3 tombos ensinaram CEO da femtech Plenapausa sobre gestão
A habilidade de escutar ativamente levou Marcia Cunha à criação de uma das primeiras startups dedicadas ao tema menopausa do Brasil
Psicóloga, Marcia Cunha criou a femtech Plenapausa, que busca levar informação e cuidado para mulheres durante a menopausa, tendo como referências internacionais criando portfólio de produtos para o público alvo.
Mineira nascida em uma cidade que não chega a 20 mil habitantes, Marcia Cunha é aquele tipo de pessoa que atrai confissões - muitas vezes bastante pessoais - de completos desconhecidos nos lugares mais inoportunos, como salas de espera ou as praticamente extintas filas de banco. "Eu gosto de ouvir, gosto de saber sobre as pessoas", justifica. Não à toa que, depois de 20 anos no mercado corporativo, a economista levou seu par de ouvidos para a clínica, onde colocou em prática sua segunda formação: psicanálise.
Sobre o divã, as histórias de suas pacientes começaram a se repetir: as agonias e adaptações envolvendo a menopausa, uma fase que chegará a todas nós que tivermos a sorte de uma vida longeva, mas sobre a qual pouco falamos até que bata à nossa porta. Ao notar que o problema de uma era o problema de muitas, Marcia desejou ser capaz de ampliar o alcance de seu cuidado.
"Mais de 70% das mulheres não sabe identificar os sintomas da menopausa, e mais de 80% não procura um tratamento específico", contou ao podcast Vale do Suplício, alertando que a literatura médica aponta entre 30 e 50 sintomas.
Era hora de escalar a solução. E foi aí que nasceu a femtech Plenapausa, em 2021.
Marcia buscou referências internacionais para construir seu modelo de negócio - mas a rara característica de escuta ativa da mineira falou mais alto. Quando lançada, a Plenapausa não tinha nenhum produto, sequer perspectiva de receita. No lugar, um site, cuja única oferta ao público era o teste de Cooper, que indica a fase da menopausa em que a respondente está. Três meses e mil respostas depois, Marcia se uniu à equipe para entender o perfil da potencial cliente e quais os produtos mais adequados. O fruto dessa extensa pesquisa foi um kit de suplementos, primeiro item de um portfólio que segue sendo ampliado, sem nunca deixar de considerar a exata demanda do público-alvo.
Tombos que ensinam
Ao quadro (Des)Aprendendo com o Exemplo, Marcia compartilhou os principais problemas de sua jornada empreendedora - que, para a sorte dos empreendedores que estão começando agora, se reverteram em conhecimento compartilhado:
• Aos que vendem pela internet, cuidado especial com os testes de homologação. O lançamento do e-commerce da Plenapausa foi um fiasco que quase comprometeu o negócio como um todo. "O desenvolvedor havia feito um teste completamente diferente com a gente. Quando entrou em produção, nada funcionava - e a gente estava investindo pesado em mídia. Foram mais de 3 meses para entender o que tinha acontecido";
• Sobre formação de equipe, Marcia aconselha: não contrate na pressa e pense em construir um time complementar. "Hoje investimos muito mais tempo nessas conversas iniciais do que fazíamos no começo";
• Compartilhe o planejamento com a equipe - o fato de a empresa ser pequena não significa, automaticamente, que todos sabem o que está acontecendo. Marcia comunica a visão do semestre com todos, para que haja o mínimo de surpresa e desalinhamento sobre o negócio.
Hora de cometer novos erros, então.
(*) Adriele Marchesini é jornalista especializada em TI, negócios e Saúde e cofundadora da agência essense, que já apoiou mais de 100 empresas na construção de conteúdo narrativo e multiplataforma para negócios. Junto de Silvia Noara Paladino, criou o podcast Vale do Suplício, que traz histórias de empreendedores que falam pouco, mas fazem muito.