Algumas autoridades do BCE pedem revolução no banco à medida que era Draghi se aproxima do fim
Dois céticos declarados em relação à política de estímulo do Banco Central Europeu (BCE) exigiram nesta quarta-feira uma mudança radical de pensamento sobre a estratégia do BCE sob a liderança da próxima presidente do banco, Christine Lagarde.
Os presidentes dos bancos centrais da Áustria, Robert Holzmannn, e da Holanda, Klaas Knot, questionaram a meta de inflação do BCE, de pouco menos de 2%, que tem se provado ilusória por quase uma década apesar de uma política monetária extremamente frouxa do presidente Mario Draghi.
"Estou questionando fundamentalmente o paradigma", disse Holzmann ao jornal alemão de negócios Handelsblatt. "Peço uma revisão para determinar se a posição atual está correta."
Holzmann falou uma semana antes da última reunião da diretoria do BCE sob a liderança de Draghi, que durou oito anos, amplamente caracterizada pelo programa de compra de 2,6 trilhões de euros em bônus e outras medidas agressivas para aumentar a inflação e impedir que a zona do euro se apartasse.
Holzmann questionou a validade desses esforços e disse que são altas as chances de a meta de inflação poder ser mudada sob a liderança de Lagarde, que assumirá em 1º de novembro.
Falando em Nova York mais cedo, Knot disse que o BCE deve definir um intervalo em torno de sua meta de inflação e dar mais tempo para alcançá-la, de modo a deixar algum espaço de manobra ao definir a política monetária.
"Uma maneira de conseguir isso seria a introdução de um intervalo simétrico em torno da meta de inflação, que daria ao banco central tempo e flexibilidade para responder a forças que ele não pode controlar", disse Knot.
Knot e Holzmann faziam parte de um grupo composto por pouco mais de um terço dos 25 membros do Conselho do BCE que se opôs à decisão de retomar as compras de bônus na última reunião.
A divisão, sem precedentes, culminou na renúncia da representante da Alemanha no conselho do BCE, Sabine Lautenschlaeger, no final do mês passado.