Impactos do clima na safra 2022/2023 no Rio Grande do Sul
Caso a instalação do El Niño se confirme, o cenário da próxima safra muda para o Rio Grande do Sul.
Texto produzido por Eliana Gatti, meteorologista da Climatempo
Durante três períodos úmidos consecutivos, desde a segunda metade de 2020, as águas do oceano pacífico equatorial encontraram-se mais frias do que o normal, caracterizando o fenômeno La Niña. Os impactos clássicos do fenômeno trazem mais chuva para áreas mais ao Norte do país, e menos chuva para a Região Sul. O estado gaúcho sofreu com esse impacto, resultando em redução de produtividade e um grande prejuízo aos agricultores da região.
Foto: reprodução Getty Images
Em relação à climatologia, o Rio Grande do Sul normalmente recebe volumes que variam de 200 a 500 mm durante o último trimestre do ano (outubro/novembro/dezembro), sendo as áreas mais a noroeste do estado as que normalmente registram os maiores acumulados. A chuva que ocorre nesse período é de extrema importância, uma vez que a instalação das culturas de verão no estado depende dela.
Os mapas abaixo mostram as anomalias registradas de precipitação durante o trimestre outubro/novembro/dezembro dos dois últimos anos:
Fonte: Climatempo
Em alguns pontos do estado, as anomalias registraram valores em torno de 200 milímetros a menos do que normalmente é esperado para um mês, ou seja, praticamente não houve chuva. Segundo dados do Monitor de Secas publicado em 17/03/2023, a região da fronteira oeste do estado encontra-se na categoria S3 Seca Extrema, sendo apenas uma categoria abaixo da condição mais intensa de seca.
Altas temperaturas também chamaram atenção no estado gaúcho
Além dos baixos volumes de chuva, o estado também foi bastante impactado pelas altas temperaturas. Em diversos municípios do sudoeste gaúcho, temperaturas superiores a 40°C foram registradas em vários dias, como é o caso do município de Quaraí (RS), que entre os meses de janeiro e fevereiro, registrou 08 dias em que a temperatura ultrapassou 40°C e 40 dias com temperatura acima de 35°C.
Temperatura máxima diária (°C) entre os meses de janeiro e fevereiro de 2023 no município de Quaraí-RS. Fonte: Estação INMET
Queda de produtividade
Segundo a Emater/RS, as culturas de soja e milho foram as que apresentaram maiores quedas de produtividade, sendo um acumulado de 40% para o milho e 30,52% para a soja. Já para as culturas de arroz e feijão, a produtividade caiu em média 1,82% e 7,36%, respectivamente. De qualquer forma, os impactos foram grandes quando comparados as estimativas iniciais, uma vez que em algumas áreas, o plantio nem foi realizado devido ao grande estresse hídrico.
Possível El Niño para o segundo semestre de 2023
Com o final do La Niña, entramos no Outono 2023 com condições de neutralidade. A previsão probabilística, que é um consenso entre os institutos norte Americanos IRI (Instituto de Pesquisas Internacionais da Universidade da Columbia) e CPC/NOAA (Centro de Previsões e Clima da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional), atualizada no dia 09 de março, indica que a neutralidade climática vai predominar durante o outono e início do inverno 2023. As projeções mais estendidas indicam um aumento da probabilidade para a instalação de um El Niño no segundo semestre de 2023, com 56% de chances a partir do trimestre Julho-Agosto-Setembro e acima de 60% para os meses de primavera.
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Caso a instalação do El Niño se confirme e tenhamos os impactos clássicos esperados para o fenômeno, o cenário da próxima safra muda para o Rio Grande do Sul. Em anos de El Niño, normalmente esperam-se volumes que superam a média climatológica, o que deve garantir a umidade para a instalação das culturas de verão. No entanto, sempre é valido lembrar que chuva em excesso também pode trazer prejuízos, mas com um planejamento antecipado e manejos adequados, há chances de evitar grandes perdas. Além disso, o potencial para temporais também aumenta devido a maior disponibilidade de umidade associada ao calor, por isso, é necessário ter atenção em relação aos possíveis transtornos causados pelas tempestades.
Vale ressaltar que esses impactos dependem da intensidade do El Niño e de outros sistemas meteorológicos que são responsáveis por gerar chuva na região. Por isso, manter-se atualizado em relação às condições climáticas, é essencial para um planejamento mais efetivo.