Alta dos juros já impacta atividade econômica, diz ex-diretor do Banco Central
Para Fabio Kanczuk, BC pode começar a reduzir os juros em março ou maio do próximo ano
Ex-diretor do Banco Central, Fabio Kanczuk avalia que a alta de juros já impacta a atividade econômica. Nesse cenário, ele diz que Selic pode começar a ser reduzida em março ou maio do ano que vem.
Nesta quarta-feira, 26, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros em 13,75% pela segunda vez seguida. "Estou vendo a atividade um pouquinho mais fraca", diz Kanczuk, atual líder da área de macroeconomia da ASA Investments.
A seguir os principais trechos da entrevista.
Qual foi a sua leitura do comunicado do Copom?
Eu diria que não alterou minha percepção do que vai ser o futuro. Tem duas coisas que estão rolando que são indicadoras de que os juros podem cair mais rápido,
Quais são elas?
Uma delas é que a expectativa de inflação para 2023 e 2024 está mais baixa. Eu não entendo direito por qual motivo está mais baixa. Os analistas dizem que é pelo fato de que os impostos estão caindo e, quando você derruba a inflação corrente, você também derruba a inflação futura. Eu tenho de dizer que a teoria econômica diz que isso não é verdade, porque, quando você reduz o imposto, você reduz a inflação corrente, e eleva a futura. Você puxa um problema presente para um problema futuro. Mas o fato é que o Focus está derrubando essa inflação futura. Então, tem menos projeção de inflação futura.
E qual é o segundo ponto?
Estou vendo a atividade um pouquinho mais fraca. Eu esperava que ela iria estar mais forte por conta dos estímulos fiscais. Se a atividade fiscal está um pouquinho mais fraca, eu imagino que é porque a política monetária está começando a ter um efeito sobre a atividade econômica. Se isso é verdade, a gente veria a atividade do quarto trimestre sensivelmente mais fraca, o que possibilitaria a queda de juros pelo Banco Central, talvez, em março, maio. É um cenário em aberto, mas está aumento a probabilidade.
Quais são esses indícios?
A gente mistura todos os índices. Pela saída da pandemia, tem uma divergência muito grande (nos indicadores). Indústria é fraco, mas serviços é forte. Mas você sabe que indústria vai ser fraca, e o setor de serviços vai ser forte. O cara não consumiu serviços na pandemia e, agora, sai consumindo. O cara comprou bem durável durante a pandemia e, agora, não precisa comprar bem durável. Tem essa divergência. Está mais fraca essa mistura de um monte de indicadores. E foi interessante porque o Banco Central sinalizou a mesma coisa.
Como fica a projeção para o PIB, então?
Este ano o crescimento pode ser algo em torno de 2,7% e, no ano que vem, levemente negativo. Nesse cenário, o juro fecha 2023 em torno de 9%.