Agência da ONU critica Bolsonaro e sai em defesa do IBGE
Presidente eleito afirmou que método de calcular desemprego no Brasil é uma 'farsa' e que precisa ser alterado
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência da ONU, saiu em defesa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diante da fala do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), desqualificando a produção de dados de desemprego no País.
Bolsonaro chamou de "farsa" os números atuais, divulgados mensalmente pelo órgão, vinculado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e fundado em 1934.
Numa série de mensagens publicadas nas redes sociais, Rafael Diez de Medina, chefe de estatísticas e diretor do Departamento de Estatísticas da OIT, saiu em apoio ao órgão brasileiro. "A OIT apoia fortemente a metodologia seguida pelo IBGE para estimar o emprego e o desemprego, seguindo padrões internacionais", escreveu o representante.
Em uma outra mensagem, ele vai além e aponta que está "extremamente preocupado sobre o futuro das estatísticas oficiais no Brasil". "O sistema internacional de estatísticas estará em alerta e pronto para reagir a esses tipos de reações na 'Era Pós Verdade'", criticou.
'O que está aí é uma farsa', disse Bolsonaro
Na segunda-feira, 5, em entrevista à Band, Bolsonaro disse que pretende mudar a forma como se calcula oficialmente o número de desempregados. "Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada no Brasil. O que está aí é uma farsa", afirmou, sem citar especificamente o IBGE, mas respondendo a uma pergunta sobre os últimos dados do instituto referentes à contínua queda do desemprego.
"Quem recebe Bolsa Família é tido como empregado, quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado, quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado. Temos que ter uma taxa não de desempregados, e sim de empregados. Não tem dificuldade para ter isso aí e mostrar a realidade para o Brasil", declarou.
Funcionários constrangidos
Entre os funcionários do IBGE, a fala causou constrangimento. A Associação de Servidores do IBGE insistiu, em nota, que "o IBGE segue padrões metodológicos internacionais em suas pesquisas, com a finalidade de que as estatísticas brasileiras sejam comparáveis às dos demais países do mundo".
"O IBGE é reconhecido nacional e internacionalmente pela qualidade do seu quadro técnico e pela credibilidade das suas informações" e que "dentre os princípios que regem seu funcionamento estão a independência política e a autonomia técnica na definição de suas metodologias".
A nota diz ainda que "a intervenção política em órgãos oficiais de estatísticas já se mostrou desastrosa para a credibilidade de instituições de pesquisa, como ocorreu recentemente na Argentina" e que "o corpo técnico do IBGE nunca foi fechado à contribuição da sociedade brasileira para o aperfeiçoamento das suas pesquisas; a própria implementação da PNAD Contínua foi resultado de discussões no âmbito do Fórum do Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares (SPID), que remontam a 2006".
A ASSIBGE destaca que "a metodologia das pesquisas não depende da vontade de qualquer governo, pois somos um órgão de Estado, a serviço da sociedade brasileira" e aproveita para pedir urgência na realização de concurso público. "Nossa missão é 'retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania'. Continuaremos a fazê-lo com a dedicação de sempre, mesmo que isso não agrade aos governantes. Os políticos passam, a credibilidade do IBGE fica!", termina a nota.