Americanas destitui seis diretores para evitar que prejudiquem apuração sobre rombo contábil
O afastamento de executivos e diretores da área financeira e contábil da companhia foi comunicada na tarde desta sexta-feira, 3
Seis executivos e diretores da área financeira e contábil da Americanas foram afastados nesta sexta-feira, 3, para evitar que a apuração sobre o rombo bilionário seja prejudicada. Em 20 de janeiro deste ano, a companhia entrou em recuperação judicial, reportando dívidas de R$ 43 bilhões, a quarta maior da história.
A medida foi comunicada durante uma reunião na tarde desta sexta, e a volta deles ou período estipulado para que fiquem fora da companhia está condicionada à apuração das investigações.
O afastamento ocorreu sobre os diretores Anna Saicali, Timotheo Barros, Marcio Cruz, Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes. Diante da situação, a empresa apontará as novas lideranças, internas e externas.
Para o gerenciamento da recuperação judicial, a varejista contratou a Alvarez&Marsal e a consultoria da Deloitte Touche Tohmatsu para assessoria contábil. Outras mudanças não estão descartadas para garantir a operação da companhia. João Guerra, vindo do RH da Americanas, segue como CEO até nova eleição em 2024.
De acordo com o comunicado divulgado ao mercado, os diretores estatutários foram afastados "de todas as suas funções e atividades na Companhia e suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do Fato Relevante publicado em 11 de janeiro de 2023 (o rombo bilionário), sem que o afastamento represente qualquer antecipação de juízo”.
De acordo com o Estadão, Carlos Alberto Sicupira e Paulo Alberto Lemann, filho de Jorge Paulo, integram o conselho de administração da Americanas. No total, são sete membros, incluindo Eduardo Garcia, Claudio Garcia, Mauro Not (independente), Sidney da Costa (independente) e Vanessa Claro Lopes (independente).
Conforme a reportagem apurou, não há dúvidas sobre o envolvimento deles no processo que desembocou na descoberta da fraude. Até pelo tempo em que permaneceram à frente da rede varejista. Eles pertencem à gestão de Miguel Gutierrez, que ficou na varejista por 30 anos (sendo 20 anos como CEO) e até agora não deu nenhuma explicação - apesar do rombo se referir aos últimos anos.
Eles já não têm mais acesso à contabilidade da empresa e nem mesmo aos e-mails corporativos desde o dia 11 de janeiro, quando a empresa publicou um fato relevante dizendo que foram identificadas “inconsistências contábeis” no balanço que somavam R$ 20 bilhões nas primeiras estimativas.
Como consequência, Sérgio Rial, ex-Santander, renunciou ao cargo, após nove dias como presidente da empresa. Junto com Rial, o diretor-financeiro Andre Covre, ex-Ultrapar e ex-Extrafarma, eleito pelo conselho em dezembro para a função, também deixou a empresa.
Rombo bilionário
A companhia informou o rombo de R$ 43 bilhões no final de janeiro. Os fornecedores da Americanas eram pagos por meio de uma triangulação com bancos, no entanto, a quitação desses valores não foram devidamente dimensionados e realizados, o que ocasionou a crise financeira.
Com a recuperação judicial, foi instalado um Comitê Independente, liderado pelo jurista e ex-diretor da CVM, Otávio Yazbek, e a contratação da Rothschild. A executiva Camille Loyo Faria foi nomeada para o cargo de nova diretora financeira (CFO).
Quando se manifestaram, o trio de acionistas bilionários da Americanas - Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles - atribuiu publicamente parcela da culpa aos bancos credores da empresa, o que agravou ainda mais a guerra de versões dos bancos com a varejista.
Eles ainda afirmaram desconhecer as “dissimulações contábeis” da varejista. Lemann, Telles e Sicupira disseram ainda lamentar as perdas sofridas por acionistas e credores e que acreditavam “firmemente que tudo estava absolutamente correto” na empresa. Os três também alegaram terem sido “alcançados por prejuízos”.
Em conversas reservadas com o Estadão, representantes de bancos credores afirmaram não acreditar na versão de que o comando da companhia não soubesse das fraudes na contabilidade. Eles apontam uma sequência de fatos recentes que, vistos de trás para frente, deixam as instituições financeiras com desconfianças em relação à versão dada pelos maiores acionistas.
Procurada, a Americanas informou o seguinte:
“Com o objetivo de contribuir plenamente com as apurações em curso pelo comitê independente e autoridades envolvidas e sem qualquer antecipação de juízo, a Americanas informa que seu Conselho de Administração decidiu na data de hoje pelo afastamento dos diretores estatutários Anna Christina Ramos Saicali, José Timotheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e os executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes de suas funções na companhia e de suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do fato relevante publicado em 11 de janeiro de 2023. Entre outras medidas implementadas e já informadas em comunicado ao mercado estão a contratação do IBPTECH, instituto de perícias forenses, e da FTI Consulting, empresa de consultoria internacional de preservação de dados, assim como da ICTS Security, empresa de consultoria especializada em segurança da informação, da consultoria global Alvarez & Marsal como PMO do processo de recuperação judicial e da Delloite Touche Tohmatsu para assessoria contábil, assim como a eleição da nova diretora financeira”.
*Com informações do Estadão