 bilhões.
Uma fonte do BSCH em Buenos Aires disse à Agência Estado que o banco espanhol estava convencido de que precisava solidificar suas operações no Brasil, que detém praticamente 40% do PIB do Continente. "Mas ninguém achava que os bancos brasileiros apostariam tão pouco" no Banespa, comentou.