5 grandes desafios que China tem pela frente neste ano
Enquanto seu governo enfrentava problemas econômicos internamente, internacionalmente teve que lidar com as complexidades de sua aliança com a Rússia.
2024 foi um ano complicado para a China.
Enquanto seu governo enfrentava problemas econômicos internamente, internacionalmente teve que lidar com as complexidades de sua aliança com a Rússia.
E, embora a China tenha continuado a desempenhar um papel importante na economia global, cinco áreas podem inviabilizar seus planos até 2025.
1. Uma rivalidade renovada com os Estados Unidos
A preocupação mais óbvia para Pequim será o ressurgimento de uma política ultra-agressiva dos EUA em relação à China depois que Donald Trump assumir o cargo em janeiro.
Trump já ameaçou a China e outras nações com tarifas de 60%, sugerindo uma continuação da guerra comercial em andamento que ele lançou durante sua presidência anterior.
Um relacionamento mais conflituoso com os EUA representará um grande desafio para a China, mas Pequim não está despreparada, pois aprendeu com a guerra comercial anterior dos EUA.
Isso pode ser observado no fato de empresas chinesas, como a Huawei, terem procurado reduzir sua dependência dos mercados e das tecnologias dos EUA, ao mesmo tempo em que se expandiram para outros campos.
Da mesma forma, a China tem se mostrado mais disposta a usar medidas punitivas contra os EUA, como demonstrado recentemente por sua restrição à exportação de elementos de terras raras (usadas em baterias e conversores catalíticos).
Como resultado, Pequim está mais bem posicionada para travar uma guerra comercial do que em 2017.
2. Guerras tecnológicas globais
Embora as tarifas, sem dúvida, atraiam a maior parte da atenção, outra batalha pode ser travada em relação ao desenvolvimento tecnológico da China, que representa um desafio notável à supremacia comercial dos EUA.
A tecnologia tem se tornado um elemento cada vez mais crucial nos planos da China, já que Pequim busca aumentar o emprego e a produção nesse setor, em parte por meio do aumento de suas exportações.
Da mesma forma, restringir esse setor se tornou uma prioridade para os EUA, conforme demonstrado por seus esforços para restringir o acesso chinês à tecnologia de semicondutores, uma das principais frentes de batalha.
Além de ser uma competição para obter o domínio das principais tecnologias, é também uma competição para definir os padrões tecnológicos.
Isso é demonstrado pelo que foi chamado de "efeito Pequim", em que a China pretende estabelecer padrões para a infraestrutura digital, da mesma forma que a União Europeia (UE) fez para o gerenciamento de dados e a privacidade por meio da legislação GDPR (General Data Protection Regulation).
Essa medida poderia dar à China uma liderança estratégica no mundo da tecnologia.
3. Tarifas da UE
A China tem um conflito comercial igualmente complicado com a Europa, que assumiu a forma de uma série de tarifas retaliatórias: Pequim aplicou tarifas de importação sobre o conhaque francês, por exemplo, em resposta às restrições da UE sobre as importações de veículos elétricos chineses para os estados-membros do bloco. Essas tarifas surgem em um momento em que a China começou a fazer incursões em tecnologias que antes eram de domínio exclusivo de outras nações.
Uma guerra comercial com a UE, juntamente com as recentes discussões sobre a expansão do papel da OTAN na Ásia, pode representar uma dor de cabeça para Pequim, especialmente se levar a um maior alinhamento entre Bruxelas e Washington. Mas o antagonismo estabelecido por Trump em relação à UE pode funcionar a favor da China, se isso significar que o bloco europeu está procurando outros parceiros.
4. A aliança com a Rússia
Aparentemente, a Rússia tem se tornado cada vez mais vital para a China como fonte de recursos naturais e mercados, enquanto a China é uma importante fonte de apoio econômico para Moscou.
Entretanto, esse apoio afetou negativamente as relações da China com os países europeus, alguns dos quais viram Pequim como um facilitador da guerra da Rússia na Ucrânia.
Da mesma forma, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra em andamento podem continuar sendo uma distração útil para Pequim, desviando a atenção dos EUA da China.
O plano de paz proposto por Trump para a guerra da Ucrânia, se for bem-sucedido, poderá permitir que os EUA voltem a se concentrar na China. A resolução desse conflito poderia até mesmo proporcionar um caminho para a reaproximação entre Washington e Moscou, o que funcionaria contra Pequim.
5. Conflitos no Oriente Médio
Uma fonte emergente de preocupação para a China é a grave instabilidade no Oriente Médio.
Assim como no caso da Rússia, a região se tornou uma fonte importante de recursos e mercados para Pequim, conforme demonstrado pelo evento aéreo de Zhuhai, em que as nações da região foram os principais clientes das armas chinesas.
Outra preocupação de Pequim tem sido a possibilidade de um conflito regional entre Irã e Israel, sendo o primeiro uma importante fonte de petróleo para a China.
Em caso de conflito armado, esses suprimentos podem ser interrompidos, se não forem completamente cortados, criando mais problemas econômicos para Pequim.
A retomada da guerra civil na Síria também destacou uma área de preocupação para o presidente Xi Jinping.
Os uigures chineses (um grupo étnico majoritariamente muçulmano) estiveram envolvidos nas forças que derrubaram o presidente Bashar al-Assad, especialmente como parte do Partido Islâmico do Turquestão (TIP).
Alguns membros do TIP ameaçaram usar armas adquiridas na Síria na prolongada batalha por um estado independente na região chinesa de Xinjiang, onde os uigures estão baseados.
Nos últimos anos, as forças de Xi detiveram cerca de um milhão de uigures, colocaram-nos em campos de detenção e adotaram uma política de reeducação e vigilância intensiva que atraiu críticas internacionais por suas táticas e autoritarismo.
Embora todos esses fatores sugiram que a China enfrenta um difícil 2025, também há sinais de que Pequim está se preparando para mitigá-los. Em particular, a China estudará o regime de sanções implementado pelo Ocidente contra a Rússia, que provavelmente seria usado contra a China no caso de um conflito sobre Taiwan.
Em última análise, o que acontecer em 2025 será crucial para Pequim decidir se precisa fazer novos aliados, desenvolver novos mercados e criar novos pontos fortes econômicos em tecnologia.
*Tom Harper é professor de Relações Internacionais da University of East London.
*Este artigo foi publicado no site The Conversation e é reproduzido sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original.