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América Latina enfrenta alta do dólar para voltar a crescer

Queda no preço das commodities e resquícios da crise financeira devem impactar a recuperação econômica da reigão

6 jan 2015 - 06h32
(atualizado às 10h19)
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América Latina busca retomar crescimento após pior desempenho desde 2008, mas queda no preço das commodities, dólar valorizado e menor demanda global são desafios
América Latina busca retomar crescimento após pior desempenho desde 2008, mas queda no preço das commodities, dólar valorizado e menor demanda global são desafios
Foto: Thinkstock

Com previsões pouco otimistas para economias mundo afora, a América Latina terá de lutar contra a corrente em 2015 para buscar crescimento econômico.

A tendência de queda no preço das commodities, o fraco dinamismo da demanda global e a valorização do dólar jogam contra ─ e colaboraram para o crescimento mais baixo da região desde 2008: apenas 1,1%.

O órgão da ONU para a região, a Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), prevê um melhor desempenho em 2015, de até 2,2%.

No entanto, a previsão, baseada em dados de 33 países da América Latina e do Caribe, esconde diferenças inevitáveis.

A mais importante é que o crescimento regional se recupere graças ao bom desempenho de economias de menor peso regional, como Panamá (7,0%), Bolívia (5,5%), Peru, República Dominicana e Nicarágua (todos com 5,0%), enquanto nações como Brasil e Argentina ─ como mais capacidade de tração que o restante ─ têm previsões mais modestas.

México e Chile, por sua vez, podem ajudar a puxar a taxa para cima, já que a previsão para ambos é de 3%.

Mas como toda previsão, ela depende de alguns fatores fundamentais. Veja os quatro principais:

Economia global

A economia mundial ainda não se recuperou da crise financeira de 2008 e de seus impactos. A opinião de órgãos públicos como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e privados, como o Goldman Sachs, é que o ano de 2015 será ligeiramente melhor do que os anteriores, mas que a economia global não recuperará o dinamismo anterior à hecatombe de 2008.

"No melhor dos cenários, estamos falando de uma Europa com um crescimento lento, mas sem deflação; de um maior dinamismo americano e de uma China com uma leve desaceleração, mas ainda assim crescendo 7% ao ano", diz à BBC Daniel Titelman, diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da Cepal.

"Mas, em um cenário mais complexo, teríamos uma crise mais profunda na zona do euro, com impacto nos Estados Unidos e na economia global e, assim, nessa região", acrescenta ele.

Em ambos os casos, a profundidade do impacto dependerá dos vínculos internacionais de cada país.

O crescimento americano é muito positivo para a América Central e para o México, enquanto a desaceleração chinesa tem um impacto maior sobre os países exportadores de matérias primas.

Já uma situação crítica da União Europeia teria um forte peso sobre todo o comércio mundial.

Matérias primas

Desde o começo do século, a região se beneficiou com a alta no valor das matérias primas, mas nos últimos anos o preço das commodities vem caindo.

Em 2013, o valor médio de produtos primários (minerais, energéticos e alimentos) sofreu uma queda de 5% e, em 2014, 10%.

"Acreditamos que o petróleo continuará com sua tendência de queda, enquanto os preços de minérios se manterão ou sofrerão uma queda muito leve, enquanto o dos alimentos terão uma ligeira melhora", afirma Titelman.

Assim, se analisarmos os países em conjunto, a América Central, que importa energia, se beneficiará, enquanto a América do Sul deve sair prejudicada.

No entanto, uma análise mais individual indica que países como Equador, Venezuela, Colômbia e México serão prejudicados em termos de exportações energéticas.

E há casos mistos, como o do Chile, que se beneficia por ser importador de petróleo, mas perde como exportador de cobre.

<p>Comandado por Janet Yellen, Fed, o Banco Central americano, deve elevar juros neste ano</p>
Comandado por Janet Yellen, Fed, o Banco Central americano, deve elevar juros neste ano
Foto: Dominick Reuter / Reuters
Turbulência financeira

O fim da política de afrouxamento monetário (Quantitative easing ou QE) nos Estados Unidos em 2014 fortaleceu o dólar e provocou uma forte desvalorização das moedas regionais.

Um dos mais afetados na América Latina foi o Brasil: o real se desvalorizou 13% em relação à divisa americana no ano passado.

E com uma eventual elevação da taxa de juros dos Estados Unidos, prevista para acontecer ainda neste ano, as moedas latino-americanas devem perder ainda mais valor, em muito devido à fuga de capital.

"Haja vista que foi uma mudança de política monetária bastante anunciada, o impacto será menor, porque os agentes econômicos estão bem preparados para o momento (elevação dos juros). Essa subida dos juros pode até ter um lado benéfico porque o câmbio desvalorizado pode ajudar as exportações desses países", assinala Titelman.

Performances diferentes

O relatório da CEPAL reúne dados de 33 países da América Latina e Caribe: em um espectro tão amplo, as diferenças são inevitáveis.

Regionalmente a América Central cresceu em 2014 3,7% e deve crescer 4,1% em 2015. Na América do Sul, as taxas são um pouco menores: 0,7% e 1,8%, respectivamente.

Na análise individual, o órgão da ONU prevê um desempenho melhor para a enorme maioria, apesar das performances diferentes.

Os problemas políticos no México, as eleições e a resolução dos problema dos fundos abutres na Argentina podem inclinar a balança em uma ou outra direção.

Em todo o caso, com um cenário mundial volátil, a Cepal aconselha a tomada de medidas alternativas.

"A região tem de promover a integração e depender menos do que acontece no resto do mundo (...). Mas também há medidas a serem adotadas a nível nacional para estimular a demanda interna e o investimento", conclui Titelman.

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