O que causou o aumento do preço da laranja no Brasil? Saiba mais
A crise no quintal do maior produtor mundial da fruta preocupa até mesmo os Estados Unidos, um dos principais consumidores da commodity brasileira
O início do mês de março trouxe consigo uma oferta ainda mais restrita de laranjas, o que impulsionou os preços para cima. Esta foi a constatação de um levantamento realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Fatores como condições climáticas desfavoráveis e a presença do greening, uma doença que tem se espalhado em pomares em todo o país, estão influenciando diretamente na produção de laranja.
Paralelamente, a crise no quintal do maior produtor mundial da fruta preocupa até mesmo os Estados Unidos, um dos principais consumidores da commodity brasileira. De acordo com dados parciais da última semana, compreendendo o período de segunda a quinta-feira, a média dos preços está em R$ 93,17 por caixa de 40,8 kg, na árvore, o que representa um aumento de 1,59% em relação ao período anterior.
Como uma das justificativas para o aumento do preço, tem-se a diminuição da safra. O Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) estima que os produtores do cinturão citrícola — que compreende São Paulo e Triângulo Mineiro e é responsável por cerca de 80% da produção nacional — colherão 307 milhões de caixas de 40,8 kg de laranja, queda de 2,2% em relação ao ano passado. Essa quantidade equivale a 12,5 milhões de toneladas.
Nos pomares de laranja, a próxima safra, que já tem 95% da produção colhida, seguirá o ritmo de baixa dos últimos quatro anos. No entanto, conforme o site Uol, o que chama a atenção de especialistas é a combinação da doença e de temperaturas atípicas, que tem feito com que os agricultores colham as frutas antes da hora, resultando em laranjas menores.
O que se sabe sobre greening?
Além disso, a doença greening ataca todas as plantas de citros e não tem cura para as que ficam doentes. Segundo o pesquisador do Fundecitrus, Renato Bassanezi, em entrevista ao Uol, as bactérias são transmitidas por um inseto chamado psilídeo, de 3 mm de comprimento, que se "instala" nas árvores e impede o crescimento saudável das frutas, que caem do pé prematuramente. No Brasil, a doença foi detectada pela primeira vez em 2004, no estado de São Paulo.
Quando a doença atinge uma laranjeira nova, ela sequer produz. Já a laranjeira adulta, perde até metade da produção. As árvores se mantêm vivas, mas sua capacidade de gerar frutas diminui significativamente. O greening é controlado a partir do plantio de mudas sadias e a eliminação de plantas doentes, pois essa doença se espalha facilmente pelos pomares, segundo o especialista.
Porém, ao contrário do que muitos pensam, o consumo de laranjas infectadas não traz problemas à saúde. Renato Bassanezi aponta que é muito provável que as frutas e os sucos vendidos nas feiras e nos supermercados tenham sido contaminados pela doença. Afinal, o greening está presente hoje em 38% dos pomares no estado de São Paulo, o maior produtor de laranja do mundo. A diferença está no sabor.
Com oferta em baixa, os produtores têm investido em laranjas de menor qualidade. O preço da laranja-pera, a mais comum no Brasil, disparou 32,58% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o IPCA. "Eles conseguem ter receita com as plantas doentes", destaca Bassanezi. E a previsão é que a fruta fique mais cara em 2024.
Clima e temperatura
A questão envolvendo mudanças climáticas é o foco principal do encarecimento da fruta. A pesquisadora do Cepea, Fernanda Geraldini, diz ao site de notícias que a falta de chuvas e as altas temperaturas na segunda metade de 2023 tiveram impacto direto na queda de produção que será finalizada este ano. O ideal é que chova para que as laranjas sejam colhidas maduras.
Um relatório recente do Departamento de Agricultura dos EUA aponta que o clima desfavorável durante a segunda floração dos pomares resultou em menor quantidade de frutos. A expectativa é que a produção brasileira de laranjas 2023/24 seja de 16,5 milhões de toneladas (-1,5%) e a de suco de laranja atinja 1,1 milhão de toneladas (-2%) na safra 2023/24. O documento não menciona as implicações do greening no país.
* Sob supervisão de Lilian Coelho
