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A herdeira milionária austríaca que quer distribuir sua fortuna

"Herdei uma fortuna sem ter feito nada para isso", diz Marlene Engelhorn, da família do fundador da empresa química e farmacêutica alemã BASF.

12 jan 2024 - 14h59
(atualizado às 17h12)
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Mesmo antes de herdar os milhões de euros, Marlene Engelhorn já deixava claro que planejava doar a maior parte
Mesmo antes de herdar os milhões de euros, Marlene Engelhorn já deixava claro que planejava doar a maior parte
Foto: HANNA FASCHING / BBC News Brasil

Uma herdeira austro-alemã está reunindo um grupo de cidadãos para decidir como ela deve doar grande parte da fortuna que herdou da sua avó.

Marlene Engelhorn, que tem 31 anos e vive em Viena, quer que 50 austríacos determinem como devem ser redistribuídos 25 milhões de euros (R$ 133 milhões) da sua herança.

"Herdei uma fortuna e, portanto, poder, sem ter feito nada para isso", disse ela. "E o Estado nem quer impostos sobre isso."

A Áustria aboliu o imposto sobre heranças em 2008 e se tornou um dos poucos países europeus a não cobrar essas taxas.

Engelhorn considera isso uma injustiça.

Ela é descendente de Friedrich Engelhorn, fundador da empresa química e farmacêutica alemã BASF, e herdou milhões quando sua avó morreu, em setembro de 2022.

A riqueza de Traudl Engelhorn-Vechiatto foi estimada pela revista americana Forbes em US$ 4,2 bilhões (R$ 20,4 bilhões). Antes mesmo da morte da avó, a neta já tinha declarado que queria doar cerca de 90% da herança.

Na última quarta-feira (10/1), 10 mil convites destinados a cidadãos austríacos selecionados aleatoriamente foram enviados pelo correio na Áustria.

Aqueles que desejarem participar da iniciativa de Engelhorn poderão se inscrever online ou por telefone.

Entre os 10 mil austríacos (todos com mais de 16 anos), serão escolhidos 50 para participar de um conselho que tomará a decisão, além de 15 membros suplentes para casos de desistência.

"Se os políticos não fazem o seu trabalho e não redistribuem a renda, então eu mesma terei de redistribuir a minha riqueza", explicou ela em sua declaração.

"Muitas pessoas lutam para sobreviver com um emprego e pagam impostos sobre cada euro que ganham com o trabalho. Vejo isso como um fracasso da política e, se a política falhar, os próprios cidadãos terão de lidar com isso."

Christoph Hofinger, diretor administrativo do Foresight Institute, que apoia a iniciativa, disse que o conselho para redistribuir o dinheiro da herdeira seria composto por 50 pessoas "de todas as faixas etárias, estados federais, classes sociais e origens".

O grupo será convidado a "contribuir com as suas ideias para desenvolvermos conjuntamente soluções no interesse da sociedade como um todo", disse.

Eles participarão de uma série de reuniões que serão realizadas em Salzburgo com acadêmicos e organizações da sociedade civil, de março a junho deste ano.

Os organizadores dizem que as reuniões serão livres de barreiras, com creches e intérpretes disponíveis, se necessário. Os custos de viagem serão cobertos, e os participantes receberão 1.200 euros por cada fim de semana que participarem.

Marlene Engelhorn acredita que as discussões serão um "serviço à democracia" e que os participantes devem ser devidamente compensadas por isso.

"Não tenho direito de veto", disse ela. "Estou colocando meus bens à disposição dessas 50 pessoas e depositando nelas minha confiança."

Se não conseguirem chegar a uma decisão "amplamente apoiada" sobre o que fazer com o dinheiro, então o dinheiro volta para Engelhorn.

Não está claro exatamente que proporção da herança será doada, embora em 2021 ela tenha dito que queria distribuir pelo menos 90% do total, já que não fez nada para ganhar o dinheiro e apenas teve sorte na "loteria de nascimento".

Sua equipe não confirmou quanto de dinheiro ela vai guardar para si mesma, embora tenha dito que ela vai ficar com uma parcela para proteção financeira.

Dezesseis anos depois de a Áustria ter abolido o imposto sobre heranças, o tema ainda é controverso, e os social-democratas da oposição têm pedido para que a cobrança seja reinstaurada.

O líder social-democrata, Andreas Babler, disse à emissora pública ORF que queria que essa fosse uma condição central para potenciais negociações de coligação, após as próximas eleições gerais na Áustria, previstas para o final deste ano.

O conservador Partido Popular, que é atualmente o principal parceiro do governo de coligação da Áustria, rejeitou a proposta.

O secretário-geral da legenda, Christian Stocker, disse que embora Babler quisesse "sobrecarregar ainda mais as pessoas do nosso país com o seu apelo a um imposto sobre a riqueza e as heranças, o Partido Popular está proporcionando um alívio. Rejeitamos novos impostos; as pessoas devem ficar com mais resultado líquido."

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