ACM Neto: 'Não é possível a Ford sair sem constrangimento'
Para o ex-prefeito, saída repentina da montadora americana do País deveria resultar em um 'problema sério de imagem'
Ex-prefeito de Salvador e presidente do DEM, ACM Neto defendeu uma ação dura contra a Ford que decidiu fechar as fábricas no Brasil, uma delas em Camaçari na Bahia. "Tem que ir do constrangimento à avaliação das possibilidades jurídicas", diz, ao comentar a possibilidade de pedido de indenização à montadora.
ACM Neto é neto do falecido senador e ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, que travou uma disputa política e econômica para que a Ford desistisse de instalar uma fábrica em Guaíba no Rio Grande do Sul para ir para a Bahia, durante o governo Fernando Henrique Cardoso.
Para isso, foram oferecidas condições mais vantajosas de benefícios fiscais, ou seja, redução de impostos estaduais e também federais. "Não é possível deixar a Ford sair daqui sem que passe por um grande constrangimento. Sem que isso signifique um problema sério para a imagem dela no País", diz. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
O seu avô brigou pela instalação da fábrica para a Bahia e para isso bilhões de incentivos foram concedidos. Agora, qual o impacto dessa decisão?
É uma decisão simbólica e extremamente negativa não só para o Brasil, mas de maneira especial para o Nordeste e, é claro, para a Bahia. A Ford foi uma indústria pioneira no setor automobilístico no Nordeste. O setor no Brasil sempre esteve concentrado no Sul e Sudeste e foi uma luta dele (do avô). Ele chegou a se indispor com o presidente Fernando Henrique. Fruto de tudo se viabilizou uma indústria desse porte para o Nordeste. Tantos anos depois isso não deixa de ser um retrocesso e que vai ter impacto econômico no Estado muito importante porque a Ford não é só Ford. Tem uma cadeia de outras indústrias e além do impacto que gerou em toda a economia da região metropolitana de Salvador. Os empregos indiretos, a ampliação da parte de serviços, de consumo. Não é somente fazer a análise de quantos empregos serão perdidos com o fechamento da fábrica, mas todo o impacto econômico que isso tem na região metropolitana de Salvador.
Depois de tantos incentivos concedidos, os baianos estão se sentindo traídos?
Sem dúvida, com todo o investimento que a Bahia fez para a vinda da Ford e depois para a permanência dela todo esse tempo, não tenha dúvida que há um sentimento de frustração e decepção enorme com a empresa. É claro que a reação do governador (Rui Costa) está sendo tímida. Ele poderia ter uma reação mais firme.
O que ele poderia fazer?
Construir uma mobilização política mais ampla que envolva a todos.
Para tentar reverter?
No mínimo para criar uma situação de grande constrangimento para a empresa. Não é possível deixar a Ford sair daqui sem que a Ford passe por um grande constrangimento. Sem que isso signifique um problema sério para a imagem dela no País. Ela está deixando a fábrica, mas vai querer continuar vendendo carro. Do ponto de vista dos compromissos que a Ford assumiu com a Bahia, não conheço em detalhes a questão dos prazos para dizer se há ou não rompimento de contratos firmados. Mas eu se fosse o governador teria usado os meios jurídicos, que tivessem ao meu alcance, se for o caso, responsabilizar sim a empresa.
O governo federal diz que vai dar apoio para a realocação desses trabalhadores. O que pode ser feito?
Tudo que se ouviu falar por enquanto não passa de declaração de boa vontade. Nada concreto. O que se ouviu nas últimas 24 horas foi hipóteses de utilização para outras indústrias, de reaproveitamento de mão de obra em outros Estados. É uma mão de obra muito qualificada.
O sr. defende uma ação mais dura contra a Ford?
Defendo uma ação mais dura. Tem que ir do constrangimento à avaliação das possibilidades jurídicas, se houver.
Indenização é o que sr. está falando?
Isso.
O sr. acha que faltou convencimento do governo?
Eu não conheço os bastidores. Mas o fato é que todos foram meio que pegos de surpresa com esse anúncio. Sem dúvida, como se trata de uma operação no Brasil, poderia ter havido um trabalho bem mais agressivo por parte da equipe econômica.
Se o seu avô tivesse vivo, como veria essa decisão?
Não tenho dúvida que ele ficaria inconformado. Toda a luta empreendida, o investimento para ter esse desfecho.