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Amazonas Energia entra com novo pedido na Justiça para forçar transferência para irmãos Batista

Aneel se dividiu e não aprovou plano apresentado pela Âmbar para assumir a empresa, apesar de decisão judicial ter obrigado a transferência; distribuidora alega 'descaso' e pede intervenção na agência

28 set 2024 - 12h54
(atualizado às 13h02)
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BRASÍLIA - A Amazonas Energia entrou com um novo pedido na Justiça, na noite desta sexta-feira, 27, para que seu controle acionário seja transferido para a Âmbar, empresa de energia dos irmãos Joesley e Wesley Batista. A distribuidora de eletricidade do Amazonas alega que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) agiu com "descaso" em relação a ordens judiciais determinando sua transferência e pede "medidas interventivas", além do afastamento e prisão dos diretores da agência por crime de "desobediência".

Procurada pelo Estadão neste sábado, 28, a Aneel ainda não se posicionou. A Amazonas Energia e a Âmbar também não responderam.

Em julho deste ano, a J&F, dos irmãos Batista, fez uma proposta para assumir o controle da Amazonas Energia. A iniciativa ocorreu após a Âmbar ter sido beneficiada pelo governo Lula com uma medida provisória que socorre o caixa da distribuidora do Estado e repassa o custo para a conta de luz dos consumidores brasileiros por até 15 anos. A proposta dos irmãos Batista tem um custo estimado R$ 15,8 bilhões para os consumidores, sendo que o ideal seriam R$ 8 bilhões, segundo a área técnica da Aneel.

No começo desta semana, a Justiça Federal do Amazonas obrigou a Aneel a transferir a Amazonas Energia para a Âmbar, nos termos da proposta da companhia. O prazo para a agência repassar a distribuidora para o grupo dos Batista era de 48 horas e terminou na tarde de sexta-feira, 27, às 16h45. A agência recorreu da decisão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, mas ainda não houve um novo julgamento judicial.

Âmbar afirmou que segue confiante na aprovação de nova proposta pela Aneel
Âmbar afirmou que segue confiante na aprovação de nova proposta pela Aneel
Foto: Marcelo Min/Estadão / Estadão

Na sexta-feira, 27, em reunião da diretoria do órgão, a Aneel se dividiu e não aprovou o plano apresentado pela Âmbar para assumir a distribuidora. A análise terminou em empate entre os quatro diretores da agência e foi suspensa até terça-feira, 1º.

Os diretores da Aneel Ricardo Lavorato Tili, relator do processo, e Fernando Mosna votaram pela rejeição da proposta da Âmbar e opinaram pela aprovação do plano apenas conforme as recomendações da área técnica da agência reguladora, com um custo de R$ 8 bilhões, condição com a qual a Âmbar não concorda.

O diretor-geral da agência, Sandoval Feitosa, e a diretora Agnes da Costa apresentaram um voto diferente, aceitando uma nova proposta apresentada pela Âmbar na madrugada de sexta-feira. Os dois se reuniram anteriormente com executivos da empresa e com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A nova proposta tem um custo de R$ 14 bilhões, diminuindo o encargo para o consumidor em relação ao plano original, mas ainda é R$ 6 bilhões mais caro do que o orientado pela área técnica da Aneel. A mudança envolve uma redução mais acelerada de custos ao longo do tempo, mas ainda não atende as indicações dos consultores da agência.

Segundo o relator, Ricardo Tili, a proposta dos irmãos Batista não é suficiente para resolver os problemas da distribuidora. Ele classificou a decisão da Justiça do Amazonas obrigando a transferência como ilegal por prejudicar o interesse público e violar a autonomia da Aneel. E apontou entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) em 1996 de que "ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal".

A consultoria jurídica da agência entendeu que o órgão não é obrigado a aceitar o plano exatamente como a companhia propôs, mas deve realizar a transferência nas condições com o menor custo para o consumidor, como manda a medida provisória que autorizou a venda da Amazonas Energia. Conforme o Estadão revelou, a Aneel preparava um processo de intervenção na distribuidora antes da decisão judicial.

Após o término da reunião do órgão na sexta, a Âmbar divulgou uma nota afirmando que apresentou uma nova proposta para a Aneel e que segue confiante que essa será aprovada por mais a "mais favorável" para a população. Neste sábado, a empresa não voltou a se posicionar. A Amazonas Energia também não se manifestou.

O Ministério de Minas e Energia afirmou, em nota, entender que o impasse na Aneel se dá em razão de "decisões deliberadas de diretores de descumprirem sentença proferida por juíza federal, em total afronta à lei, ao Estado Democrático de Direito e ao Poder Judiciário".

"O ministro de Minas e Minas e Energia, Alexandre Silveira, já tem alertado formalmente — por meio de ofício — e em declarações à imprensa sobre o descumprimento de políticas públicas por parte de diretores da agência, denunciando distorções no cumprimento das competências legais estabelecidas para o órgão regulador", acrescenta a nota.

Insegurança jurídica

O impasse envolvendo a Amazonas Energia pode criar insegurança jurídica no setor elétrico brasileiro e prejudicar o consumidor, na avaliação de especialistas ouvidos pelo Estadão.

"Esse caso resume bem tudo que acontece no setor elétrico ultimamente. Temos uma agência dividida, com a falta de um diretor, interferência do Executivo por meio da medida provisória e interferência do Judiciário com a decisão. Ninguém sabe como seguir nessa situação e chegamos a esse impasse", diz a advogada Sofia Barbosa, sócia de Infraestrutura e Energia do escritório Mattos Filho.

Se a Aneel não efetuar a transferência do controle, a própria Justiça pode realizar a operação, mas essa resolução ainda depende do andamento do processo. "Há motivos para a Aneel questionar a decisão, mas, por outro lado, no Estado de Direito, fica complicado ter uma agência reguladora descumprindo uma decisão judicial. O jeito certo é questionar e reverter na Justiça", afirma a especialista.

Para o advogado Rafael Marinangelo, pós-doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em Direito da Construção, Contratos de Construção e Processos Licitatórios, uma decisão judicial que não considera considerações técnicas cria uma insegurança jurídica no sentido de fragilizar o papel da Aneel.

"O melhor para o consumidor seria que os pretensos acionistas trouxessem os esclarecimentos que a Aneel pediu na nota técnica. A Aneel trouxe argumentos relevantes e mostrou algumas inconsistências que criam uma insegurança para o objetivo da proposta, que é restabelecer a equação econômica da concessão e, ao mesmo tempo, levar os serviços de distribuição de energia elétrica no Amazonas de maneira adequada", afirma.

Estadão
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