Acionistas minoritários conseguem eleger 4 nomes para o conselho de administração da Vale
Entre eles está Roberto Castello Branco, deixou recentemente o comando da Petrobrás; José Duarte Penido, que já foi CEO da Samarco, foi escolhido presidente do colegiado
RIO - Em disputa acirrada, acionistas minoritários da Vale conseguiram eleger todos os quatro nomes alternativos indicados para o conselho de administração da companhia para o período 2021-2023. As outras nove vagas foram preenchidas por nomes indicados pela empresa e pelo indicado dos empregados, Lucio Azevedo, eleito em separado. O novo conselho da Vale terá apenas uma mulher, embora quatro tenham se candidatado. Haverá dois estrangeiros no colegiado, que tem sete membros considerados independentes.
A lista apresentada pelos investidores minoritários inclui o ex-presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, que deixou a estatal recentemente por pressão política do presidente Jair Bolsonaro. Além dele, compõem o grupo o advogado Marcelo Gasparino, que foi reeleito para o segundo mandato como titular, a ex-CEO da Lacoste e conselheira de BB e Grupo Soma, Rachel Maia, e Mauro Cunha, ex-presidente da Associação dos Investidores no Mercado de Capitais (Amec).
Entre os 12 indicados pelo Comitê de Nomeação da Vale, foram eleitos três nomes ligados aos antigos controladores da mineradora: o presidente da Previ, José Maurício Coelho, Fernando Buso, da Bradespar, e o japonês Ken Yasuhara, ex-diretor da Mitsui. Além deles, farão parte do colegiado José Luciano Penido (CEO da Samarco de 1992 a 2003); Eduardo Rodrigues (sócio da CWH Consultoria e ex-diretor da Rio Tinto), Murilo Passos (chairman de São Martinho e Tegma), Roger Downey (ex-presidente da Vale Fertilizantes) e o britânico Ollie Oliveira, que passou pelas mineradoras Anglo American e DeBeers.
Ficaram de fora do novo colegiado a consultora em governança corporativa Sandra Guerra; o australiano Clinton Dines, ex-CEO da BHP na China; a americana Elaine Dorward-King, ex-head de Saúde e Meio Ambiente da Rio Tinto; e Maria Fernanda Teixeira, executiva com experiência em altos cargos de direção e conselhos de empresas da indústria de tecnologia da informação.
O resultado mostrou uma reviravolta em relação ao que aparecia no mapa que computava os votos emitidos à distância e pelos detentores de American Depositary Receipts (ADRs, recibos de ações da Vale negociados no exterior). Castello Branco e Yasuhara, que apareciam na lanterna, acabaram sendo eleitos, assim como o presidente da Previ - o mais votado, com 4,1 bilhões de votos - e Buso, da Bradespar. O ex-presidente da Petrobrás foi o sétimo nome mais votado, com 3 bilhões de votos.
Ao mesmo tempo, os antigos controladores da companhia demonstraram força ao emplacar Penido e Buso como presidente e vice-presidente do conselho da Vale. Os dois concorreram com Castello Branco e Cunha, respectivamente.
Sete nomes eleitos já faziam parte do colegiado da mineradora, o que mostra um nível limitado de renovação, com apenas cinco novos integrantes. O comitê de nomeação da Vale considera que a manutenção de alguns nomes é importante para a transição para o modelo de capital disperso, sem controlador. A mineradora apresentou uma lista com quatro estrangeiros e três mulheres, o que traria maior diversidade cultural e de gênero ao conselho. Os acionistas, entretanto, elegeram só uma mulher e dois nomes de outras nacionalidades.
A eleição dos minoritários promete abrir espaço para um maior contraditório dentro do conselho. Recentemente, Cunha fez severas críticas à proposta da Vale de adotar o voto negativo nas eleições do colegiado, que comparou a um "sistema de bolas pretas" adotadas por clubes. Gasparino registrou voto contrário à proposta e acabou impedindo a Vale de adotar o modelo ao levar o caso à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Rachel Maia será o maior ponto de diversidade, como única mulher e negra do conselho.
O novo conselho da Vale é o primeiro eleito após o fim do acordo de acionistas da mineradora, vigente desde sua privatização, em 1997. O mercado acompanha o caminho da companhia para se firmar como uma "corporation", isto é, uma empresa sem controle definido.
Atualmente, cerca de 55% do capital da mineradora está nas mãos de investidores estrangeiros, mas os antigos controladores ainda detêm participação relevante. Previ, Bradespar e Mitsui têm 21% do capital da Vale. A mineradora, entretanto, tem outros acionistas de peso, como BlackRock (5,29%) e o grupo Capital, com um total de 11,3%. Os fundos da Capital fazem parte dos que solicitaram o voto múltiplo e apoiaram candidaturas alternativas.