Alfabetização digital da periferia cria novo modelo de trabalho
As competências tecnológicas precisam estar nas mãos dos jovens pretos e das famílias mais humildes
No mundo digital, não se vê cor, não se vê CEP, nem outros preconceitos relacionados à raça. Agora com o metaverso, ainda mais: pode-se ter qualquer cor, morar no lugar que sempre sonhou e viver da forma que quiser.
O mundo digital é mesmo um território cheio de oportunidades. Mas, para acessá-las, é fundamental passar por um processo de alfabetização digital.
Pensando nisso, Paraisópolis inaugurou, em junho de 2022, o G10 Tech, um polo de tecnologia com o propósito de preparar os jovens da periferia para o mercado de trabalho.
Formada por empresas e organizações de impacto social, a iniciativa pretende instruir a população de Paraisópolis na área tecnológica para que futuros profissionais recebam todo o conteúdo de especialistas atuantes e, assim, tenham uma experiência mais próxima do mercado de trabalho. Exemplo disso é o curso de desenvolvimento de sistemas, que combina fundamentos da programação com novas tecnologias, capacitando e qualificando estudantes para os desafios da economia digital. E o melhor: uma vez qualificados, os alunos serão contratados por uma das empresas parceiras.
A criação do polo de tecnologia em Paraisópolis reforça os projetos de formação de talentos nas classes C, D e E, com promoção da diversidade, a fim de favorecer o maior número de pessoas.
Essa visão de empoderar os profissionais que saem das favelas para o mundo tem feito parte da atuação do G10 Favelas, que busca induzir o aumento de cases de sucesso que inspiram mudanças e demonstram na prática que, para além dos estereótipos, a favela mostra sua potência e sua força – um verdadeiro celeiro de grandes talentos em todas as áreas do conhecimento.
Propiciar a geração de recursos a pessoas menos favorecidas ajuda a reduzir as desigualdades sociais (e, no mercado de tecnologia, isso é ainda mais forte quando se tratam de mulheres e negros).
Competências tecnológica nas mãos pretas
As competências tecnológicas precisam estar nas mãos dos jovens pretos e das famílias mais humildes. Por isso, o polo em Paraisópolis visa priorizar e capacitar de forma totalmente gratuita pessoas em vulnerabilidade social.
Acessar, fomentar e reconhecer esses talentos excluídos é um propósito de organizações como o G10 Favelas, viabilizado pela parceria com grandes empresas. Afinal, a alfabetização digital é um processo com profundo impacto social, já que as inovações permitem integrar, compartilhar conhecimento e acessar as camadas mais exigentes da sociedade.
(*) Gilson Rodrigues é presidente da organização sem fins lucrativos G10 Favelas, formada por líderes e empreendedores de impacto social das favelas. Gilson escreveu este artigo sobre o digital, a periferia e as novas relações de trabalho a convite do Projeto Unbox.