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A inteligência artificial é burra – caminho é longo no Brasil

Será que já está madura o suficiente para ser usada em negócios da vida real?

10 out 2022 - 01h00
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Foto: Unsplash

Acabo de concluir um curso sobre inteligência artificial na Universidade de Chicago, nos EUA.  Eu já tinha vontade de me inscrever desde quando o formato era apenas presencial, mas ele ficou mesmo imperdível quando as aulas passaram a ser online por causa da pandemia. 

Durante semanas, além de estudar o assunto com profundidade, o mais interessante foi observar o quanto a inteligência artificial evoluiu no resto do mundo. E hoje escrevo para contar por que o Brasil ainda patina no desenvolvimento dessa tecnologia. 

Como grande parte das novidades, embora seja apresentada como uma grande promessa para inúmeros setores, seu uso prático nos negócios demora para acompanhar o entusiasmo. No caso da inteligência artificial, isso acontece especialmente porque as empresas ainda não sabem muito bem o que podem fazer nem com a big data nem com a small data.

Inteligência artificial é assunto para profissionais

É muito comum que entusiastas conduzam projetos de tecnologia que se tornam "modismo", assim como acontece com projetos de inovação, no geral. É corriqueiro as empresas criarem departamentos próprios para inovar, onde esses mesmos entusiastas se reúnem uma vez por semana para discutir ideias. 

Só que projetos em inteligência artificial, machine learning e data science, de forma geral, não saem do lugar com entusiastas. Precisam ter à frente profissionais capacitados. 

São cientistas muito feras que estão produzindo alguma coisa de valor nessas áreas no restante do mundo, sempre se dedicando exclusivamente aos projetos e com muito preparo técnico para tal.  E o motivo para isso é um só: 

A inteligência artificial na verdade é burra

Calma lá, antes que discorde, deixa eu explicar como cheguei a essa conclusão. Lembre-se que a inteligência artificial só consegue identificar padrões de comportamento e é preciso oferecer soluções a partir deles.  Vou dar um exemplo. Imagine que um restaurante resolveu usar a inteligência artificial em seu e-commerce e conseguiu identificar que todo mundo que pede um prato X, prefere uma sobremesa Y. 

Automaticamente, a inteligência artificial vai sugerir a sobremesa Y para todas as pessoas que pedem o prato X, eliminando a interação humana e automatizando o processo. Só que, com isso, a tecnologia constrói todo o algoritmo do novo negócio em uma estrutura binária (pede X, sugere Y).

Dou uma pausa nesse exemplo para contar sobre uma experiência. Há um tempo, a Cortana, ferramenta de inteligência artificial da Microsoft, foi lançada no Twitter, sem nenhum aprendizado anterior, para que fosse aprendendo tudo a partir da interação com as pessoas na rede social. 

Resultado: em pouco tempo, Cortana estava extremamente machista, racista e xingando as pessoas. O experimento – feito em inglês, apenas – foi rapidamente suspenso, mas ilustra bem a maior limitação  da inteligência artificial: trata-se de uma tecnologia binária.  

Vale a pena relembrar que, na trajetória digital, o ser humano deve ser sempre o protagonista. 

E reforço que não funciona usar uma ferramenta tecnológica, especialmente uma ferramenta complexa como a inteligência artificial, apenas para servir como uma imagem de modernização do negócio. A consistência dos projetos deve ser a base. Ou estou querendo demais?

Mas ainda faltam ainda profissionais capacitados para o desenvolvimento da inteligência artificial, tanto no Brasil quanto no mundo. Talvez a razão para isso esteja relacionada com uma mudança importante no mercado de trabalho. Na década de 1970, as mentes mais brilhantes do mundo estavam na Nasa e em outras instituições governamentais mundo afora para desenvolver soluções coletivas para o bem comum. Hoje, os grandes talentos estão no Facebook, no Google, na Microsoft, na Amazon...

Com isso, a capacidade de criar soluções para o bem coletivo foi extremamente limitada. Especialmente porque não basta ser entusiasta para trabalhar com inteligência artificial, é preciso conhecer de ciência e tecnologia em um nível de complexidade absurdamente profundo.

 Falta ao Brasil também priorizar e dar importância para o valor que pode ser gerado através da inteligência artificial e da ciência de dados como um todo. Vale sempre lembrar: quando bem aplicada, essa tecnologia é muito benéfica e facilita nossas vidas. Mas não se esqueça que ela é burra – então nós é que precisamos completá-la com inteligência.

(*) Rodrigo Guerra é economista, empreendedor e fundador do Projeto Unbox. Enxerga a inovação como uma responsabilidade social das lideranças, e não como um conjunto de metodologias.

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