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A dinâmica da retomada

Economia brasileira parece ter entrado em trajetória de recuperação mais forte que o esperado pelos analistas

18 jul 2020 - 04h11
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Após forte queda em março e abril, os dados de atividade da economia brasileira têm mostrado forte retomada. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o faturamento do setor industrial cresceu 11,4%; as horas trabalhadas, 6,6%; e o emprego permaneceu praticamente constante, com queda de -0,8% no mês de maio. Ao mesmo tempo, a massa salarial caiu -8,5% e o rendimento real, -6,5%, um resultado dos programas de redução de jornada e de salários e do elevado nível de desemprego.

A produção e a venda de veículos cresceram 129,8% e 113,6%, respectivamente; as vendas no varejo no conceito restrito aumentaram 13,9% e no conceito ampliado (que inclui materiais de construção e veículos), 19,6% em maio. Finalmente, o número de pedidos de auxílio-desemprego caiu 32% no mês de junho. Os dados negativos foram a redução do faturamento do setor de serviços (-0,9%) e a prévia do PIB calculada pelo Banco Central (IBC-Br), que veio abaixo das expectativas, com crescimento de 1,31% no mês de maio.

Com retomada, indústria dá leve sinal de alívio.
Com retomada, indústria dá leve sinal de alívio.
Foto: Arquivo/Agência Brasil / Estadão

Todos esses indicadores sinalizam que o fundo do poço foi o mês de abril e que a economia brasileira parece ter entrado em trajetória de recuperação mais forte do que o esperado pelos analistas. A dúvida é se essa recuperação vai permanecer ou se foi um "soluço" decorrente do nível excessivamente baixo que se seguiu à forte queda de março e abril e que poderá ser revertido nos próximos meses.

Uma parte da resposta a essa pergunta depende da evolução da pandemia. Da mesma forma que a retomada da atividade está, pelo menos em parte, relacionada ao relaxamento das medidas de isolamento social, uma nova onda de contaminação poderá forçar os Estados a adotarem novas restrições, o que fatalmente abortaria a retomada.

Dado o desconhecimento em relação à pandemia, é impossível avaliar a probabilidade de que uma segunda onda vai acontecer. Aparentemente, existe um padrão no comportamento da pandemia: regiões que foram mais duramente afetadas na primeira onda começam a mostrar sinais de redução do número de casos e mortes, enquanto nas regiões onde a primeira onda foi relativamente fraca, o número de casos e mortes está aumentando. Esse comportamento pode estar relacionado a uma dinâmica intrínseca ao próprio vírus ou ao fato de que os Estados podem ter flexibilizado antes da hora. Só o tempo dirá.

Mas a retomada da atividade está também relacionada às fortes medidas de política monetária, aumento de liquidez e de política fiscal adotadas pelos bancos centrais e pelos governos, tanto no exterior quanto no Brasil. No caso do Brasil, o Auxílio Emergencial, que transferiu R$ 600,00 por pessoa aos informais e trabalhadores por conta própria, manteve o nível de consumo deste grupo da população. As medidas de redução de salários e de jornada de trabalho foram fundamentais para a preservação de mais de 10 milhões de postos de trabalho, o que facilita a retomada da atividade. E os programas de crédito para micro e pequenas empresas serão um importante suporte para o aumento da oferta, sendo particularmente importantes para manter a retomada nos próximos meses.

A questão é como vai se comportar a economia quando estes programas forem descontinuados. A prorrogação ou não do Auxílio Emergencial é particularmente importante. Por um lado, este auxílio é um importante fator de sustentação da demanda na economia. Por outro, é insustentável do ponto de vista fiscal. Se for renovado, será impossível respeitar o teto para o crescimento do gasto público em 2021, com aumento das taxas de juros da dívida pública, provavelmente já em 2020.

Racionalizar os vários programas de transferência de renda hoje existentes e definir um programa que consiga reduzir a pobreza, reinserir os trabalhadores informais e por conta própria que foram excluídos do mercado pelo isolamento social e, ao mesmo tempo, permanecer dentro do teto do gasto são os principais desafios da política econômica no momento.

*PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC/RIO E ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS

Estadão
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