Ações do Credit Suisse despencam após principal acionista descartar novo aporte
Na terça-feira, instituição disse ter identificado 'fraquezas significativas' na divulgação dos resultados financeiros nos últimos anos
As ações do banco Credit Suisse operam em forte queda na manhã desta quarta-feira, 15, após o principal acionista da instituição suíça, o Saudi National Bank (SNB), da Arábia Saudita, descartar a hipótese de oferecer mais assistência financeira à instituição. "A resposta é absolutamente não, por muitas razões além da razão mais simples, que é regulatória e estatutária", disse o presidente do SNB, Ammar Al Khudairy, em entrevista à Bloomberg TV. Por volta das 10h30 (de Brasília), o papel do Credit Suisse tinha queda de quase 30% na Bolsa de Zurique.
Na terça-feira, 14, o Credit Suisse havia dito ter identificado "fraquezas significativas" na divulgação de resultados financeiros dos últimos anos em função de controles internos ineficientes. No relatório anual de 2022, o banco suíço disse que sua liderança, incluindo o CEO Ulrich Körner e o diretor financeiro Dixit Joshi, que começaram a trabalhar na instituição no ano passado, concluiu que seus controles não são eficientes.
O banco suíço enfrenta uma grande crise de desconfiança, com resultados ruins, desde o ano passado. No final de julho, anunciou que reformularia seu banco de investimento e sairia de alguns outros negócios para se tornar uma instituição mais enxuta e menos arriscada, após desastres financeiros que incluíram um golpe de US$ 5,1 bilhões em 2021 do cliente Archegos Capital Management.
O Saudi National Bank se converteu no maior acionista do Credit Suisse por conta de um aumento de capital feito em novembro do ano passado, feito para financiar uma forte reestruturação do banco suíço. Atualmente, os sauditas detêm 9,8% do Credit. "Se superamos os 10% de participação, uma série de novas regras entra em vigor", disse Ammar Al Khudairy, ao justificar o porquê de descartar novos aportes no banco.
Perdas financeiras
Por sua vez, o presidente do Credit Suisse, Axel Lehmann, afirmou que o banco não necessita de uma ajuda governamental. "Isso não é uma questão", disse, durante uma conferência para o setor bancário na Arábia Saudita. "Temos sólido indicadores financeiro, um balanço sólido."
Abalado por sucessivos escândalos nos últimos tempos, o Credit Suisse registrou um prejuízo líquido de US$ 7,9 bilhões em 2022. Trata-se do pior resultado registrado pelo banco desde a crise financeira global de 2008.
Os problemas mais recentes do Credit tiveram início na primavera de 2021, quando a Archegos Capital Management entrou em colapso. O Credit Suisse era um dos muitos bancos que negociavam com a Archegos, a firma de investimento privado de Bill Hwang, um antigo astro da gestão financeira. Mesmo assim, o Credit Suisse perdeu US$ 5,5 bilhões nos investimentos, muito mais do que seus rivais. O banco admitiu posteriormente que "uma falha fundamental de gestão e controles" havia ocasionado o desastre.
Para tentar se recuperar, tanto financeiramente quanto em relação à imagem, o banco elaborou um plano de reestruturação que incluía injeção de capital por parte dos acionistas, a venda de ativos e cortes de funcionários.
Preocupação do BCE com outros bancos
Autoridades do Banco Central Europeu (BCE) entraram em contato com bancos que a instituição supervisiona para questioná-los sobre sua exposição financeira ao Credit Suisse, segundo informações da Dow Jones, que cita fontes com conhecimento do assunto.
A consulta veio após a ação do Credit Suisse despencar na Bolsa de Zurique, arrastando os papéis de outros grandes bancos europeus em meio a temores de contágio financeiro. Uma porta-voz do BCE se recusou a comentar o assunto.
O Credit Suisse é classificado como instituição financeira "sistemicamente importante", segundo regras bancárias internacionais criadas após a falência do Lehman Brothers. Essa designação exige que o banco detenha quantidades maiores de capital e mantenha planos para uma liquidação ordenada de suas operações caso venha a ter problemas.
Os principais reguladores do Credit Suisse estão na Suíça, mas por contar com operações na Europa, no Reino Unido, na Ásia e nos EUA, o banco suíço também é monitorado de perto por autoridades locais. / AGÊNCIAS INTERNACIONAIS